Antes, as ofensas entre os estudantes só ficavam entre as paredes da escola. Mas com o surgimento das redes sociais, os atos vexatórios encontraram caminhos amplos e, consequentemente, mais cruéis atingindo uma quantidade maior de espectadores. Mas por que isso acontece? Segundo o psicanalista e escritor Paulo Miguel Velasco, indivíduos que provocam esse tipo de agressão são, geralmente, mal-humorados, estando entre aqueles que nunca se preocupam com o sofrimento e a dor que impõem às vítimas. “Na maioria dos casos são criaturas muito egoístas, voltadas para os seus próprios interesses”.
Velasco explica que não são poucas as razões que os levam a ser exibicionistas, inseguros nos relacionamentos, ressentidos por questões mal resolvidas na infância e a necessidade maior da busca pela autoafirmação. “E na internet esses sentimentos afloram ainda mais, pois as pessoas ficam desinibidas. Ou seja, na ‘telinha’ muita coisa pode acontecer”
O psicanalista comenta que nos últimos seis anos tem aumentado consideravelmente os casos de “cyberbullying” no consultório. Por exemplo, ele diz que certa vez atendeu uma menina de 13 anos que sofria de hirsutismo (excesso de pelos faciais e corporais). Então, colegas da escola postaram suas fotos no Facebook com comentários desagradáveis. “Isso fez com que ela gerasse um trauma, desencadeando um estresse pós-traumático”.
Outro caso foi de um menino de 9 anos que sofria de obesidade. Ele também teve suas fotos postadas nas redes sociais. Segundo o especialista, esse fato o levou a um grau profundo de tristeza, levando-o a “Depressão Endógena, um tipo de depressão ocasionada por déficit de serotonina, um neurotransmissor cerebral responsável pelo nosso humor e bem-estar”.
Infelizmente, muitos pais não sabem como fazer ou prevenir esse problema. Então, como lidar com isso? O psicanalista diz que o primeiro passo tem de ser feito antes que os fatos aconteçam. Por esse motivo, é fundamental o apoio da escola. “As instituições de ensino devem promover com regularidade palestras informativas para pais e alunos, inclusive informando sobre as consequências criminais de tais atos”.
“Além disso, todo agressor precisa ser conscientizado de que seu ato causa dor, pois em muitos casos tal sentimento não é sequer percebido ou dimensionado”, ressalta. Os alunos também necessitam encontrar na escola pessoas em quem possam confiar, mesmo em meio a situações vexatórias. “Não se trata de assumir o papel da família, mas de se apresentar como fonte segura para ajudá-los a resolver o problema”.
Mas ao saber do fato, é urgente tomar medidas rápidas, pois a disseminação pela internet é acelerada. Para o especialista, os alunos precisam comunicar os pais e a escola sobre a situação. “É de responsabilidade da instituição promover uma conversa com ambas as partes, no caso de alunos da mesma escola, além de agir para retirar as postagens o mais rápido possível”, alerta.
Os pais também devem assumir um papel fundamental. Por exemplo, é importante investigar o que está acontecendo. Velasco aconselha a sempre escutar os filhos sem interrompê-los para que desabafem a sua dor. “Exija ainda uma investigação da escola e uma resolução do acontecido”. Outro ponto é nunca estimular à vingança. Sugere que discuta com os jovens alternativas seguras para responder aos agressores, além de praticar respostas para possíveis ocasiões. “Mas caso a agressão continue, prepare-se para colocar-se em contato com um advogado”.
Dependendo do grau de ansiedade e de medo que esteja envolvido a criança ou o adolescente, o especialista orienta a buscar um profissional de saúde mental e emocional para ajudá-lo a superar este trauma. “Mas jamais se esqueça de que o melhor auxílio, nesses casos, é o da família. E mantenha a calma e demonstre determinação e otimismo”, sugere.
“Diante do trauma provocado, a psicanálise é uma excelente ferramenta para essas questões, pois o paciente é levado a reagir perante o fato gerador do trauma, aliviando o estado ansioso. Outro método de grande valia é a Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC) que direciona o paciente no sentido de defender-se do agressor. Mas é fundamental levar o agressor a se tratar também para que possa entender a seriedade de seus atos”, explica.