A ressaca eleitoral ainda não teria passado e outra disputa toma conta da agenda dos deputados na Assembleia Legislativa. Após o recado do governador eleito, Rui Costa (PT), em entrevista coletiva, de que não irá interferir no processo que deve ser costurado, internamente no seio do Legislativo, os parlamentares que se colocam para o pleito buscam ainda mais, as suas próprias estratégias a fim de conquistarem a tão cobiçada cadeira. Se o atual presidente da Casa, Marcelo Nilo (PDT), corria sozinho nos bastidores para alcançar o quinto mandato agora terá mais trabalho para consolidar possíveis alianças. A chegada do deputado Alan Sanches, que teria o aval do atual vice-governador e senador eleito, Otto Alencar, com forte potencial de negociação pode afastar o pedetista de uma situação de conforto, conforme avaliações de bastidores.
Os deputados têm até o início de fevereiro para sentarem-se à mesa e definirem se vão para o bate-chapa ou buscarão um acordo. Nilo minimizou o fato de que mais deputados se lançaram como possíveis postulantes ao cargo. “Quanto mais candidatos melhor. Isso é salutar”, disse. Ele também demonstrou que viu com naturalidade a declaração de Rui. “Isso é normal de um governador democrático. Claro que o seu apoio é importante e ele deve dar uma opinião em reservado”, contemporizou, num sinal de que essa pode ser a sua chance.
Nos corredores da Casa, fala-se que a presidência novamente em poder de Nilo seria um compromisso fechado pelo petista, durante a pré-campanha, quando o pedetista teve o nome negado para a vice na chapa, mas a questão foi desconsiderada essa semana publicamente por Rui. Diante da suposta negativa, a condição para sentar-se novamente na cadeira pode ser costurada, segundo Nilo. Ele reiterou a justificativa de independência pregada por Rui e frisou: “Só serei candidato se for por consenso. Disputar eu não vou”, disse, contando que conseguiu 25 assinaturas a seu favor, inclusive de deputados que ainda vão tomar posse para a Casa.
Há rumores de que pelo bom relacionamento e promessas de abrigo, o atual dirigente teria o apoio da oposição. Ele mesmo já exaltou que nutre amizades com alguns oposicionistas em maior grau, quando comparado a alguns governistas. Nilo quer mostrar mais uma vez que o apoio principal ele tem, sendo o seu nome viabilizado pelos próprios colegas. Ainda que o governador eleito rejeite trabalhar por um nome, consta que a negociação é colocada de forma clara, desde o início das gestões de Wagner, como mais uma fatia do bolo a contemplar os partidos aliados.
O pedetista disse que a liberdade obtida hoje pelo Poder é uma das questões que se orgulha. “Diferente do passado oposição aqui agora tem peso. Não passa nada sem passar antes pelos líderes da oposição”, afirmou, como uma das armas prováveis do jogo. Integrante do segundo maior partido da Casa, Alan disse também que vai buscar a maioria. “Pelo relacionamento criado com os colegas nesta legislatura buscarei consenso”. O líder do governo na Assembleia, Zé Neto (PT), colocado como um dos possíveis nomes, disse que ainda não é hora de conversar sobre o assunto.
Já o líder da bancada petista na Assembleia Legislativa, Rosemberg Pinto (PT), confirma o argumento de Rui e frisa que está em rodada de conversas para tentar viabilizar uma candidatura que dê alternância. Ele frisa que não precisa ser necessariamente a dele, mas a de outro deputado do próprio PT ou da base como o pessedista Alan. “Sempre defendi que não houvesse mais reeleição ininterrupta, inclusive apresentei uma PEC sobre isso”, frisou, informando que terá uma reunião com a bancada do PT na próxima terça-feira. Rosemberg afirmou que já dialogou sobre o tema com Wagner e Rui e que o deixaram a vontade, sob o argumento de que a Casa deve decidir. Segundo justificou “não é nada contra Marcelo Nilo”, mas sim sobre a importância desse “conceito de alternância”.
Uma mulher
Na história da Casa não houve presidente mulher e estaria no momento de haver uma transformação. Essa é a mensagem da deputada estadual Luiza Maia (PT) que tenta se articular para se colocar no pleito. Segundo ela, o assunto não vai passar batido, mas deve ser discutido em reunião com a bancada feminina do Parlamento.
“As mulheres estão em todos os espaços de poder, mas nossa representação ainda é muito pequena. A eleição de Dilma Rousseff, primeira presidenta do Brasil, foi um grande marco na luta feminina pela igualdade, agora queremos trazer essa mudança para o parlamento baiano. Em mais de um século de existência, a Alba sempre foi presidida por homens. Vamos nos reunir, decidir em consenso o melhor nome e partir para a disputa. Esperamos também sensibilizar os nossos colegas deputados para apoiarem a eleição de uma mulher”, declarou Luiza Maia.
Sargento Isidório, que ganhou fama com as inovações no estilo de fazer campanha e as atitudes inusitadas em plenário também prossegue na ideia de disputar. “Eu tenho impressão de que terei o apoio de Marcelo Nilo ou do governador Rui Costa. A sociedade não quer mais essa continuação. Não contra Marcelo que as pessoas se levantam, mas contra a permanência. Consegui falar com mais de 20 deputados”.
Isidório disse que pretende fazer uma administração democrática, “ouvindo os funcionários da Casa” e com equilíbrio nos gastos dos deputados. “Não posso dizer que deputado tem que ser Deus, mas também não pode ser mendigo. Tem que ter estrutura, porque a maioria é procurada na rua para ajudar, muitos têm o coração mole e ficam sem nada nas mãos”, disse, destacando que uma das ideias, entretanto para conter gastos é ampliar o intervalo da troca de carros. Extraído na íntegra da Tribuna da Bahia.