“Violência no trânsito em duas rodas” foi o tema da audiência pública promovida pela Comissão de Saúde e Saneamento da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), que ocorreu nesta terça-feira (25), com o objetivo de reunir forças para reduzir as ocorrências dessa natureza. Os acidentes envolvendo motociclistas representam cerca de 50% dos acidentes de trânsito e, das 42.266 mortes ocorridas durante o ano de 2013 provocadas pela violência no trânsito, 12.040 são relacionadas a acidentes de moto. Estes e outros dados foram apresentados pelo médico Antonio Meira Júnior, da Associação Baiana de Medicina do Tráfego.
E os índices envolvendo este tipo de ocorrência não param por ai. Dados da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) apontam que a cada grupo de 100 mil habitantes, 22 pessoas morrem vítimas destes acidentes. E a OPAS alerta para o crescimento desses números entre os jovens com idades entre 18 e 24 anos, que representa 17% do total das vítimas, chegando, em 2013, a mais de 42 mil pessoas. De acordo com o presidente da Comissão de Saúde, deputado Alan Sanches, estes altos índices exigem a reunião de forças para reduzir as ocorrências dessa natureza. “Estamos reunindo o diretor do Detran e o secretário da saúde com o objetivo de unirmos forças, pois reconhecemos que no estado essa realidade não é diferente”.
Segundo o secretário da Saúde do Estado, Fábio Vilas-Boas, os acidentes de trânsito, com especial atenção para os motociclistas, representam um grave problema de saúde pública, haja vista o grande número de eventos, custos elevados tanto do ponto de vista econômico e financeiro, quanto social, além da necessidade de assistência especializada com, geralmente, períodos prolongados de internação, isso quando não ocorre o óbito.
“Aqui no Estado, entre 2000 e 2014, cerca de 30 mil pessoas morreram em acidentes de trânsito, o equivalente à população de cidades baianas como Ruy Barbosa ou Muritiba. Deste total mais de 5 mil pessoas estavam dirigindo motos, enquanto 10,5 mil eram ocupantes de carros”, destaca o secretário, que compara ainda a outra situação extrema. “A realidade é que o número de pessoas mortas no trânsito é similar a uma guerra, como a do Paquistão, e para transformar este cenário, se faz necessário ampliar as campanhas educativas e, sem dúvida, aperfeiçoar a fiscalização e aplicar punições mais severas”, afirma Vilas-Boas.
Se o número de mortos surpreende, o de acidentados é de assustar. Apenas nos seis primeiros meses de 2015, o Hospital Geral do Estado (HGE), na capital, bem como o Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA), em Feira de Santana, Hospital Geral de Camaçari (HGC) e o Hospital Geral de Guanambi (HGC) registraram 3.571 acidentes envolvendo motociclistas, o que dá uma média de quase 20 entradas na emergência por dia. Para o diretor geral do Hospital Clériston Andrade, José Carlos Pitangueiras, o grande quantitativo de acidentes com motocicletas na Bahia também se deve ao fato de, na última década, a frota de motocicletas saltar de 260 mil para mais de 1,1 milhão. “No interior, sobretudo nas cidades menores, a predominância de motos é absoluta”, alerta Pitangueiras.
“Outros fatores também contribuem para esses acidentes, tais como a imprudência, a ingestão de bebidas alcoólicas, além da falta ou não uso de equipamentos obrigatórios, como o capacete”, complementa o diretor geral do HGE, o médico André Luciano Andrade. Dados do Ministério da Saúde apontam que em 2013, 51,8% das internações por acidentes de trânsito foram de motociclistas. Ao analisar o crescimento dos índices relacionados à violência no trânsito, constata-se que entre 2000 e 2014 o total de acidentes por cada 100 mil habitantes saltou de 9,2% para 16,7%, uma variação de 105,6%. Os óbitos envolvendo apenas motociclistas cresceram de 0,7% para 4,2%, uma variação de 481,2%.
Custos com internações
No que se refere às internações na rede do Sistema Único de Saúde (SUS), em 2013, último dado consolidado, cerca de 11 mil internações foram para tratamento de lesões decorrentes de acidentes de trânsito, o que representou um custo superior a R$ 11 milhões para o Estado. Já os gastos com as internações na rede SUS, provenientes dos acidentes de moto, em 2014 ficou, em torno de R$ 6 milhões.
Esses números são resultantes do crescimento da utilização deste tipo de transporte, que saiu de 0,7% (2000) para 4,2% (2014) representando um aumento de 481,2%, elevando, com isso, a exposição ao risco de se envolver em acidentes devido à falta de proteção que este veículo impõe ao seu condutor, cujo envolvimento em acidentes tende a ser grave, com elevado número de mortes e internações.