A brasileira Ali Pastorini é atualmente a vice-presidente da Bolsa de Diamantes do Panamá. Em entrevista exclusiva ao Jornal da Chapada, Pastorini aponta as novidades na atuação no mercado de pedras preciosas e conta um pouco dos desafios, dos projetos pessoais e da sua trajetória até chegar à diretoria da Bolsa, a primeira do tipo na América Latina. Além disso, Ali responde questões a respeito da Chapada Diamantina e como a região da Bahia se destaca na produção de pedras preciosas naturais do Brasil. Em uma área predominantemente masculina, Ali fala que, atualmente, uma mulher ocupa o cargo mais elevado no setor de Bolsa de Diamante, e que durante os encontros anuais entre executivos das Bolsas ela é a única mulher na sala de reuniões. Confira a entrevista completa aqui!
Jornal da Chapada – Ali, queremos saber quem é a vice-presidente da Bolsa de Diamantes do Panamá? Como foi a trajetória?
Pastorini – Sempre fui apaixonada por diamantes, pedras preciosas e joias. Já trabalhava com marketing fora do Brasil, porém em outro segmento. Paralelo a isso eu e minha amiga brasileira–que posteriormente se tornaria minha sócia da marca de joias Del Lima–tínhamos paixão em criar nossas próprias peças. As peças caíram no gosto de pessoas próximas a nós que nem imaginavam que éramos nós mesmas quem criávamos. Não demorou muito para um simples prazer se tornar um business e daí foi criada a marca. Hoje em dia, investimos mais no mercado internacional, um dos nossos principais mercados são os Emirados Árabes Unidos, mais precisamente Dubai.
Foi nas idas e vindas para Dubai que me familiarizei com a Bolsa de Diamantes do Panamá, a primeira bolsa do tipo na América Latina. Dentro da Bolsa iniciei minha trajetória fazendo parte de um Comitê de Marketing para América Latina, em seguida fui promovida à Diretora Global de Marketing e recentemente fui nomeada pela Junta Diretiva da Bolsa, vice-presidente Sênior da entidade.
Hoje divido meu tempo entre minha marca de joias e a expansão da mesma para outros países e também no desenvolvimento da Bolsa de Diamantes do Panamá, além disso na divulgação do projeto World Jewelry Hub, onde também fui nomeada vice-presidente. Esse projeto é o mais ambicioso projeto para a América Latina no setor onde será erguido um prédio icônico de 45 andares para empresas mundiais do setor usufruírem dessa plataforma numa Zona Livre de Impostos.
Sempre estive em projetos desafiadores que exigem o máximo de mim, mas que ao mesmo tempo me proporciona grandes oportunidades. Dentre elas, poder viajar para os mais exóticos e diferentes lugares, o que para mim é um enorme prazer ter acesso as mais diferentes culturas e agora ter a oportunidade de colocar a América Latina como Hub mundial, no setor.
Jornal da Chapada – Qual a importância que tem a região da Chapada Diamantina para a Bolsa? Sabe dizer quais gemas são mais encontradas na Bahia e quais as mais procuradas?
Pastorini – A Bahia tem se destacando por um bom tempo, juntamente com Minas Gerais , Goiás e Rio Grande do Sul, na produção de pedras preciosas naturais do Brasil . Aliás, o nosso país detém grande parte das reservas mundiais desses bens naturais e é reconhecido internacionalmente como um dos principais produtores e exportadores. Na Bahia em específico se destacam a esmeralda, água-marinha, ametista, citrinos e obviamente o diamante.
A intenção da Bolsa é para os comerciantes/vendedores dessas pedras poderem expandir suas vendas a nível mundial de uma maneira regularizada, segura e transparente, é isso que uma organização como a Bolsa de Diamantes proporciona aos seus membros associados a ela. Já para os compradores estrangeiros, vindos dos mais diversos países é ter acesso de uma maneira segura a essas pedras tão desejadas.
A Bolsa nada mais é que o elo de ligação entre vendedor e comprador, para que possam vender/comprar num ambiente agradável e prestigiado, pois para ser membro da Bolsa não basta apenas querer, é necessário passar por alguns requerimentos que assegure que todos que fazem parte dela tenham a intenção de seguir suas regras para comercializar seus produtos de maneira onde todos saiam ganhando, em especial a imagem da América Latina.
Jornal da Chapada – O mercado de pedras preciosas movimenta bilhões de dólares, mas ainda é a junção da pedra com o trabalho do ourives que torna uma joia caríssima. Se estiver engando me corrija, mas o que a Bolsa fará para atrair mais consumidores deste vasto mercado?
Pastorini – Há vários tipos de consumidor latino americano, talvez a maioria é aquele que quer peças comerciais, com um custo acessível onde possam usar no seu dia-a-dia. Porém, há um nicho onde procuram peças de alto luxo, onde querem ostentar diamantes de tamanhos maiores e de alta qualidade e usar peças de designers reconhecidos mundialmente. A Bolsa procura agradar a todo o tipo de público, pois entende que o mercado latino americano assim como sua cultura é bastante diversificado e se limitar apenas a um tipo de público ou produto é praticamente não aproveitar o potencial do continente.
O que a Bolsa já vem fazendo para atrair todo o tipo de público é aceitar nela empresas desde grande “sight holders” indianos e belgas, assim como respeitadas empresas israelenses de diamantes polidos até grandes designers de joias, como o italiano Roberto Coin. Mas a Bolsa não se limita a mega empresas de outros continentes, ela também aceita empresas da região e uma delas, por exemplo, é uma das maiores empresas de Esmeralda colombianas do mundo. E por aí vai.
O comprador pode encontrar na Bolsa desde uma peça de ouro 14 quilates até uma peça de 18. Pode encontrar diamantes pequenos vindos de “sight holders” indianos até diamantes de qualidade espetacular.
O comprador pode encontrar peça desde $50 em prata vindo do México até uma peça encontrada numa atriz de Hollywood. Aliás, um dos membros da Bolsa é o bilionário empresário Ehud Laniado, que recentemente vendeu seu diamante azul batizado de “blue moon” por mais de $46 milhões.
Em resumo, a Bolsa de Diamante do Panamá é para todos os gostos e bolsos.
Jornal da Chapada – Conforme texto enviado pela assessoria da Bolsa, os diamantes têm produção ainda tímida no Brasil. Como será abordado o potencial do país e como a Bolsa pretende ampliar essa produção?
Pastorini – Empresas brasileiras no setor de diamante bruto e polido já fazem parte da Bolsa e já operam nela, já que a Bolsa está aberta e funcionando a todo o vapor desde abril de 2015 . Obviamente gostaríamos de ter mais empresas de pedras preciosas fazendo parte da Bolsa e aproveitando suas inúmeras vantagens, principalmente pela Bolsa estar há apenas quinze minutos do aeroporto internacional, localizada numa área de Zona Livre, ou seja, tudo comercializado dentro da Bolsa está livre de impostos de importação e exportação.
O fato do Brasil ter uma plataforma como essa que oferece a vantagem de você comprar ou vender sem pagar taxas extras é o maior motivador para que governo e empresários se movam, para que o país amplie sua produção e se torne número um em produção e exportação, mas obviamente de uma maneira legítima.
Jornal da Chapada – Como é atuar em uma área onde o mercado lhe proporciona um leque enorme de variedades de consumo?
Pastorini – É desafiador e fascinante, para mim como empresária da área é acordar todos os dias animada ao ir para o trabalho, pois realmente sou apaixonada pelo que faço e ainda tenho a oportunidade de colocar meu país e o continente onde nasci como um centro mundial do setor. A América Latina tem um potencial incrível que ainda não foi devidamente explorado. Acredito que, com a Bolsa, isso se torne possível e diminua consideravelmente o contrabando e saída de diamantes e outras pedras além de metais preciosos como o ouro de forma ilegal dos países latinos.
Jornal da Chapada – É um mercado predominantemente masculino ou a mulher conseguiu espaço na área de comércio de pedras preciosas?
Pastorini – Ainda é um mercado predominantemente masculino, mas mulheres vêm conquistando espaço nos últimos anos. Um dos responsáveis por essa entrada da mulher no mercado é o Sr Eli Izhakoff, que é o nome mais importante e forte do setor de diamantes nos últimos vinte anos. Aliás, o Sr Izhakoff está por trás das mais prestigiaras Bolsas de Diamantes ao redor do mundo e ele é o principal nome por trás da Bolsa do Panamá. Ter ele no projeto é como dar o selo de garantia que é um projeto sério.
No setor de Bolsa de Diamante hoje em dia eu sou a mulher que ocupa o cargo mais elevado, em encontros anuais entre executivos das Bolsas eu sou a única mulher na sala de reuniões. Espero que num futuro breve não seja a única, pois há mulheres no setor extremamente capazes e competentes para ocuparem cargos executivos e liderarem outros projetos do setor . Esse também é um dos meus objetivos enquanto ocupar esse cargo de vice-presidente Sênior da Bolsa do Panamá e vice-presidente do World Jewelry Hub, abrir portas para outras mulheres poderem brilhar no mundo dos diamantes e não serem apenas simples consumidoras.
Jornal da Chapada – Há possibilidade de abrir joalherias de alto padrão na Bahia e na Chapada Diamantina?
Pastorini – A intenção da Bolsa é que as empresas se instalem no Panamá para aproveitar da Zona Livre para negociar seus produtos a preços competitivos e sem pagar taxas.
Jornal da Chapada – Franqueamos nosso espaço para suas considerações finais.
Pastorini – É importante deixar claro que a Bolsa embora se encontre na Cidade do Panamá, não é para o Panamá e sim para a América Latina. Sempre foi muito questionado que o mercado latino americano, embora rico, seja difícil penetrar nele por uma série de circunstâncias, a Bolsa quer proporcionar esse acesso tranquilo e desmistificar que para se comercializar ou exportar pedras continentes só é possível de forma ilegal.
Espero que minha gestão sob o comando da Bolsa do Panamá possa abrir portas para empresários latinos, mulheres latinas e jovens que querem ingressar nesse mercado tão fascinante que são os de diamantes, pedras preciosas e joias.