Por Jolival Soares*
O primeiro choque que um acadêmico de Direito toma é quando descobre que Direito e Justiça, nesta seara, nem sempre significam a mesma coisa. Lemos, nos escritos sagrados de Israel, contudo, que “Deus ama a Justiça e o Direito”. Daí, Ele requerer de nossas mãos a “balança justa, o peso justo”.
O homem, dotado de razão, é indesculpável, portanto, quando se nega, revelado pela verdade, a segui-la, guiado pela mesma razão que lhe ilumina a mente. Propomos aqui, por estes parâmetros de “verdade e razão – justiça e direito”, usá-los como um prumo para analisar o agir político de alguns homens públicos de Ipirá. Antes, porém, queremos lembrar que a política, quando exercida pela vontade de servir, é a mais nobre de todas as atividades humanas, porquanto lida com a complexidade da vida. Mas, quando exercida por profissão, é a mais vil de todas.
Neusa Cadore costuma nos dizer que “política é cuidar da vida” e, baseado neste princípio, ela já escreveu um belíssimo capítulo na história política de Pintadas, Bahia e Brasil, com sua extensa “rede de proteção social” que cobre e permeia todo o tecido social, urbano e rural, daquele município. E muitas de suas ações inspiram governos e políticas públicas. Note-se que a mesma foi prefeita, fez sucessor e vem se reelegendo deputada estadual. Já, em Ipirá, me dizem amigos e cidadãos, que há igualmente deputado que, se levarmos todos os microscópios do nosso laboratório, ainda assim teremos muita dificuldade em encontrar suas obras. De igual forma, um médico carismático, conversa mansa, educado, bom de prosa, que, durante as campanhas políticas – nas suas andanças pelos povoados humildes – entra nas casas que lhe acolhem, senta-se em simples tamboretes e passa a dar receitas de felicidades a todos.
Tenho um primo carnal, no distrito de Umburanas, que o tal lhe visita com regularidade nas épocas de campanhas políticas, que se alimenta na sua casa e cumprimenta a todos gentilmente. Contudo, veio sua esposa a contrair um Ca (câncer) de ovário e, durante seus quatro anos de enfermidade, não recebeu deste médico nem um telefonema sequer; visita, então, nem se fala! Veio sua esposa a óbito e este notável médico-político, mais político do que médico, jamais lhe fez uma visita ou mesmo um simples telefonema. Ou seja, em vez da “medicina de Hipócrates”, a medicina hipócrita, “meio e não fim”. Meio de manipulação espúria e vil – já que visa vantagens pessoais e jamais o bem que se faz ao outro (alteridade) – através das competências e habilidades que esta nobre profissão lhe proporciona.
Eu disse, a este primo, que a família Alves, de origem judia, veio se esconder em fazendas de Umburanas, Malhados e Rio do Peixe, fugindo da perseguição antissemítica de Getúlio Vargas e do seu Estado Novo, cujo remanescente ainda vive no bairro Acupe de Brotas, em Salvador, deu à Bahia “um governador, o Dr. Landulfo Alves”. O mesmo que, neste período, vinha, de Salvador até estes povoados, visitar seus familiares, no meio da noite, e quase ninguém em Ipirá sabia. Este fato aqui narrado encontra-se documentado e à disposição de todos na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro ou, aqui mais próximo, no Instituto Brasileiro de História e Geografia, na Piedade, em Salvador, nossa Capital.
Com este passado honroso, esta família se afasta destas práticas políticas que condenamos e deve se preparar para entregar a Ipirá líderes empresariais, vereadores e prefeitos que tenham o efetivo desejo de servir!
Ad mejora natus sum. (Nascemos para coisas maiores).
*Jolival Soares: Bioquímico, Mestrando em Bioética – UMSA, Bacharelando em Direito – FAT e Professor de Bioética.