Marivaldo Filho tem 29 anos, é formado em jornalismo desde 2008, e trabalha em dois empregos como boa parte dos jornalistas da Bahia que buscam sustento digno. Ele sempre ouviu na faculdade que jornalista não deve virar notícia. Após uma comemoração de aniversário, acabou virando protagonista, como vítima, de um crime. Ele diz ter visto uma discussão envolvendo um policial que resultou em agressão a um homem. Após tirar foto de uma viatura, foi coagido por um dos agentes a apagar a imagem do celular.
Recusou, avisando ser jornalista. A partir daí, vivenciou o que só tinha conhecimento por relatos de fontes. Diz ter sido esmurrado na cabeça, espancado e teve uma parte do crânio partida por uma pedra. Marivaldo foi atendido em uma unidade de emergência, ainda algemado. “Percebi nos olhares, por ser um negro entrando sangrando num hospital com os braços para trás, que as pessoas me viam como alguém que fez algo errado“. Recebeu pontos no corte e depois foi colocado novamente numa viatura. Neste momento, ele diz ter tido a pior das impressões, porque imaginou que não fosse voltar a ver a namorada, o pai e amigos. Ficou aliviado ao chegarem na central de flagrantes e ser ouvido por uma delegada. “Muito mais do que a dor física, eles me provocaram humilhação e tortura psicológica”
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Marivaldo diz que está se expondo em nome dos “invisíveis da periferia de Salvador” que passam por situações semelhantes. “Isso acontece todos os dias nos bairros periféricos, todo dia alguém apanha de graça. Todo dia, alguém morre e ninguém sabe o paradeiro. Morei no subúrbio e te digo: pais e mães de família desaparecem”, conta. “Quando eu vou para a imprensa denunciar, não estou pensando em mim, estou pensando em algo muito maior do que Marivaldo. Eu tinha duas opções: ou ficar calado, ou avançar de vez”
Veja o vídeo completo com os 30 minutos de desabafo do jornalista:
Marivaldo pretende processar o estado e prestar uma queixa na corregedoria da PM. “Temos que zelar para que eu tenha condições de fazer meu trabalho sem ser brutalmente agredido“. Até o momento, a Polícia Militar não se pronunciou oficialmente sobre o caso. O governador Rui Costa postou mensagem em rede social dizendo que “A Polícia Militar deve agir dentro dos parâmetros da legalidade”.
Ele ainda reafirmou a garantia de imprensa livre no estado: “O meu governo atuará sempre para assegurar que a democracia seja vivida de forma plena, garantindo a liberdade de imprensa, a liberdade de expressão, o direito de o jornalista exercer sua profissão mediante qualquer situação. Não permitiremos em nosso estado intimidações, constrangimento e nenhum tipo de violência contra o profissional ou contra o cidadão que denuncie ato ilícito”.
O Sindicato dos jornalistas da Bahia, pela presidente Marjorie Moura, divulgou nota de revolta e protesto comparando a ação a “ferocidade própria de jagunços” e ressaltando que a entidade tem se manifestado à Secretaria de Segurança Pública e comando da PM em episódios semelhantes e nenhuma providência é tomada. “Vários outros casos de intimidação com filmagem dos jornalistas por policiais militares fardados, ameaças veladas ou reais através de diálogo pessoal , telefonemas, emails e uso de redes sociais se tornaram uma prática corriqueira nos momentos em que a atividade profissional do jornalista choca-se contra interesses escusos daqueles que agem sob o manto de uma corporação, mas que desonram sua farda e até os conceitos mais básicos de civilidade“, ressalta a nota. Extraído na íntegra do Aratu Notícias.
Veja a íntegra da nota do Sinjorba
A diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado da Bahia (Sinjorba) vem a público manifestar sua profunda indignação contra a brutal e covarde agressão sofrida pelo jornalista Marivaldo Filho, editor de política do site Bocão News, ocorrida na madrugada do último sábado (05.07), na Cidade Baixa, praticada por homens que envergavam a farda da Polícia Militar da Bahia, mas que mostraram a ferocidade própria de jagunços ao espancar violentamente o colega e agredí-lo com uma pedrada, que resultou num corte profundo na cabeça. Estes homens, que adotaram posturas próprias de malfeitores, receberam da autoridade estadual a função de proteger a sociedade baiana, o que torna mais grave a violência empregada contra um cidadão e jornalista, que, por dever de ofício, registrava uma agressão anterior contra um jovem envolvido em um desentendimento. Vários outros casos de intimidação com filmagem dos jornalistas por policiais militares fardados, ameaças veladas ou reais através de diálogo pessoal , telefonemas, emails e uso de redes sociais se tornaram uma prática corriqueira nos momentos em que a atividade profissional do jornalista choca-se contra interesses escusos daqueles que agem sob o manto de uma corporação, mas que desonram sua farda e até os conceitos mais básicos de civilidade. Reuniões, apelos, notas e ofícios encaminhados pelo Sinjorba à Secretaria de Segurança Pública da Bahia e ao Comando da Polícia Militar da Bahia não resultaram em medidas práticas e visíveis contra a ação dessa minoria que envilece a PM da Bahia. O Sinjorba vai acompanhar o colega Marivaldo sempre que for solicitado e monitorar este caso até as últimas consequências, para que não sejamos obrigados a, em breve, divulgar nota de pesar por motivos mais graves. A presente nota está sendo encaminhada para a Associação Bahiana de Imprensa, Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Bahia, Federação Nacional dos Jornalistas, Federação Interamericana de Imprensa, Organização Internacional do Trabalho, Anistia Internacional, ONU e órgãos de imprensa.
Salvador, 05.07.2015
Marjorie da Silva Moura
Presidente do Sinjorba