De olho na perspectiva de crescimento do número de filiados para as eleições de 2016, muitos partidos antecipam as articulações e já cercam políticos e lideranças de influência no estado. No lado contrário ao governo estadual, o PMDB é um dos que querem elevar a participação, principalmente em cidades de peso do interior baiano, e para isso não tem medido esforços para atrair até mesmo membros do PT, o seu maior adversário desde 2009. Nos bastidores, há informações de que alguns líderes não têm criado resistências às investidas dos caciques peemedebistas.
As conversas teriam acontecido com representantes do partido do governador Rui Costa (PT), que têm reclamado do tratamento recebido nas hostes governistas e como resposta já sinalizaram o interesse em mudar de ninho partidário. Entre aqueles que já conversaram com a direção estadual do PMDB são citados o ex-deputado federal Geraldo Simões e o ex-deputado estadual e ex-prefeito de Irecê, José das Virgens, além do deputado federal e ex-prefeito de Camaçari, Luiz Caetano, todos petistas. Em Salvador estão na mira o vereador Henrique Carballal (PT) e o ex-deputado estadual e atual assessor do prefeito ACM Neto (DEM), J.Carlos.
O caminho pode ser longo até o fechamento dos diálogos e a consequente tomada de decisões, mas é certo que alguns que demonstraram insatisfação com a legenda atual, atualmente, têm a seu favor o tempo, já que o prazo de filiações se encerra em 05 de outubro, intervalo suficiente para refletirem e baterem o martelo sobre o futuro. Mas, o adiantamento das conversas seria a grande mostra de que o PMDB pode desbancar o quanto antes, do seio petista, quadros históricos, que não já visualizam oportunidades dentro do próprio partido. O PMDB comandado na Bahia pelo ex-ministro Geddel Vieira Lima seria uma janela de sustentação dos desejos de alguns desses políticos.
O deputado federal Lúcio Vieira Lima (PMDB) entrega as conversas com todos os nomes mencionados, mas usa de cautela ao afirmar que ainda não há confirmações. Ele aponta a naturalidade dos diálogos com os “nomes fortes” e justifica que a abertura se deve ao “bom relacionamento” que nutre com a maioria. “Logicamente esse temperamento político facilita muito. Além disso, as pessoas notam a tradição do PMDB de cumprir seus compromissos, a nossa coerência que nos dá a credibilidade e também a democracia existente, o que permite que cada um possa se posicionar. Aqui, por exemplo, temos aqueles que são a favor da presidente Dilma, aqueles que são contra”, afirmou. O peemedebista diz que “é possível quebrar as arestas” e atrair os petistas, mesmo aqueles históricos, com forte ligação partidária.
Lúcio ressalta a pretensão do PMDB em aumentar o número de prefeitos em 2016. “Temos 45 no estado, sendo o quarto maior em número de prefeitos, e temos condições de dobrar, chegando a 90”, disse em tom de confiança. Com as supostas filiações, a expectativa é grande de lançamento de candidatos às prefeituras de Irecê e Itabuna. Segundo Lúcio, esse encaminhamento seria já vislumbrando também 2018. Entretanto, sobre Salvador, o cenário para o partido muda e a tendência é de continuidade da aliança com o prefeito.
Não podemos pensar apenas no partido, mas no projeto. “É indiscutível que o prefeito ACM Neto vem realizando um bom trabalho. Não vamos colocar esse projeto em risco. Não é porque somos o maior partido da oposição que vamos botar a faca no pescoço de ninguém”, disse, se referindo também à possibilidade de a sigla integrar a chapa como vice.
Questionado sobre o assunto, o deputado frisou que a sigla não busca no momento a vice-prefeitura, porém, destacou considerarem a possibilidade de o PMDB estar aberto. “Se chegarem à conclusão que o PMDB pode agregar, nós nos apresentamos, mas ainda não há nada certo”, disse.
Quadros históricos desconversam sobre articulação
Apontados nos bastidores, como aqueles que não têm sido beneficiados pela aliança governista e que por isso podem ceder às investidas de outras siglas, os petistas históricos ainda preferem desconversar sobre as articulações com o PMDB. Nos bastidores, entretanto, são fortes os rumores de que alguns deles podem aceitar o apelo. É certo, por exemplo, que o ex-deputado Geraldo Simões (PT) já teve uma intensa conversa com o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB). O líder peemedebista teria telefonado para o petista, convidando-o a se filiar ao PMDB e ser candidato a prefeito de Itabuna em 2016.
Simões disfarçou o interesse, mas confirmou aquilo que teria sido “uma delicadeza do amigo e ex-colega da Câmara Lúcio Vieira Lima”. O ex-deputado preferiu não revelar os demais detalhes da conversa, contudo frisou o seu desejo de se lançar ao pleito municipal do próximo ano. “Estou em um período de reflexão, que é próprio da minha idade. Mas, hoje o que tenho certo é que em 2016, se estiver vivo e com saúde, serei candidato”, disse. No cenário da política local há quem diga que não há obstáculos para que o ex-prefeito da cidade troque de partido, já que até o momento não teria encontrado espaço dentro do PT. Consta que a legenda vislumbra outra opção para 2016, o que tem irritado o petista.
A aliança do PTN com o PT, que deve apoiar a reeleição do prefeito de Irecê, Luizinho Sobral, à prefeitura do município, seria o motivo para que o ex-prefeito de Irecê José das Virgens (PT) já planeje a sua saída do partido, sendo o PMDB o mais provável ninho. Na cidade cresce a informação de que a sua clara postura crítica em relação à administração municipal, além da forte pretensão de voltar à prefeitura, vai impulsioná-lo a cair nos braços do PMDB. O ex-prefeito confirmou que recebeu convites do PMDB e do PV.
“Devo dizer que estou no PT. Manterei minha lealdade e lutarei pela autonomia do meu partido até os últimos instantes, mas se o partido compreender que não sou mais útil, não terei nenhum problema em aceitar convite de companheiros que marcharam conosco em diversos projetos dos quais participei”, disse. Apesar de ainda não revelar, os burburinhos são de que a sua ida para o PMDB pode ser a qualquer momento anunciada. O ex-deputado condenou um suposto apoio do governador Rui Costa a Luizinho Sobral em 2016.
“Não é admissível que o PT abrace um projeto que está promovendo o retrocesso em Irecê. Há um retrocesso em todos os sentidos, pois retornou ao poder a perseguição, a postura antidemocrática, o abandono a diversas políticas sociais e de apoio à arte, à cultura, ao esporte, à saúde, à educação, além de obras importantes de elevado alcance social que foram paralisadas”, criticou. O ex-prefeito disse ainda não acreditar que o PT abra mão de lançar candidato próprio para apoiar o PTN.
Fontes próximas ao deputado Luiz Caetano (PT) desconsideram a hipótese de o mesmo mudar de rota, indo para o PMDB. Apesar de ainda não ter a garantia de apoio do PT para a sua possível candidatura à prefeitura de Camaçari em 2016, a aposta é de que seja muito difícil a separação do seio partidário que ele mesmo ajudou a fundar. Matéria de Lilian Machado, da Tribuna da Bahia.