Desde quando o PT anunciou o nome do secretário estadual da Casa Civil, Rui Costa, para encabeçar a chapa majoritária que vai tentar a sucessão do governador Jaques Wagner nas eleições deste ano, que o cenário político muda a todo o momento. Antes tido como desconhecido, o nome de Rui já se propaga pelas regiões da Bahia. Isso devido à estratégia do partido em levar plenárias para o interior com a intenção de recolher demandas da sociedade dos diferentes territórios para a construção do plano de governo que será apresentado na campanha oficial.
Para Wagner, o fato de Rui ser pouco conhecido não dificulta a pré-campanha. “Ao contrário. A cada dia, evidente, que o nome é mais colocado, as pessoas que por enquanto aparecem na frente ainda são muito a lembrança dos nomes de campanhas anteriores. Eu já disse para as pessoas a minha opinião. Eu acho que a campanha começa a rodar efetivamente a 90 dias do processo eleitoral, então nós estamos falando de julho para lá, não é só porque tem Copa do Mundo aqui, é porque é assim que funciona na cabeça das pessoas”.
De acordo com Wagner, cerca de 80% a 85% da população hoje não está colocando como prioridade a escolha do próximo presidente ou governador. “Tanto que quando você faz pesquisas, nenhum candidato pontua muita coisa. Então, para mim, o ser conhecido é uma capacidade de expansão, porque à medida que você vai sendo conhecido, você pode ser escolhido”, completa.
Enquanto isso, a oposição, formada por partidos como o PMDB, DEM e PSDB, realiza ações silenciosas para elevar o nome do prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), como figura preponderante na definição de um nome para disputar com Rui Costa e Lídice da Mata a eleição, podendo até influenciar no resultado. Mas todos os prazos estabelecidos foram vencidos e ainda não se definiram os nomes que vão para a disputa em outubro.
Atualmente, o prefeito da capital é visto como a força motriz da oposição, que carrega os nomes do ex-governador Paulo Souto (DEM) e o ex-ministro federal Geddel Vieira Lima (PMDB) como possíveis candidatos, que terão o apoio do prefeito. Sem falar que tem o gestor de Feira de Santana, José Ronaldo, como um forte aliado. Neto e Ronaldo comandam as duas maiores cidades do estado, por onde passa tudo, ou quase tudo. Mas são cidades que “fazem campanha”, são cidades que possuem caminhos e recursos para eleger um governador.
Indefinição de ambos os lados
Entretanto, nem as chapas majoritárias da oposição nem a da situação estão definidas e qualquer leitura seria prematura, mas a imprensa precisa nutrir sua editoria diária de política com notícias, às vezes com informações dos bastidores, às vezes apontando sua opção ou interesses na linha editorial. E isso não é estranho para mais ninguém. Se de um lado tem para governador Rui Costa do PT e para senador Otto Alencar do PSD, do outro tem apenas o ex-prefeito de Mata de São João, João Gualberto (PSDB), como vice-governador, e Geddel e Souto disputando a preferência de Neto para a cabeça da chapa.
Até o fechamento desta edição, o nome que era cotado para assumir a vice de Rui Costa era do PP, o deputado federal João Leão. Mas o também federal Mário Negromonte e o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Marcelo Nilo (PDT), estavam no páreo, sendo bastante cotados. Poderia ser ainda uma mulher, a ex-deputada Eliana Boaventura (PP) ou a deputada Alice Portugal (PCdoB), mas a questão feminina teria sido descartada por Wagner. “Os partidos da base aliada não se entenderam e vetaram o nome de uma mulher”, teria dito o governador sobre o processo de escolha. O que se pode dizer oficialmente é que Wagner era também “cúmplice” e preferia uma mulher na vaga. A decisão da vice pode sair entre os dias 14 e 15 de março e os da oposição devem sair 15 dias depois.
Para o presidente do PT na Bahia, Everaldo Anunciação, a construção da vice de Rui Costa passa por todos os partidos aliados PSD, PCdoB, PDT, PP, PR, PRB, PSL, PTB e o Solidariedade. “Estamos honrados desses 12 partidos que já estão nessa pré-aliança, pré-campanha apoiando Rui Costa, então não seria justo o PT querer intervir e definir sozinho, deve haver uma pactuação da base aliada, a vice é uma definição prioritária entre o PP e o PDT, essa indicação tem um consenso entre nós do partido e da base aliada”. Ainda de acordo com Everaldo, surgiu a tese da presença de uma mulher e o PCdoB tem legitimidade para concorrer à vaga. “Alice [Portugal] tem uma história, mas todos nós temos uma pré-pactuação de que o vice esteja entre o PP e o PDT, a menos que esses dois partidos venham a ser convencidos de que abrem mão para um outro partido”.
Já o presidente estadual do DEM, Paulo Azi, em entrevista ao site Bahia Notícias, lembrou que outro prazo foi estabelecido pelo coordenador do processo de escolha, o prefeito ACM Neto. De acordo com Azi, “não há maior inclinação pela escolha de Paulo Souto, em detrimento do Geddel”. Ao fim do carnaval, Geddel e Souto não chegaram a um acordo e mantiveram suas candidaturas. “Com o carinho que recebi, saio ainda mais candidato”, disse o peemedebista. Seguindo a mesma linha, o democrata descartou a hipótese de compor a chapa para o Senado e afirmou que saía da folia “nem mais, nem menos” postulante. Reforçando o clima de impasse, Neto declarou que queria os dois na chapa oposicionista.
Para os observadores da cena política, o prefeito democrata possui a mesma postura que o deputado federal Mário Negromonte, que está cansado de falar sobre as definições das majoritárias. Sobre a especulação de Paulo Souto ser o seu preferido, Neto rechaça. “Tem muito disse-me-disse. Eu não faço política nem por disse-me-disse, muito menos por especulação de ninguém, nem da imprensa. Eu faço política olhando no olho, conversando com as pessoas. E nós não temos nenhuma decisão, e a decisão, quando for tomada, vai ser anunciada”, afirma o prefeito. Vale lembrar, que nem mesmo depois do carnaval a decisão foi tomada.
Sem se identificar, um deputado da base oposicionista disse que a decisão já foi tomada no primeiro prazo estabelecido (31 de janeiro) e, por Neto estar fazendo alguns ajustes ainda, não quis anunciar. “Ele quem quer anunciar, não sei quando porque está fazendo alguns ajustes, mas ele deve convocá-los [a imprensa]. Esta informação está muito restrita, poucas pessoas sabem”.
Em clima de campanha, os políticos da situação e da oposição na Bahia seguem suas articulações para uma disputa que até agora tem sido branda até demais. Para alguns petistas a disputa com Paulo Souto seria uma forma de comparar as gestões dele com as duas de Wagner. O que os petistas não contam é com a articulação de Geddel com Eduardo Campos (PSB), que tem aparecido para colocar lenha na fogueira e viabilizar um racha na oposição, para sobrar mais apoio para a senadora Lídice da Mata, ou vice-versa. Lídice é a candidata ao governo pela PSB com o apoio da REDE, que já tem a representação da ex-ministra do Superior Tribunal Federal, Eliana Calmon. Nos bastidores até uma dobradinha pode sair dessa negociação.
A utopia de uma mulher na vice
Parece que só a chapa de Lídice e Eliana terá mulher como candidata, já que a possibilidade da majoritária de Rui Costa ter a presença feminina foi praticamente descartada. Se é que foi mesmo. Cotadas para a vaga, Eliana Boaventura e Alice Portugal também comentaram sobre o assunto. “Compreendemos que é necessário que a chapa contemple no seu programa os interesses da mulher, os interesses da sociedade, a relação com o movimento social. Esse foi o espírito que o PCdoB teve ao colocar meu nome à disposição. A nossa expectativa é que, não sendo o PCdoB, seja um nome que deixe a chapa leve e representativa”.
Já Eliana disse que encara com naturalidade a possível indicação, mas ressalta que não está fazendo nenhum tipo de movimento. “Não há nenhum tipo de vaidade, nenhum tipo de tentativa de fazer campanha e nem disputa, nós estamos à disposição, eu sou um quadro do Partido Progressista, tem o companheiro Mário Negromonte, João Leão, e tantos companheiros nossos do partido”.
Para Mário Negromonte, esse debate da vice já está cansativo. “O governador deveria ter decidido lá atrás, já formatado a chapa toda, para não ficar esta especulação, que pode ter desgaste. Se o governador decidir qual é o partido, quem vai decidir o nome é o partido”. Já Marcelo Nilo, demostrando descontentamento, sendo até alvo de chacota por parte da oposição, disse que quer saber dos critérios para a escolha da vice – já que se fala que o nome será do PP. “Não tem veto a Mário Negromonte ou João Leão. Se ele [Wagner] me apresentar o critério, eu aceito. Mas não aceitarei ser preterido”, afirmou Nilo em entrevista à Rede Tudo FM 102,5.
Resta saber agora como será o clima após as decisões. Quando as chapas estiverem escolhidas, a disputa deve se acirrar e o cenário político baiano pode continuar mudando e tendo suas influências do cenário nacional, mas a certeza de uma eleição difícil para todos os lados isso ninguém pode descartar. Mas esse assunto é enredo para outra narrativa.
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Vitor Fernandes
Coordenador Editorial do JC