Cinquenta e oito internos da Fundação da Criança e do Adolescente (Fundac) participaram na quarta-feira (24) de aulões preparatórios para o Exame Nacional do Ensino Médio para Pessoas Privadas de Liberdade (Enem PPL). Os jovens na faixa etária de 17 a 20 anos, puderam revisar os principais assuntos de sete disciplinas cobradas na prova. Pela manhã, os conteúdos revisados foram de Física, Português e História. No turno vespertino, Sociologia, Filosofia, Matemática e Química. “Nós estamos trabalhando para reforçar a base desses jovens. Muitos, quando chegaram, não conheciam elementos básicos de cada matéria. Eles estão motivados e acreditando que podem alcançar um bom resultado, e eu, como professor, também acredito no sucesso deles”, afirmou o professor de História, Marcelo Mascarenhas.
As ações socioeducativas oferecidas pela Fundac têm devolvido a esperança de quem se arrepende de um início de vida equivocado. “Cometi um grave erro no passado, mas me arrependi. Hoje estudo para mudar a minha vida”, disse o jovem I.S, 19 anos, um dos internos. As provas para as pessoas privadas de liberdade serão aplicadas na terça (1º) e quarta-feira (2) de dezembro próximo, nos centros de atendimento ao jovem infrator.
A aproximação do dia do exame tem enchido de entusiasmo T.M, 19 anos. O garoto vê na oportunidade de disputar uma vaga em faculdade pelo Enem como a principal chance de futuramente realizar o sonho de ser professor de História. “Tenho estudado bastante para chegar no dia da prova o mais bem preparado possível. Essa é uma porta importante para o futuro. Quero ser respeitado pelas pessoas, ser reintegrado à sociedade e voltar para o aconchego da minha família”.
Para as meninas, a reinserção a uma sociedade machista é ainda mais difícil, e elas sabem disso. “Vou sofrer muito preconceito, mas vou superar tudo isso”, enfatizou G.M, 17. A garota foi acusada de cometer latrocínio há quase dois anos e perdeu o irmão assassinado pouco tempo depois da sua internação na Fundac. Segundo ela, a dor e o arrependimento a levou ao sonho de ser enfermeira. “Não me orgulho do que fiz, e machucaram muito o meu irmão. Minha consciência me leva a querer cuidar das pessoas”.
Os aulões na sede da Fundac foram concluídos na quarta (25), mas a preparação continua nos centros de atendimento socioeducativos, onde mais de 320 jovens têm acesso à educação, saúde e assistência social. “Temos centros de atendimento em Salvador, Feira de Santana, Simões Filho e Camaçari. Lá, as aulas já acontecem desde 2012, mas a revisão começou no ano passado”, explicou a coordenadora de Educação do órgão, Mercedes Agrícola.
A Fundac atua em parceria com a Defensoria do Estado da Bahia e professores de instituição de ensino públicas e particulares, na reabilitação do jovem para reinserção na sociedade. “Os adolescentes que cometeram infrações contam com todo o suporte e orientações para perceberem seus erros e para resolverem mudar. Na Fundac, eles passam a ter a oportunidade de mudar de vida, e muitos têm aproveitado isso”, afirma a diretora geral de Fundac, Regina Affonso.