Por Jeremias Silva*
Sangrou em praça pública e não foi acudido por seus aliados. Defendeu seu chefe e foi abandonado por ele para ser trucidado pela opinião pública em um agonizante cena de despedida. Assim se deu o melancólico final para o secretário Alexandre Paupério. Considerado o “super secretário” da gestão do prefeito ACM Neto (DEM), o administrador e empresário era titular da Secretaria Municipal de Gestão (Semge).
Apontado pelo Ministério Público da Bahia (MP/BA) como líder de um grupo que desviou mais de R$ 40 mi de convênios na Secretaria Municipal de Educação e Cultura (Secult), Paupério teve seus bens indisponibilizados a pedido do MP/BA e nesta quarta-feira (30), sua demissão acontece como um técnico de futebol “prestigiado” após a derrota em um clássico.
A capital baiana em véspera de um BAxVI acompanhou a batalha de Paupério contra os servidores municipais representados pelo Sindicato dos Servidores da Prefeitura de Salvador (Sindseps). Reuniões com debates acalorados onde o gestor da pasta demonstrava sua habilidade em negar pedidos feitos pelos trabalhadores e exaltar o grupo político que passou a fazer parte após sua entrada na administração municipal.
“Se não fôssemos corajosos e continuássemos enfrentando aquela arrogância, nossas carreiras estariam destruídas e dando lugar ao mal da terceirização que veio com ainda mais força durante a passagem dele na Semge. Resistimos e vencemos, mas sua prepotência não aceitava reconhecer a luta dos trabalhadores”, disse Everaldo Braga, coordenador geral do Sindseps.
O inferno astral de Paupério aumentou quando o MP baiano oferece denúncia contra ele, onde sua ação é mostrada como o artífice de um esquema que envolveu empresas, fundações, órgãos públicos, gestores e políticos. Mesmo negando sua participação, o titular da Semge era desmentido a cada dia pela ação de alguns veículos de comunicação e jornalistas, além da intensa massificação feita pelo sindicato da categoria que ele costumava ignorar.
A relação com a imprensa sempre foi conturbada. Paupério buscava apenas fazer valer suas declarações e não aceitava ser interpelado em questões sensíveis. Vários profissionais de imprensa foram relatam desentendimentos com o agora ex-secretário. Desde falta de cortesia em visitas ao órgão até pedidos de demissão nos veículos tiveram Paupério como protagonista.
O plenário da Câmara Municipal de Salvador não ouviu defesas para o “super secretário”. Apesar dos ataques timidos feitos por poucos vereadores da oposição, a falta de sessão demonstrava a incapacidade da bancada governista de proteger Paupério. Nem mesmo em outros fóruns e debates políticos, a situação dele era discutida pelos aliados. A prova inequívoca de sua queda está oferecida.
Tido como a blindagem do prefeito ACM Neto na relação com servidores e fornecedores, Paupério sucumbiu sozinho e acusado em seu bunker, onde foi abandonado e entregue à própria sorte, onde assim como Adolf Hitler deu adeus ao seu palácio onde ser considerava poderoso e invencível. A história mostrou que o final serviria mesmo para o filme “Tropa de Elite”, onde o fanfarrão tinha que pedir para sair. E saiu.
Jeremias Silva é editor do site Política na Rede.