Como registramos, apagamos e borramos a memória? Memórias são verdades ou invenções narrativas? Na direção de perguntas como estas, o projeto Feitocal utiliza a dança para investigar a condição humana de memorar os fatos. De caráter itinerante, o projeto circula por oito cidades baianas, começando em Morro do Chapéu (Chapada Diamantina), no sábado (6), e finalizando em Salvador, no mês de dezembro. Com realização da Realejo Projetos e 7Oito Projetos & Produções, tem apoio financeiro do Fundo de Cultura da Bahia (FCBA), por meio da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb) da Secretaria de Cultura (Secult) e da Secretaria da Fazenda (Sefaz). Todas as atividades são gratuitas.
No conjunto de ações, estão apresentações do espetáculo em espaços públicos, oficina, bate-papo e vivência criativa. Nesta itinerância, serão 16 apresentações seguidas de bate-papo. Já as oficinas e vivências somarão mais de 140 horas de atividades formativas e deverão envolver até 160 integrantes, 20 por cidade, desenvolvendo processos artístico-pedagógicos.
Uma singularidade de Feitocal é que a experiência em cada município contribui diretamente também para a realização do espetáculo, através da inserção de um participante da oficina na encenação. Na etapa final da itinerância, na capital baiana, o projeto reunirá integrantes de todas as cidades que passar – Monte Santo, Euclides da Cunha, Itapetinga, Vitória da Conquista, Ituaçu e Tanhaçu. Todos estarão no espetáculo, somando-se ao ‘elenco fixo’, formado pelas intérpretes Rita Aquino e Daniela Guimarães e pelo diretor Felipe de Assis, que também está em cena.
“Mais do que sua proposta de descentralização, o interessante é que passamos por cidades de portes e contextos geográfico-culturais diversos. Isso torna o processo ainda mais enriquecedor”, entusiasma-se Felipe de Assis.
Territórios da Memória
Felipe de Assis e Rita Aquino assinam a concepção e criação do espetáculo, que acontece em espaços público, explorando os territórios da memória que constituem ligações entre a experiência individual e pública. “Um traço distintivo deste projeto é que ele alia criação e formação de uma maneira própria. Nós fazemos uma apresentação na cidade, realizamos um bate-papo e uma oficina com os artistas do local, da qual vai sair um participante da segunda apresentação do espetáculo”, explica Rita.
Este quarto integrante vai estar em cena, participando, interferindo e modificando a obra. “Ele vai trazer um conteúdo que é pessoal, articulando as suas referências e memórias, que podem ser pessoais ou coletivas, como um personagem da cidade, e que vai estabelecer diálogos com as nossas referências. A sua presença intensifica a encenação como processo e a atualiza no tempo e no espaço”, reflete a coreógrafa e dançarina.
Já a última etapa do circuito, em Salvador, com todos os participantes, justapõe, contrapõe e redimensiona as experiências vividas na itinerância. “Será uma forma de revivê-las. De maneira diferente, claro, por que a memória já traz em si a potência da renovação”, diz Rita. “Geralmente, fala-se de memória como um fato preso no passado. Não queremos escavar coisa alguma. Estamos interessados em procedimentos que permitam inventar, adquirir, citar memórias, roubá-las, embaralhá-las”, propõe sua parceira em cena, a dançarina, coreógrafa e pesquisadora Daniela Guimarães.