A iniciação do Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) da comunidade quilombola Tapera Melão, que fica em Irará, município localizado a 137 quilômetros de Salvador, revela que a região foi formada a partir de uma história de amor entre um homem branco e uma ex-escrava. Flávio Assiz, que é analista em reforma e desenvolvimento agrário do Serviço de Regularização de Territórios Quilombolas, setor integrado do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), conta que a história começou a ser detalhada no final de agosto. Técnicos da instituição foram ao local a fim de atender a uma solicitação de abertura de processo de regularização fundiária, que foi solicitada pelos moradores em 2013.
Segundo Flávio Assiz, anexo ao pedido feito pelos membros da comunidade quilombola constava um trabalho de dissertação de mestrado elaborado pela estudante da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Janeide Bispo. A pesquisa foi feita em 2008 e já antecipava a história de amor. Tudo começou no século XVIII. “Eles contam que o dono de uma fazenda [onde está o quilombo], chamado Costa Melão, tinha muitos ex-escravos. Um dos afilhados deles, Zezé Martins, se apaixonou por uma delas”, detalhou com base nos relatos obtidos na região.
Ex-seminarista, Zezé Martins recebeu o terreno do padrinho como doação e viveu no local com mulher e com os filhos que tiveram juntos.
“Ele tinha ideais abolicionistas. Era conhecido, inclusive, por abrigar escravos e ex-escravos, que o tinham como um homem bom”, contou Flávio Assiz. Antes de morrer, Zezé Martins teria deixado, em testamento, a área para os ex-escravos, mas essa documentação não foi encontrada. Segundo a dissertação de Janeide Bispo, que baseia parte do trabalho do Incra, com o passar dos anos, passaram a ocorrer grilagens por fazendeiros que adentravam nas terras da comunidade. As famílias também enfrentaram períodos de fome e de necessidade, que teria obrigado a venda de trechos da localidade.
Atualmente, os remanescentes de quilombo da comunidade ou são descendentes de Zezé Martins ou de outros ex-escravos a quem ele deu abrigo. Assiz frisa que as famílias são esforçadas e possuem roças produtivas, por isso solicitam a devida regularização fundiária. Do Portal G1.