A Força Aérea da Venezuela abateu no último fim de semana um avião civil que transportava cocaína, matando os dois homens a bordo, ambos brasileiros. A informação foi confirmada à Folha nesta quinta-feira (28) por fontes oficiais. A aeronave, modelo Embraer EMB-820, foi interceptada na noite de domingo (24) por caças F-16, após entrar no espaço aéreo venezuelano sem permissão. Caracas diz que seus pilotos fizeram contato com o avião brasileiro e ordenaram que pousasse. Diante da recusa, os caças atiraram no Embraer, que se espatifou num descampado no Estado de Cojedes, no noroeste do país.
A Guarda Nacional Bolivariana disse ter encontrado no local mais de 600 pacotes de cocaína de alta pureza, além de dólares, pesos colombianos e aparelhos de telefone por satélite. Os ocupantes do avião foram identificados, conforme os passaportes que portavam, como Fernando César Silva da Graça, 29, e Klender Hideo de Paula Ida, 24. As famílias estão em contato com o Consulado do Brasil em Caracas para repatriação dos corpos.
Fontes oficiais disseram à reportagem que o avião havia decolado da Colômbia carregando cocaína produzida naquele país e que se dirigia provavelmente rumo a alguma das ilhas caribenhas usadas por narcotraficantes como plataforma de redistribuição da droga. O Estado de Cojedes representa a rota mais curta para quem sai da Colômbia em direção ao mar do Caribe. Aviões usados por narcotraficantes costumam voar a baixa altitude para tentar despistar radares, mas a Venezuela, frequentemente acusada de leniência com o tráfico, vem endurecendo o controle de seu espaço aéreo.
Desde 2012 vigora a Lei de Controle para a Defesa Integral do Espaço Aéreo, que ampara legalmente ações contra aviões “hostis”. Ao fim do ano seguinte, a Venezuela já havia abatido ao menos 30 aviões usados pelo narcotráfico, segundo disse, à época, o presidente Nicolás Maduro. Apesar do esforço ostensivo, especialistas na luta antidroga ressaltam que a Venezuela se tornou a principal rota de escoamento da cocaína produzida na América do Sul. Críticos acusam setores do governo de envolvimento com o narcotráfico. Extraído na íntegra da Folha de São Paulo.