Dois dias após o 5º Congresso Nacional do PT, as análises ainda continuam produzindo dezenas de conjecturas e muito pouco foi esclarecido. Algumas dessas análises se referem à conclusão dos debates, onde a maioria dos 756 delegados credenciados acredita que o tempo não deu conta das expectativas de mudanças que as bases queriam. Nesta terça-feira (16), o deputado federal Valmir Assunção (PT-BA) disse que “o modelo do Congresso demonstrou-se inócuo e privilegiou quem queria preservar posições burocráticas e verticalizadas”. Também membro da direção nacional da corrente Esquerda Popular Socialista (EPS), junto com o também federal João Daniel (PT-SE), Assunção reconhece que tanto a Novo Rumo quanto a EPS conseguiram articular os debates sobre a “Carta Salvador”, apresentada no evento petista na capital baiana, no último final de semana.
Para o secretário estadual de Direitos Humanos do PT em São Paulo, Tiago Soares, “durante o congresso, os dois blocos que polarizaram a disputa na última década, CNB e Mensagem [outras tendências internas do PT], mostraram-se incapazes de construir uma maioria hegemônica no partido, sendo possível apenas a numérica”. Soares diz que com os dois grandes blocos em crise de direção e rumo, quem acabou ganhando a cena do congresso foi uma articulação do Novo Rumo, grupo ligado ao campo majoritário, no qual faz parte o presidente Rui Falcão e a EPS, tendência ligada à esquerda do PT. “Juntos, apresentamos uma carta em discordância com os caminhos do ajuste fiscal promovido por Levy e apontamos alternativas, e a necessidade de uma reaproximação do governo federal com os movimentos sociais através de um fórum permanente”, aponta Soares.
Durante o congresso, os dois grupos realizaram lançamento da carta aos delegados que contou com a presença de diversas lideranças da EPS e do Novo Rumo, dentre elas a prefeita de Uruçuca, Fernanda Silva, vereadores da capital paulista, Juliana Cardoso e Alessandro Guedes, os deputados federais Carlos Zaratini, José Mentor, Valmir Assunção e do estadual Jose Américo, que ocupa também a secretária Nacional de Comunicação do partido, do ex-deputado federal Devanir Ribeiro e de Sheila Oliveira, da direção nacional da legenda, que destaca a novidade. “O recado que passamos ao PT que é possível unificar o partido com bandeiras em defesa da classe trabalhadora é o que fizemos no congresso ao propor uma emenda em conjunto EPS e Novo Rumo sobre ajuste fiscal promovido pelo governo da presidenta Dilma apontando caminhos alternativos”, salienta Oliveira.
Faltou consenso
Ainda conforme os dirigentes petistas, “o grupo majoritário, por birra e para preservar sua maioria numérica, mesmo tendo muitos militantes favoráveis, não topou a Auditoria Cidadã da Dívida”, uma medida nada revolucionária. Para Valmir Assunção, a CNB propôs remeter essa questão para o Diretório Nacional, quando parte do plenário reagiu e foi para o voto. De acordo com Assunção, a emenda ganhou na primeira e na segunda votação, mas na terceira embaralhou. “Para surpresa de todos, na contagem dos crachás, faltaram apenas 49 votos para emenda se sagrar vitoriosa. Foi um placar de 350 a 302, o que deixa evidente que a intransigência política dos grandes blocos é o que travou o congresso de ter alguns caminhos a trilhar”.
Sobre o Processo de Eleição Direta (PED) ficou acertado o prazo de 90 dias para o diretório nacional do PT realizar um seminário e aperfeiçoar o PED. Entretanto, o partido não respondeu qual será o critério utilizado para participar dessa atividade, e nem apontamentos para o possível aperfeiçoamento. “A militância precisa de respostas realistas, não somente apaixonadas, nesse momento. Mal acabou o congresso e os dois grandes blocos já apresentam suas versões. Infelizmente, nenhuma delas capaz de fazer uma autocrítica, se restringindo à demarcação de espaço, o que é legítimo, mas quando cai no campo fratricida atrapalha a todos nós”, completa o dirigente Tiago Soares.