No fim, não foi uma estaca de madeira ou a luz do sol que matou Drácula, mas problemas respiratórios e um coração fragilizado por 93 anos de uma vida bem vivida. E Christopher Lee –aliás, sir Christopher– se foi no domingo (7), em Londres, deixando órfãos milhões de fãs do horror. Para as gerações mais novas, Lee era conhecido pelo papel de Saruman na franquia da série “O Senhor dos Anéis”. Mas ele entrou para a história do cinema pelos nove filmes em que interpretou Drácula, entre 1958 e 1976.
Mas não foi só: Lee também foi o vilão chinês Fu Manchu em cinco filmes, interpretou Sherlock Holmes, trabalhou em “Guerra nas Estrelas” e fez seu papel favorito no clássico de suspense “O Homem de Palha” (1973). Numa carreira de 67 anos, atuou em mais de 200 longas. Sua vida foi tão rica e cheia de histórias mirabolantes quanto seus filmes. Ele jurava que o pai era descendente de ciganos e que a mãe descendia do imperador Carlos Magno. Culto, Lee falava oito idiomas, incluindo grego e russo, e sonhava em ser bailarino ou cantor de ópera.
Serviu na Força Aérea Real Britânica durante a Segunda Guerra, foi condecorado seis vezes e participou da libertação de campos de concentração. Contava ter feito parte do Serviço de Inteligência Britânico, em missões tão secretas que se recusava a comentar o assunto. Em 1948, acabou trabalhando em cinema, onde fez papéis pequenos, alguns até não creditados. O sucesso chegou ao viver o papel principal de “Drácula” (1958), dirigido por Terence Fisher.
Foi um estouro de bilheteria e cimentou a parceria de Lee com os estúdios ingleses Hammer, que incluiria filmes em que encarnaria a Múmia e Rasputin. Lee media 1,96 m, e sua altura, voz grave e jeitão de lorde foram perfeitos para o papel do conde. Muitos acham que ele foi o maior Drácula do cinema, superando até mesmo Bela Lugosi, que interpretou o personagem no filme clássico de 1931.
Christopher Lee era casado desde 1961 com a pintora e ex-modelo dinamarquesa Birgit Kroencke, com quem teve uma filha, Christina. Nos últimos anos, emprestou sua voz para narrações em discos de heavy metal de bandas como Rhapsody of Fire e Manowar, e lançou dois discos próprios de metal, baseados na vida de Carlos Magno. Até o fim da vida, Christopher Lee tocou o terror. Texto do jornalista André Barcisnki, da Folha de S. Paulo.