O deputado estadual do Amazonas, Wanderley Dallas (PMDB), apresentou um projeto que propõe transformar palavras como “piroca”, “cabaço”, “baitola”, “pinguelo” e “xibiu” em patrimônio imaterial do Estado. As informações são da Folha de S. Paulo. De acordo com texto publicado no site do jornal, o peemedebista, que membro da bancada evangélica e está no seu quarto mandato, lista os termos junto a dezenas de outros, como “cabeça dura”, copiados do livro “Amazonês”, do acadêmico Sérgio Freire, que pesquisa a linguagem da região.
Após enfrentar críticas, Wanderley Dallas voltou atrás e disse que retirará palavrões do projeto, mas atacou os colegas. “É um grupo de deputados que se constrange com a palavra ‘cabaço’, mas usa de boca cheia em qualquer local”, disse. Na última quarta-feira (22), ele subiu no plenário da Assembleia para se defender. “Tiram 30 palavras de todo o projeto, desvirtuando do contexto”, reclamou. Embora seja de 2012, o projeto de lei só começou a tramitar em comissões da Casa este ano. No texto, ao lado de cada tópico, segue uma explicação, como: “Cabaço, O hímen. ‘Essa aí tem cara de que já perdeu o cabaço’.”
A necessidade de analisar a viabilidade jurídica do projeto irritou o presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), Orlando Cidade (PTN), que o considera “sem a menor consistência”. “Ele [Dallas] já tentou transformar em patrimônio até a festa do repolho. Tem muito deputado que faz isso. Aí depois põe um outdoor dizendo que é o que mais apresentou projeto”, disse. Ele pediu à Mesa Diretora que mude o regimento para que a CCJ também possa vetar matérias que não sejam de utilidade pública. Atualmente, ela decide apenas sobre a constitucionalidade dos textos.
Ainda de acordo com a Folha, Wanderley Dallas diz que os colegas se “incomodam” porque ele tem “355 projetos e 86 deles são leis”, mas nega ter feito o tipo de publicidade mencionado por Orlando Cidade. Além do repolho, ele já tentou transformar em patrimônio as festas do Boto, do Pirarucu e da Soltura dos Quelônios. Um deputado no Amazonas ganha pouco mais de R$ 25 mil por mês. No Facebook, Sérgio Freitas defendeu o projeto. “O português oral falado aqui é riquíssimo e lhe cortar partes numa censura linguística –porque é ‘feio’– é de uma pobreza intelectual imensa”, escreveu em seu perfil. “Isso é falso moralismo. Se fosse usar amazonês, diria que são uns tremendos babacas”, afirmou Dallas. A palavra “babaca”, no entanto, não aparece no glossário de Freitas. As informações são do jornalista José Marques, do site da Folha.
EXPRESSÕES DO GLOSSÁRIO
Conheça alguns termos do projeto de lei do AM
BAGACEIRA: noitada
BAIACU: pessoa gorda
BAITOLA: homossexual
CABAÇO: hímen. “Essa aí tem cara de que já perdeu o cabaço”
CABAÇUDA: mulher virgem
CHIRRADO: bêbado
CUNHANTÃ: garota. “Quem é essa cunhantã?”
CUNHÃ-PORANGA: mulher bonita. Parte do imaginário do Boi-bumbá de Parintins
GUGUENTO: pessoa feridenta, nojenta, cheia de marcas na pele. “Eu nunca namoraria com a Waldemarina. Ela é toda guguenta, cheia de espinha”
PINGUELO: órgão sexual feminino. “Menino nasce por onde entra: pelo pinguelo”
PIROCA: pênis
PIROCAR: perder ou cortar o cabelo. “Rapaz, olha o cara aí… pirocou o cabelo todinho”
XIBIU: vagina