A fé foi a principal motivação para que baianos e turistas cumprissem uma caminhada de oito quilômetros, nesta quinta-feira (14), para a realização da Lavagem do Bonfim, em Salvador. Realizada há mais de dois séculos, a festa é parte da tradição baiana de reunir sagrado e profano nas comemorações religiosas do Estado.
A pé, da Basílica Santuário Nossa Senhora da Conceição da Praia até a Basílica Santuário do Senhor do Bonfim, uma multidão vestida de branco forma um cortejo liderado por baianas tipicamente trajadas, que seguem o ritual da lavagem das escadarias da Igreja do Bonfim numa festa que antecede as comemorações ao padroeiro do coração dos baianos, realizada no próximo domingo (17).
Um dos principais eventos do verão baiano, este ano, a Lavagem atraiu turistas como Fátima Bezerra, que veio do Rio Grande do Norte para visitar a filha que mora na Bahia e participou do evento pela primeira vez, ao lado de amigos. “Já visitei Salvador umas 20 vezes, mas hoje conheci a festa e estou achando maravilhosa”, disse a moradora de Natal.
Já o baiano criado no Rio de Janeiro, Enzo Gonçalves, fez da caminhada um momento para agradecer ao Senhor do Bonfim e Oxalá as conquistas de mais um ano. “Sou umbandista e, há cinco anos, desde que voltei a morar na Bahia, eu venho à Lavagem do Bonfim”, comentou o advogado. Ao lado, o amigo Rodrigo Castellucci, ressaltou o compromisso de não ingerir bebida alcoólica durante a caminhada: “só água”.
O secretário de Turismo do Estado, Nelson Pelegrino, acompanhou o cortejo das baianas e destacou a importância da festa. “Caminhamos para a colina sagrada o ano inteiro, mas hoje é um dia especial, pois baianos e turistas se reúnem para caminhar juntos. Todos querem pedir proteção e agradecer as bênçãos recebidas. Desejo paz e proteção para o povo de Salvador, da Bahia e do Brasil”, disse Pelegrino. Ainda de acordo com o secretário, neste verão, o Estado deve receber 4,9 milhões de visitantes que querem conhecer as 13 zonas turísticas da Bahia e vivenciar a cultura local.
Padre Edson Menezes, reitor da Igreja do Bonfim, proferiu uma bênção especial. Depois, foi a vez de mães e filhas de santo do Candomblé lavarem as escadarias e o adro da igreja com muita água perfumada.
Conheça a história da Lavagem do Bonfim
A tradição da lavagem começou com os escravos quando eles preparavam o templo para o domingo festivo. Mulheres vestidas com seus trajes brancos e de torços na cabeça colhiam água em uma fonte do bairro, que era levada à Colina Sagrada em lombo de burro. Durante o trabalho, cantava-se e dançava-se.
A devoção ao Senhor do Bonfim teve início quando, em 1740, o capitão de mar e guerra Theodósio Rodrigues de Faria trouxe de Portugal uma imagem similar e do mesmo tamanho da que existia na cidade de Setúbal. As homenagens acontecem sempre no segundo domingo após o dia 6 de janeiro – data em que a Igreja celebra a Festa de Reis.