Advogado tributarista, professor de diversas universidades de São Paulo e integrante da Academia Paulista de Letras, Ives Gandra da Silva Martins possui um histórico de grande atuação na política nacional, além de ser um dos defensores do impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Em entrevista exclusiva à Tribuna da Bahia, ele reforçou sua postura crítica à petista e disse acreditar que a Operação Lava Jato permitirá ao Brasil dar um salto positivo na forma de governar, “extirpando a corrupção e tendo maior fiscalização dos agentes públicos”.
Segundo o tributarista, para que isto aconteça, a sociedade brasileira pagará um preço alto, com a desfiguração de grandes empresas que passaram a perder prestígio, aumentando os índices de desemprego. Para ele, a presidente Dilma errou gravemente ao realizar o ajuste fiscal cortando na carne da sociedade e não na máquina administrativa, cujo número de ministérios é maior do que nos Estados Unidos. “Se eu pudesse dar um conselho a ela, diria para fazer o ajuste fiscal sobre a máquina”. Apesar de ser favorável ao processo de impeachment, Ives Gandra assume que no momento não há espaço nem clima para a sua realização.
Tribuna da Bahia – A corrupção parece endêmica no país, principalmente quando envolve entes públicos. O que fazer para atacar esse problema no nascedouro?
Ives Gandra – A corrupção foi nos últimos anos acelerada. Tivemos uma elevação grande do nível de corrupção no país. E aí vemos com muita pena a situação da Petrobras, com um valor no mercado de quase 500 bilhões de dólares. Nos últimos tempos, a corrupção chegou a um patamar inacreditável. E eu estive examinando algumas decisões do Superior Tribunal de Justiça, e essa corrupção ocorre em estados e municípios. Então, se tinha uma insensibilidade nacional sobre o assunto (corrupção), agora a Polícia Federal, o Ministério Público, o Supremo Tribunal Federal estão procurando corrigir.
Para isso acontecer estamos pagando um preço bastante elevado, pois a luta contra a corrupção nesse momento representa uma perda para os trabalhadores brasileiros e uma desfiguração das grandes empresas nacionais que passaram a perder prestígio. Mesmo com o acordo de leniência, que sou a favor para efeitos de preservar empregos, o empregado não tem nada a ver com isso, ele precisa de emprego… Então a corrupção, que infelizmente vem fazendo parte da nossa política, agora está sendo extirpada, apesar de o Brasil estar enfraquecendo consideravelmente.
Tribuna – O senhor acredita que o Brasil conseguirá se recuperar?
Ives Gandra – Tenho a impressão que se recupera porque a partir de agora vamos tendo sinalizações pra quem quiser entrar no poder público de que não haverá chances de corrupção e de utilização errônea da máquina pública. Quem for entrar no poder público terá que agir como sempre teve que agir: para servir. E não para se aproveitar, para enricar. O poder público não é fonte de enriquecimento e sim sacerdócio de servir a comunidade. Espero que a partir desse período, que começou com Mensalão, e agora passou para o Petrolão, a situação melhore e tenhamos uma maior limpeza.
Mas é certo que foi desvendado para o povo brasileiro um nível de corrupção que ninguém imaginava que houvesse no serviço público. Isso impactou. Segundo ponto que é positivo é que agora, através desse trabalho da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, isso também passou a mexer com o nível de quem vai fiscalizar o serviço público. Apesar da crise, de pagarmos um preço elevado, inflação alta, PIB baixo, desemprego, desconfiança generalizada nas instituições, nós temos condições excepcionais de sair disso. Vai depender, claro, da mudança de mentalidade dos detentores de poder, que deverá ocorrer quando o povo forçar através de novas eleições ou através de uma escolha adequada daqueles que vão estar no poder.