Neste ano, 100 jovens tiveram a oportunidade de participar da Visita Técnica à Comunidade Quilombola do Remanso, no município de Lençóis, projeto universal da Política de Assistência Estudantil do Campus Seabra do Instituto Federal da Bahia (Ifba) durante dois dias da última semana. Esse projeto já levou cerca de 300 estudantes dos primeiros anos dos cursos técnicos integrados, de informática e meio ambiente, ao lugar. Divididos em grupos, os alunos interagiram com moradores em meio ao seu cotidiano, repleto de história e rodeado por uma bela paisagem natural, além de estar em uma área de proteção ambiental (APA) e fazer parte do roteiro turístico da Chapada Diamantina.
Segundo o projeto, proposto, atualmente, pelas docentes Jamille Vilas Boas (matemática) e Daiane de Oliveira (história), a visita técnica é um importante instrumento para a formação acadêmica por possibilitar a aprendizagem in loco de conteúdos trabalhados na sala de aula. “Como ferramenta complementar, oportuniza a vivência prática da dimensão teórica, além de aliar aprendizagem com ludicidade, desafio imposto pela dinâmica da juventude atual. Apesar de rodeada por quilombos, a região da Chapada Diamantina pouco dialoga com a riqueza cultural dos povos tradicionais. Diante desse contexto, a visita ao local é uma maneira de despertar a construção de outros olhares, que primam pela valorização dessas comunidades como celeiro da ancestralidade africana na sociedade, possibilitando aos alunos que construam saberes sociais e científicos”, descreve o projeto.
Dentre as atividades desenvolvidas durante a visita houve a “contação” de histórias com idosos (guardiães da memória coletiva); prática de remo até o Rio Roncador, onde os jovens conheceram uma antiga senzala, e até forró. Mas antes da viagem, houve muito trabalho. Os estudantes participaram de aula prévia para interligar os conteúdos trabalhados nas disciplinas, incluindo matemática, história, geografia, filosofia, sociologia e artes. Durante a visita, fizeram fotos das experiências e anotações para compor relatório de campo. Posteriormente, haverá exposição de pôsteres e fotografias. “Da academia ao quilombo”, a visita teve, ainda, o propósito de adequar o conteúdo programático das matérias envolvidas, articulando ensino, pesquisa e extensão com as exigências previstas na Lei nº 10.639/2003, que inclui a temática História e Cultura Afro-Brasileira no currículo oficial da rede de ensino.
Para Maria Fernanda Matos, aluna do 1º ano do curso técnico integrado de meio ambiente, estar em Remanso foi muito interessante. “Não havia visitado uma comunidade quilombola ainda. Foi muito bom conhecer as necessidades dos moradores e entender de que forma podemos contribuir com o desenvolvimento local. Vimos como Seabra está diretamente relacionada ao Remanso. Através do rio Cochó, que deságua no Marimbus, muito lixo tem chegado ao lugar, principalmente, no período das chuvas. Vimos que parte do pantanal está degradado e precisa de intervenção, afinal, os moradores dependem da sua preservação para manter a renda com a pesca e a agricultura familiar. Para beneficiar Remanso, temos de começar por Seabra”, relatou a jovem. “Na disciplina de geografia, faremos um pôster com fotos e informações. Posteriormente, iremos doá-lo para a comunidade usar como fonte de estudo e consulta”, acrescentou Maria Fernanda.
Na opinião de Victor Araújo, estudante do 1º ano do curso técnico integrado de informática, a troca de saberes com os nativos foi o que mais chamou a sua atenção. “Conversamos com lideranças e moradores mais antigos, o que contribuiu para o conhecimento da história da região, que inclui a atividade de garimpo e o coronelismo. Entendemos como eles viviam, cuidando do gado para os senhores das fazendas, até desenvolverem autonomia com a pesca, construir casas e ocupar o espaço. Conversamos sobre intolerância religiosa e as mudanças culturais com a chegada da luz elétrica, quando as pessoas deixaram de participar das manifestações culturais típicas, como a Marujada, para assistir à telenovela. Também conhecemos uma senhora que é benzedeira e parteira, o que nos lembrou da disciplina de filosofia, na qual estamos estudando saberes tradicionais. A visita ampliou nossa visão crítica, como prevê a missão do Instituto”, comentou Victor.
Lucimar Souza, 1º ano do curso técnico de informática, também esteve na visita. Moradora da comunidade quilombola do Agreste, em Seabra, ela revelou que a história do povo do Remanso é muito parecida com a sua e que conhecer os fatos do passado-presente da comunidade foi de grande valia. “Pela primeira vez estive em Remanso e passeei de canoa. Agora levarei os conhecimentos adquiridos para a minha comunidade”, disse. As informações são da Gerência de Comunicação Social do campus do Ifba em Seabra.