Por Luiz Carlos Suíca*
A data de 20 de novembro é quando celebramos a Consciência Negra, mas não sei muito bem o que se pode comemorar em uma cidade como Salvador, onde a desigualdade social ainda é muito grande e evidente em todos os locais que se vai. Na última semana, foi registrado um elevado número de negros desempregados, sem falar nos que foram assassinados e vítimas de racismo. É preciso lembrar que esta data foi instituída no dia da morte do maior líder negro da nossa história: Zumbi, um defensor do maior e mais conhecido quilombo de resistência à escravidão, o Quilombo dos Palmares. E é com os conceitos de quilombos, e com a ideia de nunca se submeter ao domínio de quem quer que seja, que continuamos lutando, seja no dia 20 ou nos demais dias de nossas vidas.
Entretanto, o que questiono agora é a discussão sobre as condições e qualidade de vida da população negra de Salvador, capital conhecida como a cidade mais negra do país. Essa população negra vive, em sua maioria, nas periferias, sofrendo com preconceitos sociais e desigualdades cruéis. Vive em condições precárias de moradia, de saúde e sem saneamento básico. É essa mesma população que luta por uma educação de qualidade nas escolas públicas e que sofre com a falta de compromisso do poder público.
Sou oriundo do bairro de Pernambués, considerado como um dos bairros mais negro de Salvador, e a comunidade cresceu e se desenvolveu, mas ainda sofre com todas essas carências citadas. Porém, antes nossa comunidade estampava as páginas dos jornais apenas pela violência, já hoje exibe na mídia ações sociais e de desenvolvimento, mas ainda temos muito para fazer e isso tem de ser passado para o dia-a-dia de todos, para se tornar uma rotina. O combate ao racismo, por exemplo, tem de ser cotidianamente, não ceder um só minuto.
Outro ponto delicado deste debate envolvendo o povo negro é a questão do extermínio da população jovem negra, que se apresenta como um ponto sem solução. Não posso aceitar essa sensação de que a impunidade vai crescer e impulsionar mais violência. Na semana passada saiu um estudo onde Salvador aparece como a 13ª cidade mais violenta do mundo. Casos como o do garoto Joel, de 10 anos, morto com um tiro após ação da Polícia Militar no Nordeste de Amaralina; ou o recente caso do garoto Davi Fiúza, de 16 anos, que desapareceu após uma abordagem policial na região do Parque São Cristóvão onde morava, expõem essa fragilidade do sistema para a qual não podemos fechar os olhos.
20 de Novembro é o dia de Zumbi, é dia de luta! Precisamos criticar o sistema sim, mas para propor mudanças, é preciso revitalizar as forças para garantir a vida em uma sociedade com menos desigualdades, com mais atenção do poder público. Vamos lutar por valorização da mulher negra, que é a que menos ganha no mercado de trabalho; menos até do que os homens negros – e que todos os negros tenham oportunidades nesta cidade.
*Suíca é vereador em Salvador do Partido dos Trabalhadores