Empoderadas, com seus turbantes, as servidoras públicas negras do Estado subiram a rampa oficial da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) na tarde de quinta-feira (23), ao som da banda Didá, num ato simbólico de ocupação dos espaços de poder pelo segmento. O rito antecedeu o seminário ‘Promoção da Equidade de Gênero e Raça na Bahia’, promovido pelo governo estadual, como parte das mobilizações do ‘Julho das Pretas’. A organização do evento foi concretizada em parceria com as secretarias estaduais de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), Política para Mulheres (SPM), Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SJDHDS), Comissão dos Direitos da Mulher da Alba e Centro de Culturas Populares e Identitárias (CCPI), vinculado à Secretaria da Cultura (Secult).
“As organizações da sociedade civil têm realizado muitas atividades para dar visibilidade ao 25 de julho [Dia da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha]. Os espaços institucionais é que precisam absorver essa riqueza construída pelos movimentos negro e de mulheres, o que fazemos aqui hoje”, afirmou a secretária estadual de Promoção da Igualdade Racial, Vera Lúcia Barbosa. A gestora destacou ainda a união das diversas instâncias governamentais para efetivação do Estatuto da Igualdade Racial e de Combate à Intolerância Religiosa do Estado, que completou em junho deste ano. “O nosso desafio, agora, é regulamentar o capítulo VII, que trata dos direitos das mulheres negras. Este importante documento resulta de uma construção coletiva da comunidade negra e governo”, concluiu.
Para a secretária estadual de Políticas para as Mulheres, Olivia Santana, que participou, em 1996, de encontro na Costa Rica, onde foram discutidas estratégias para que a proposta do 25 de Julho se espalhasse pela América Latina, a militância é insubstituível. “O que acontece aqui é a vitória dessas mulheres, que acreditaram, apostaram, na defesa dos seus direitos”.
Depoimentos
“Quando entrei na Polícia Militar, usava tranças. A primeira coisa que ouvi foi que eram incompatíveis com a corporação. Passei anos servindo, usando aquelas tranças, e não me acho incompatível a ela”, disse a capitã Denice Santiago, ressaltando ainda que “essa é a mesma casa que me deu a oportunidade de criar, em 2006, o Centro Maria Felipa, único núcleo de gênero do órgão no estado e, hoje, estabelecer uma parceria com a Sepromi na área do enfrentamento ao racismo institucional”.
Enfatizando o Quilombo dos Palmares como modelo para construção de uma sociedade mais justa, a partir dos princípios da colaboração e fraternidade, a procuradora do Estado da Bahia, Cléia Santos, afirmou que “democracia é respeitar a opinião do outro, aprender a falar e a escutar as diferenças, assim como ter um conselho deliberativo que seja capaz de conduzir a vida de todos”.
Ela explicou que o local recebia índios e segmentos excluídos da sociedade. “Era uma comunidade que conseguia ouvir a diversidade e reconhecer, em todos, uma base importante no desenvolvimento de uma grande história que foi o quilombo e que, com certeza, podemos encontrar modelos para refazer esse Estado brasileiro, que se diz inclusivo, mais ainda não é”. A procuradora disse que não é fácil quando coloca o trançado, pois as pessoas têm dificuldade de aceitação. Também mencionou que esse encontro só foi possível porque as secretarias [Sepromi e SPM] estão tendo a mesma linguagem. “O cumprimento das políticas públicas só será possível a partir da transversalidade”, finalizou.
Parcerias
Para a representante da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SJDHDS), Anhamona Brito, a unidade das mulheres negras é fundamental para conquista de novos espaços. “Entre nós não pode ter inveja, mas parcerias, cumplicidade, para que todas possam ocupar postos significativos, como prefeitas, vereadoras, cargos comissionados de destaque. É uma trama do bem que dará certo se estivermos juntas e nos compreendermos enquanto mulheres negras”.
Participaram também do seminário a deputada Fabíola Mansur, as representantes das secretarias estaduais da Educação, Deyse Santos, e da Saúde, Ubiraci Matilde, a vereadora Marta Rodrigues, ativistas do movimento negro e outras servidoras estaduais.