A desembargadora Sara Brito, do Tribunal de Justiça da Bahia, e os jornalistas Nelson Cerqueira e Oldack Miranda vão depor na Comissão Estadual da Verdade – Bahia na próxima terça-feira (29), em audiência aberta ao público, na sede do órgão, que funciona anexo ao Palácio da Aclamação, no Campo Grande, em Salvador. Os dois primeiros falarão a partir das 9h e o outro às 14h. A CEV-BA, criada em dezembro de 2012, por meio do decreto estadual 14.227, já ouviu 44 pessoas vítimas do regime militar, em Salvador e Feira de Santana, e recebeu cerca de 600 documentos que comprovam violações aos direitos humanos.
Uma das mais atuantes líderes femininas do movimento estudantil, Sara Brito, filiada ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), foi presa inúmeras vezes e em 1968, no último ano do curso, teve sua matrícula cassada e foi expulsa da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia (Ufba). Ela conseguiu concluir o bacharelado em 1969 na Faculdade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, onde foi presa, trazida para Salvador e encarcerada na antiga Casa de Detenção do Largo de Santo Antônio, onde ficou quase três anos.
Ingressou na magistratura em abril de 1981 e foi nomeada desembargadora, pelo critério de merecimento, em março de 2007. De março de 2012 a 2014 exerceu a presidência do Tribunal Regional Eleitoral da Bahia. Ela é viúva do advogado Pedro Milton de Brito, de trajetória histórica na resistência política e na justiça da Bahia.
O escritor e jornalista Nelson Cerqueira trabalhava como plantonista no Jornal da Bahia, na madrugada de 1º de abril de 1964, quando foi surpreendido pela invasão de tropa do Exército na redação e oficinas do matutino. Segundo ele, esse jornal foi o primeiro, em todo o país, a sofrer censura do regime militar. Na manhã do mesmo dia, o JBa foi para as bancas com o espaço da manchete em branco e com claros, onde deveria haver texto de notícia. Ele é também poeta e doutor pela Indiana University (EUA).
Clandestinidade
O jornalista Oldack Miranda, militante do movimento Ação Popular (AP) entrou para a clandestinidade após ser procurado pela repressão. No Vale do Jaíba, norte de Minas, trabalhou durante oito meses, organizando posseiros. Em 1969, foi deslocado para a mata do Vale do Pindaré Mirim, no Maranhão, onde ficou até 1971, com o objetivo de organizar camponeses em sindicatos rurais. Retornou a Salvador em setembro de 1971, voltando a conviver com a família.
O jornalista foi condenado a revelia, em Juiz de Fora (MG), a seis meses de reclusão, no dia 28 de abril de 1972, após inquérito policial militar (IPM) instaurado em Belo Horizonte , junto com a companheira Solange Soares Nobre. Ele cumpriu a pena, após se apresentar, na Penitenciária de Linhares, em Juiz de Fora (MG).
Já em liberdade, decidiu morar em Salvador e, em outubro de 1973, foi preso por hospedar um militante da Ação Popular clandestino., tendo sido levado para o Forte do Barbalho e depois para a sede do DOI-CODI em Recife, permanecendo sob tortura durante quatro meses. Seu hóspede, José Carlos da Mata Machado, foi preso e assassinado sob tortura. Oldack Miranda foi julgado e absolvido.
Direitos humanos
Vinculada ao gabinete do governador, a Comissão Estadual da Verdade -Bahia tem o objetivo de apurar e esclarecer violações aos direitos humanos cometidas por agentes públicos entre os anos de 1946 e 1988, principalmente as violações ocorridas durante a ditadura militar, de 1964 a 1985.
No momento, a CEV-BA prepara o primeiro relatório oficial para ser divulgado a 10 de dezembro deste ano, no Dia Mundial dos Direitos Humanos. A comissão, coordenada pelo advogado Jackson Azevedo, é formada ainda pelo sociólogo Joviniano Neto, a professora Amabília Almeida, os jornalistas Walter Pinheiro e Carlos Navarro, a pró-reitora da Ufba, Dulce Aquino, e a advogada Vera Leonelli.