Por Raul Monteiro*
Não espanta que já tenha começado o período de fofocas envolvendo o governador Rui Costa e seu antecessor e apoiador, Jaques Wagner, hoje ministro da Defesa. A mais recente delas dá conta de que Wagner andaria um pouco surpreso com o que seus amigos chamam de tom “posudo” do sucessor, o que, na prática, seria uma maneira leve de criticar a autossuficiência que o governador e sua equipe de auxiliares mais próximos passaram a exibir. Onde acabam os fatos e começa a intriga ninguém sabe ao certo. Na verdade, só o tempo dirá, a partir da maneira como os dois passarão a se relacionar nos, como tudo indica, turbulentos tempos vindouros.
Um detalhe já é possível perceber, entretanto, neste primeiro mês de governo Rui Costa. Apesar de compartilharem uma base ideológica, política e eleitoral comum, o atual governador é diferente do passado. O que pode ser notado na montagem do governo, no rompimento nos primeiros dias de administração com um parceiro de longa data como o PDT e na atração de um partido que se encontrava na oposição como o PTN, ficou ainda mais evidente na semana passada com o saldo de um confronto entre a Polícia Militar e bandidos num bairro periférico da capital que culminou na morte de 13 supostos criminosos.
Em oito anos de governo Jaques Wagner, não se tem notícia de que a PM tenha tido performance tão violenta numa operação de rua. Talvez exatamente por isso, o ex-governador não tenha tido a oportunidade de, no período, ir a público defender com veemência a atuação policial como fez esta semana Rui Costa, que se utilizou até de metáforas para justificar a ação da PM. Quem o ouviu comentar o episódio ficou convencido de que os policiais foram afrontosamente surpreendidos e não tiveram outra alternativa senão partir para o ataque.
Se as entrelinhas das declarações de Rui Costa contêm também significado, pelo visto, o baiano verá, sob a sua gestão, uma polícia muito mais firme do que pôde presenciar no governo anterior, acusado muitas vezes de leniência com a violência por motivos supostamente ideológicos que podem ter ampliado a insegurança no Estado. Ninguém esqueça da irritação que gerou no governador o “toque de recolher” decretado pela bandidagem no bairro de Mata Escura há cerca de 15 dias. Na oportunidade, ele aproveitou uma coletiva para informar que pedira rigor ao secretário de Segurança Pública, Maurício Barbosa, que parece ter entendido o recado.
Não deve ter sido por acaso que um dos primeiros a reagir no PT às mortes da semana passada tenha sido o deputado federal Valmir Assunção, maior expressão de uma das tendências petistas que estão mais bem aquinhoadas no atual governo. Sem dúvida, procurou delimitar o que deve ser a postura contra a violência num governo do partido. Acontece que Rui não parece interessado em seguir nenhum script pré-estabelecido pelo PT ou suas correntes. Por este motivo, já está até, surpreendentemente, sendo elogiado por oposicionistas aguerridos como José Carlos Aleluia, do DEM.
*Artigo publicado originalmente na Tribuna da Bahia por Raul Monteiro