Por José Queiroz*
Quase 50 anos depois da publicação do clássico ‘As veias abertas da América Latina’, do uruguaio Eduardo Galeano, 1970, poucas pessoas do continente conhecem o livro ou essas ‘veias’, duas delas na Bahia: Recôncavo Baiano e Chapada Diamantina. As veias abertas por espanhóis e portugueses para produção ou procura de riquezas, passaram para os grupos nacionais depois da independência, e estes continuam explorando estas regiões em parcerias com grupos econômicos de dentro e de fora como se fossem reservas suas. São os neocolonizadores, alheios ou indiferentes às necessidades locais.
O Recôncavo Baiano, que produziu açúcar e tabaco por 300 anos, segue produzindo petróleo e gás, e a Chapada Diamantina tem reservas ainda imensuráveis de minerais preciosos ou estratégicos – como diamante, esmeralda, ouro, minério de ferro, urânio, cobre, barita, níquel, tálio, etc. – e produz riquezas desconhecidas de sua população. Os moradores de Maracás não sabem que produzem o melhor vanádio do mundo, para fabricação de ligas de alta resistência usadas em foguetes, materiais cirúrgicos, etc., com a geração de mais de R$ 300 milhões em receitas anuais. E o povo baiano não teve tempo de conhecer o escândio, mineral valiosíssimo descoberto recentemente na Bahia, e já explorado por russos. Para onde vai o lucro dessas produções?
Recôncavo Baiano e Chapada Diamantina são conjuntos de municípios, e duas das regiões mais pobres do Brasil, social e culturalmente! Cada uma tem cerca de 30 cidades e centenas de povoados pessimamente conectados, poucas escolas e faculdades distantes, não há investimentos para o turismo, faltam equipamentos e logística para cuidar do meio ambiente, a rede hospitalar é precária, há problemas de telefonia, desemprego e insegurança. No Recôncavo tem pessoas que trabalham em fazendas para comer e dormir. As famílias da região, além de perder suas riquezas, perdem seus filhos para os grandes centros, onde o Estado, a elite econômica e cultural, e a imprensa, usufruem de tais lucros e ganham para fingir interesse pelo interior do país.
O Recôncavo Baiano e a Chapada Diamantina são conhecidos mundialmente pela história e potencial turístico, e possuem diversos atrativos autênticos, da história à natureza, incluindo comidas e festas. São alegações constantes de gestores públicos e seus parceiros privados para contratação de empréstimos em bancos nacionais e estrangeiros, infelizmente, desperdiçados ou desviados de seus objetivos nos últimos anos, ou devolvidos pela incapacidade do governo atual do estado de apresentar projetos. Urge uma ligação mais rápida entre a Chapada Diamantina, Salvador e outros pólos emissores de turistas, e investimentos em Andaraí, pela diversidade e proximidade de muitos dos famosos atrativos da região. Há uma quantidade surpreendente de cachoeiras, poços e rios ao redor, e segundo Dionia, uma simpática moradora do lugar, quem se banha ali, se apaixona!
Entretanto, o negócio da capital, dessas regiões e gestores públicos de turismo, leigos limita-se a seus clientes individuais ou a arrecadação de impostos, desconhecendo ou ignorando o conjunto da atividade e sua relação com a sociedade, exibindo conhecimentos, credenciais, e ‘saber’ e ‘ter’ inúteis. Ou pior, por desinformação, dependência ou covardia, não cobram as devidas ações do Estado, preferindo canibalizar os poucos turistas interessados através de acordos com operadoras e gestores públicos, associações, monopólio de hotéis, taxas, fiscalizações, etc. Há mais dinheiro circulando atualmente no turismo interno do Brasil para discutir e montar esses esquemas que com a preparação dos destinos e captação de turistas.
*José Queiroz é guia de turismo e diretor institucional da Astteba, Associação de Transportadores Turísticos do Estado da Bahia