“No meu assentamento não temos acesso a nada, nem luz, nem água. Meu sonho é sair daqui com alguma coisa certa para melhorar minha vida”. Este relato é do agricultor Maurício Souza, 57 anos, um dos três mil trabalhadores Sem-Terra que estão acampados em frente ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), após três dias de marcha até a chegada a Salvador. O grupo deixou um ginásio de esportes em Lauro de Freitas, na região metropolitana da capital baiana, na manhã desta quinta-feira (8), e saiu em caminhada até a sede do Incra. Eles pedem reunião com o governo estadual para discutir a pauta de reivindicações, que teria sido entregue na segunda (5). Através de nota, o Incra informou que uma rodada de negociações, com base na pauta enviada pelo movimento social, será discutida no início da tarde desta quinta. Segundo o órgão, as “linhas que norteiam as demandas são o acesso a terra e infraestrutura para os assentamentos existentes”.
O trabalhador Maurício Souza conta que vive há 14 anos com a esposa no assentamento 1ª do Abril, situado na Chapada Diamantina, e que nunca teve acesso a água encanada. “Até passa água por baixo da terra, mas nós tivemos que colocar um motor para puxar. Fica difícil até para plantar, já que tem a seca”, afirma. Para se manter, ele conta que tem de procurar emprego em cidades próximas e acaba “aceitando o que vier”. “Faço o que acho na cidade, geralmente algum trabalho como agricultor. Tem que arranjar um jeito para comprar as coisas de casa”.
Além das dificuldades provocadas pela falta de água e luz, os trabalhadores cobram melhorias na estrutura dos assentamentos, como a construção de escolas e postos de saúde. “No meu até tem escola, mas é de barro e só tem um professor para todo mundo”, conta uma moradora do assentamento Guaita, em Jaguarari, que prefere não se identificar. “Já no meu assentamento não tem posto de saúde e, quando acontece alguma coisa, a gente tem que fazer ‘vaquinha’ e arranjar um carro para levar na cidade”, relata uma moradora do assentamento Nazaré, na região da cidade de Itabela, sul da Bahia, que também quis ocultar a identidade.
Caminhada
Os integrantes do MST ocuparam uma parte da via e deixaram o trânsito lento na BA-099, no sentido capital baiana. O grupo já havia realizado caminhadas na terça-feira (6) e na quarta-feira (7). Na terça-feira, o deputado Valmir Assunção, líder do MST na Bahia, informou que entre as reivindicações da marcha está a apuração do assassinato de Fábio Santos, dirigente morto em 2 de abril de 2013, na cidade de Iguaí. Extraído na íntegra do Portal G1.