A diferença entre a petista Dilma Rousseff, reeleita, e o tucano Aécio Neves foi de apenas 3,26 pontos percentuais, o resultado mais apertado já visto na disputa pela Presidência do Brasil. A última vez que uma eleição foi tão apertada quanto esta ocorreu há 25 anos, quando Fernando Collor de Mello derrotou Luiz Inácio Lula da Silva por 53% a 47%, uma diferença de apenas seis pontos. Antes disso, um pleito só havia sido tão apertado em 1955, na eleição de Juscelino Kubitschek. O presidente que entrou para a história por ter construído Brasília venceu com vantagem de 5,41 pontos percentuais sobre Juarez Távora. Na ocasião, JK conseguiu 35,68% dos votos, e o segundo colocado, 30,27%. Na época não havia segundo turno.Outra façanha do mineiro Aécio Neves foi obter a maior votação que um político do PSDB já registrou em uma eleição presidencial em São Paulo.
Mais de 15 milhões de eleitores paulistas votaram no senador mineiro: 64,3% dos votos válidos do 2º turno presidencial. Foi quase o dobro da quantidade de eleitores que a presidente Dilma Rousseff (PT) recebeu no estado: 8,5 milhões, ou 35,7% do total. A diferença de votos entre Aécio e Dilma, em números absolutos, foi de 6,8 milhões – o que não foi o suficiente para reverter a dianteira de 10,3 milhões de votos que a candidata reeleita conseguiu no resto do país.
Antes dessa eleição, o melhor resultado de um candidato tucano à Presidência em São Paulo havia sido de Fernando Henrique Cardoso ao ser reeleito em 1998, quando recebeu 59,9% dos votos válidos já no 1º turno – não houve 2º turno. A única vitória do PT no território do maior eleitorado do Brasil havia sido em 2002. Naquela ocasião, 55,4% dos votos do estado no 2º turno foram para o petista Luiz Inácio Lula da Silva. De lá para cá, a rejeição dos paulistas ao PT nas urnas só vem crescendo. Em 2006, Geraldo Alckmin (PSDB) ganhou 52,3% dos votos na disputa presidencial contra Lula no 2º turno. E, em 2010, José Serra (PSDB) recebeu apoio de 54% dos eleitores.
Nordeste e Minas
Na largada para o segundo turno, Aécio Neves e os estrategistas da campanha tucana consideravam fundamental para a vitória aumentar a vantagem em São Paulo, reduzir no Nordeste, contando com o apoio da família de Eduardo Campos e Marina Silva em Pernambuco, e virar o jogo em Minas Gerais, onde ficara atrás de Dilma Rousseff. Só a primeira meta foi alcançada. Nos 15 estados em que a presidente venceu no 2º turno, um dos resultados mais significativos foi o de Minas Gerais, onde derrotou Aécio novamente: 52,4% a 47,6%.
Outro desempenho decisivo para a reeleição foi o de Pernambuco. Lá, a família e a máquina política do ex-governador Eduardo Campos (PSB), morto em acidente aéreo em agosto, se mobilizaram a favor de Aécio. Mas o apoio não rendeu os frutos esperados pelo PSDB. Lá, Dilma venceu por 70% a 30% – quase dois milhões de votos de vantagem – e a votação do tucano ficou próxima de sua média no Nordeste. No total, a presidente conquistou mais quatro anos de mandato com 54,2 milhões de votos – 51,6% dos válidos. Com 48,4%, Aécio obteve o melhor resultado para um candidato do PSDB desde 1998.
Regiões
No Nordeste, a vantagem da petista em relação ao adversário foi de 12 milhões de votos. Do eleitorado da petista, 37% vieram da região. Lá, o placar foi de 71% a 29%. A maior diferença foi no Maranhão, onde conseguiu 78,7% dos votos válidos. No Piauí, onde obteve seu segundo melhor resultado, alcançou 78,3%. Dilma venceu em 1.756 dos 1.777 municípios da região com apuração concluída até as 21h de ontem. Em 716 municípios nordestinos, a petista ganhou com mais de 80% dos votos.
Tamanha liderança da petista na região compensou o desempenho inferior de Dilma nas três regiões vencidas por Aécio. Nos quatro estados do Sudeste, área que reúne 43,2% do eleitorado nacional, o tucano ganhou da petista. Sua vitória, porém, foi com uma dianteira menor: 56,2% a 43,8%. Resultados parecidos a favor de Aécio ocorreram no Sul e no Centro-oeste. No Norte, Dilma ganhou por 56,8% a 43,2%.
Dilma ganhou de Aécio em 15 estados. Já Aécio teve mais votos que Dilma em 11 estados e no Distrito Federal. A maior derrota de Dilma foi em Santa Catarina, onde o tucano teve 64,6% dos votos. Em São Paulo, o estado com o maior número de eleitores inscritos (22% do total nacional), Aécio ganhou de Dilma por 64,3% a 35,7%.A presidente também ficou à frente na Região Norte, com 56% a 44%. Já o tucano venceu no Sudeste (57% a 43%), Centro-Oeste (58% a 42%) e Sul (60% a 40%).
A distribuição geográfica dos votos de Dilma espelha as desigualdades sociais do país. A última pesquisa Ibope antes da eleição mostrava que a petista só liderava isoladamente nas faixas com rendimento familiar de até dois salários mínimos. As regiões em que a presidente venceu são as que concentram fatias maiores de população de baixa renda, as mais beneficiadas por políticas como a do aumento real do salário mínimo e por programas sociais como o Bolsa Família.
Em São Paulo, o tucano ganhou por 64,3% a 35,7%, um desempenho superior ao obtido pelo candidato do PSDB a presidente há quatro anos, José Serra. Na época, também contra Dilma, Serra venceu o 2º turno no estado por 54% a 46%. Na Bahia, quarto maior colégio eleitoral, não houve surpresas: vitória da candidata petista por larga margem (70% a 30%). No Rio Grande do Sul, o vitorioso foi Aécio, por 53,5% a 46,5%.
Queda
Em comparação com o 2º turno da eleição presidencial de 2010, quando venceu pela primeira vez, a presidente Dilma Rousseff piorou seu desempenho em 15 estados e no Distrito Federal. Nos demais 11 estados, ela teve votação percentual superior à registrada há quatro anos. Os maiores avanços ocorreram em Sergipe e no Acre, onde a votação da presidente aumentou 25%. Logo a seguir aparecem Roraima (24%) e Rio Grande do Norte (18%). Todos nas regiões Norte e Nordeste. No outro extremo, as maiores quedas proporcionais ocorreram em Distrito Federal (-28%), São Paulo (-22%), Amazonas (-20%) e Santa Catarina (-18%).
No Nordeste, maior reduto da petista, ela conseguiu melhorar seu desempenho em seis dos nove estados da região. Além de Sergipe e Rio Grande do Norte, houve aumento expressivo de sua parcela de votação em Alagoas (16%) e no Piauí (12%). Onde houve piora, a queda foi pequena: 1% ou menos na Bahia, no Ceará e no Maranhão, e 7% em Pernambuco. No Sudeste, região que concentra 44% do eleitorado, Dilma teve desempenho inferior nos três principais estados: além de São Paulo, Minas Gerais (-10%) e Rio de Janeiro (-9%). Dilma ganhou, sobretudo, nos municípios menores. A candidata petista teve mais votos que seu adversário em 2.517 das 3.880 cidades com até 15 mil habitantes. Extraído do Correio 24h.