Para alguns, é apenas um hobby ligado à natureza; para outros, tem se tornado profissão. Observar aves é uma rotina que vem ganhando adeptos no Brasil, país reconhecido pela variedade desses belos animais. Segundo Deodato Souza, coordenador do Clube de Observadores de Aves da Bahia (COA/BA), há mais de 1.900 espécies em nosso país, o que faz com que ele esteja entre as três melhores nações do mundo, ao lado da Colômbia e do Peru, para a prática dessa atividade.
Formado em direito e psicologia, Deodato tem interesse em diversas áreas, com uma paixão especial na observação de aves, o que já lhe rendeu até a produção de livros. Segundo ele, existem clubes de observadores em todo o Brasil e agora cresce, também, o número de pessoas que se dedicam à fotografia desses animais. “Nosso clube completa 30 anos agora em junho e temos percorrido a Bahia extensamente. Somos o grupo, no ramo, mais antigo a permanecer em atividade contínua. Ele surgiu numa época em que os idealizadores do primeiro clube brasileiro, que foi o de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, davam cursos pelo Brasil”, explica.
A Chapada Diamantina, especificamente a cidade de Lençóis, já foi palco para um encontro nacional de clubes de observadores de aves, no século passado. A partir dos anos 90, a região se tornou centro de interesse para os estudiosos do assunto (ornitólogos), e observadores de pássaros (birdwatchers). “Muitas espécies que ainda não eram conhecidas na Bahia foram encontradas pela primeira vez durante a realização desses estudos. Como resultado, constatou-se que a Chapada apresenta elementos da avifauna da caatinga, da mata atlântica e do cerrado, devido a sua natureza de mosaico de formações vegetais – esse caráter é o grande diferencial da Chapada, que ajuda a explicar a variedade de espécies”, acrescenta Deodato.
Ponto estratégico para observação de aves há 20 anos, a Casa da Geleia, em Lençóis, é um espaço fértil para essa atividade. Marias-pretas, sabiás, tibirros rupestres e cardeais colorem a paisagem do lugar. Com uma área de 10 mil metros quadrados, o espaço está repleto de árvores, além de horta, pomar, jardins e uma cascata. Ornitólogos, fotógrafos e observadores podem agendar sua visita e ainda desfrutar de uma hospedagem em meio à natureza.
De São Paulo a Lençóis; da advocacia à hotelaria e ao estudo das aves, José Carlos Vieira de Moraes, o Zé Carlos, proprietário do estabelecimento, tem proximidade com pássaros desde a infância, por influência de seu pai. Após morar em Salvador e trabalhar com turismo, teve a oportunidade de conhecer Lençóis e logo adquiriu o terreno, que mais tarde deu origem à Pousada Casa da Geleia. No espaço, ele guarda um vasto acervo de livros sobre o hobby que tanto aprecia.
“Tudo começou na reunião do Clube de Aves do Rio de Janeiro, que aconteceu aqui na cidade, nos anos 90. Foi quando fizeram o primeiro levantamento de espécies, publicado por Roy Funch no livro ‘Um guia para a Chapada Diamantina’. Ao longo dos anos, recebemos visitas frequentes de estudiosos do ramo. Hoje meu filho Lúcio, formado em gestão ambiental, também acompanha os grupos e indica os melhores roteiros turísticos para a atividade”, comenta. De acordo com Lúcio Moraes, em qualquer lugar verde e silencioso da região, podem ser vistas diversas aves. “São quase 400 espécies só na Chapada Diamantina, sendo, pelo menos, 10 endêmicas”, destaca.
Para Marcela de Marins, analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), os “passarinheiros” são pessoas com grande consciência ambiental, que valorizam a conservação das áreas naturais. “Por essas características, o Parque Nacional da Chapada Diamantina quer estimular o desenvolvimento da observação de aves na região”, explica.
“As aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá”
Os roteiros das aves na Chapada Diamantina vão de norte a sul. O Morro do Pai Inácio, em Palmeiras, a mata do Remanso, o minipantanal Marimbus e a comunidade Barro Branco, em Lençóis, além da estrada da vila do Guiné, em Mucugê, estão entre os pontos principais para a atividade, ao lado de Itaetê, com o turismo de base comunitária.
Algumas espécies encontradas são endêmicas, ou seja, só existem por aqui. É o caso do beija-flor-gravatinha-vermelha (Augastes lumachella), presente em todo o eixo norte-sul da Chapada e facilmente visto no Morro do Pai Inácio; do papa-formiga-do-Sincorá (Formicivora grantsaui), visto em Mucugê e perto do Pai Inácio, e do beija-flor-marrom (Colibri delphinae), presente em Lençóis. Na Cachoeira do Ferro Doido, em Morro do Chapéu, com forte marca da caatinga, encontra-se a águia-chilena (Buteo melanoleucus).
“Uma andorinha só não faz verão”
Observar aves é uma forma de lazer que acompanha os hábitos desses animais, protegendo seu ambiente e melhorando o relacionamento dos seres humanos com eles. Passeios na natureza, levantamento de espécies por localidade, registro dos deslocamentos das aves conforme as estações, proteção dos ninhos durante a reprodução, defesa dos recursos de alimentação e abrigo são algumas análises que os observadores praticam, sobretudo quando organizados em grupos.
“Isso se torna ainda mais prazeroso e produtivo, pois partilhamos recursos e conhecimentos. Realizamos excursões por toda a Bahia, além de palestras e minicursos sobre assuntos relacionados às aves e à natureza em geral, com participação em atividades afins”, ressalta Deodato.
Ficou interessado em ingressar no mundo dos birdwacthers? O COA-BA está de “asas abertas” para te receber! A sede do clube fica em Feira de Santana. Mais informações: (75) 3625-0148; [email protected]. Para ficar por dentro do assunto, vale a pena consultar o site www.birdwatchingbahia.com e a obra “Todas as aves do Brasil – Guia de campo para identificação”, de Deodato Souza, que também apresenta versão em inglês. Para os que preferem começar na prática, recomenda-se uma visita à Casa da Geleia: +55 (75) 3334- 1151; [email protected]. Extraído do Guia Chapada Diamantina.