A Bahia é o estado onde mais se consome bebida alcoólica no Nordeste, é o que revelou a primeira edição da Pesquisa Nacional de Saúde, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em parceria com o Ministério da Saúde (MS). O estudo apontou ainda que 19,02% dos entrevistados com mais de 18 anos assumiram beber algum tipo de álcool, ao menos, quatro vezes por semana. O Instituto não contabilizou as cidades do interior, por isso a pesquisa é concentrada nas capitais e regiões metropolitanas.
Para o professor e sociólogo Joviniano Carvalho, três fatores influenciam diretamente para que o estado lidere o ranking regional de maior consumo de bebida alcoólica, principalmente por jovens. “Primeiro, temos todo um discurso propagado e reforçado de que a Bahia é a terra da alegria, associando a festa e consumo de álcool. Outra questão é a quantidade de festas populares que existem, incluindo o Carnaval, que é a maior delas. Mas, o terceiro e principal fator são os poucos espaços que encontramos em Salvador de socialização e diversão. A maioria são bares, ou seja, os grandes locais de encontros na cidade são os bares e boates famosas. O que temos de lugar público são as praias, que geralmente são associadas ao consumo de cerveja, até mesmo pelo clima tropical”, pontuou.
Conforme o professor, os jovens começam cada vez mais cedo a se tornarem mulheres e homens, e ter atitude de adultos. “Até a puberdade inicia cada vez mais cedo, a vida sexual também, essas são características biológicas e culturais da juventude. Além disso, tem a questão da auto-afirmação, ter mais tempo livre”, ressaltou. Para ele, o consumo de bebida alcoólica contribui significativamente para a violência. “Os papéis que a sociedade dá ao jovem levam eles a serem os maiores atores e vítimas da violência. Se analisarmos os acidentes de trânsito, as brigas, tudo está em sua maioria, associado à bebida. Os jovens são os que mais bebem, e os que mais morrem nesse país”, disse.
De acordo com Carvalho, o álcool se torna muito mais um rito de socialização do que válvula de escape. “É parte de um rito de socialização e afirmação pessoal, já que raramente as pessoas bebem sozinhas”, pontuou. Para ele, a tendência é que esse cenário permaneça. “Precisamos rediscutir nossa cultura, pois se não houver uma atuação concreta incentivando a atitudes mais sadias, como prática de esporte e ações de solidariedade, o cenário não vai mudar. Se continuarmos com o individualismo e o prazer imediato operando, a tendência é só piorar o cenário”, afirmou.
A médica gastroenterologista Márcia Sacramento afirmou que consumir bebida alcoólica pode afetar o fígado, aumentar o peso e a gordura no órgão, além de causar o risco da dependência física. “O consumo exagerado de bebida alcoólica pode trazer prejuízo ao fígado, alterar o metabolismo hepático, referente às funções do fígado, e, a depender da frequência, levar a um quadro de cirrose”, pontuou.
Ela explica que se persistir o hábito da bebida, pode levar a uma inflamação no órgão, que é a esteatose hepática, ou seja, acúmulo de gordura nas células. A médica ressalta também que alguns sintomas podem aparecer momentaneamente, como o famoso ‘pileque’. “Quando o indivíduo consome exageradamente bebida alcoólica, pode apresentar uma gastrite hemorrágica, em função do excesso de álcool, com sangramento e vômito”, explica. Outro fator prejudicial pontuado por Sacramento é o risco de uma futura dependência química. Extraído do site da Tribuna da Bahia.