Depois da reação contrária, seguida da tentativa de levar para Justiça uma ação que embargasse a reeleição de Marcelo Nilo (PDT) para a Presidência da Assembleia Legislativa (Alba), a bancada do PT na Casa deve voltar atrás e desistir do recurso. Pelo menos esse é o recado sinalizado por integrantes do partido, orientados pela Executiva estadual, de que não cabe aos membros tensionarem as relações entre o governo Rui Costa, encabeçado pela sigla, e a sua base sustentada por nove partidos na Alba. A mudança de posicionamento deve ser debatida pelos onze deputados, amanhã, no Legislativo, com a participação do presidente estadual do PT, Everaldo Anunciação.
Embora tenha deixado os pares livres para a decisão sobre a Mesa Diretora do Legislativo, consta que o governador Rui Costa teria usado de sua influência para conter a fúria petista de encaminhar uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) contra a recondução de Nilo ao comando do Legislativo. O próprio governador declarou durante o Carnaval que o secretário de Relações Institucionais, Josias Gomes (PT), iria acompanhar a questão e, caso fosse necessário, ele entraria no jogo para conversar e debelar uma suposta crise.
O certo é que deve pesar na decisão do PT a influência de Nilo sobre a Casa e a dependência do governo de manter com o gestor do Legislativo uma boa relação, já que estarão em suas mãos as demandas do Executivo para apreciação em plenário. Com a confiança de quem obteve o voto da maioria do Parlamento, o pedetista já havia apontado a possível sequela, com o ingresso pelo PT, de uma Adin que tentasse impedir a sua continuidade no posto. O pedetista disse que tal fato abriria um clima de tensão na bancada governista. Diante da repercussão, os petistas querem demarcar um posicionamento, e tudo indica que dessa vez deve prevalecer a tese de que neste momento importa uma atmosfera de pacificidade na seara política do governo.
O presidente da Executiva estadual petista antecipou ontem que a tendência será a de “trilhar pelo entendimento político”. “O governo manifestou que a questão era do PT, mas disse que a judicialização não era o melhor caminho. De certa forma, isso encontra ressonância dentro do PT”, afirmou. Embora sinalize que a expectativa seja pelo consenso em torno da retirada, Everaldo ressalta que o princípio contrário a reeleição seja o mesmo. “Até que se recue vamos continuar insistindo que a reeleição não é boa”, afirmou.
A ideia é fundamentada a partir do que foi estabelecido no último Congresso do PT, quando foi determinado dentro do Estatuto, um limite para a reeleição de deputados. Os parlamentares só podem acumular agora três mandatos. Foi instituído também que o PT iria dialogar com as bancadas aliadas na tentativa de viabilizarem um nome petista para a presidência do Legislativo baiano, mas essa última determinação não encontrou respaldo dentro da base, que preferiu caminhar ao lado de Nilo.
Apesar de a conversa ser encaminhada para a conclusão de que Adin não deve ir adiante, Everaldo não quis admitir que a questão trouxesse problemas. “Isso quem disse de que é possível haver tensão foi o próprio Marcelo Nilo. Para o PT isso é bobagem”, frisou. O capítulo de desentendimentos entre o PT e o presidente do Parlamento começou quando a própria Executiva se reuniu com a bancada na Casa e reivindicou o lançamento de candidatura própria. De lá pra cá, foram trocas de farpas entre Rosemberg e Nilo.
Entre os que defendem o diálogo, o deputado José Raimundo disse que a tentativa da bancada será a de buscar o meio-termo. O petista também dá relevância à orientação da Executiva de discutir o assunto, que, segundo ele, é maior do que a bancada. “A bancada tem buscado defender o princípio consensual de não reeleição, mas também o de buscar o clima favorável de sustentação do governo. É claro que não cabe ao PT criar tensões que possam prejudicar o governo, mas também o partido tem os seus princípios”, enfatizou. Extraído da Tribuna da Bahia.