Uma travesti de 60 anos, de nome Martinha, teve seu acesso negado no Hospital Geral Roberto Santos (HGRS), no Cabula, após chegar à unidade, na ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), vítima de um AVC, na última quinta-feira, 17. Conforme relatado pela própria, o médico responsável ao entender que se tratava de uma travesti, mandou que ela retornasse para casa, pois não prestaria o atendimento. Após o episódio, Martinha retornou para casa, onde passou mal uma segunda vez e, então, conseguiu internação no Hospital Geral Ernesto Simões Filho (HGESF), no bairro do Pau Miúdo. Local onde permanece até o momento.
O acontecido ilustra os obstáculos que a população trans e travesti tem à saúde, seja ela geral ou específica, que envolve também o processo transexualizador. De acordo com a ativista transfeminista e pesquisadora Viviane Vergueiro, estas comunidades encontram hostilidades e violências tanto na saúde suplementar quanto no serviço público. Ela aponta que “a visão patologizante sobre as identidades de gênero, além de cientificamente questionável, é estigmatizante e dificulta o acesso destas pessoas à saúde. Isso acontece, por exemplo, quando se fazem necessários diagnósticos de transtorno mental para pessoas trans e travestis possam ser incluídas no Processo Transexualizador, do SUS, normatizado pelo Ministério da Saúde”.
Em Salvador, por muitos anos os movimentos sociais de travestis e transexuais têm demandado que seja implementado um ambulatório trans, com serviços específicos para pessoas transgêneras. No entanto, apesar das expectativas de abertura do serviço em 2016, ainda não há uma data prevista para o início dos atendimentos. “É importante que o estado e a Universidade Federal da Bahia (Ufba) percebam que a negação à saúde integral de pessoas trans e travestis é uma violação de direitos humanos, e que melhores esforços sejam feitos para a implementação do ambulatório. Por ainda se pautarem em um paradigma que toma as identidades trans como doenças, há temores de que haja exclusões e limitações na prestação deste serviço, como se tem percebido em outras cidades. Será fundamental a participação das comunidades trans e travestis para exercer o controle social do ambulatório, e garantir que recursos sejam investidos na capacitação de todas as pessoas nele envolvidas”, diz a pesquisadora.