Em interrogatório de três horas na última terça-feira (7), o deputado cassado Eduardo Cunha leu uma carta ao juiz federal Sérgio Moro em que diz ter um aneurisma cerebral – como a ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva, que morreu na última sexta-feira (3) – e que o local onde está detido não tem assistência de saúde adequada, caso necessite. “Gostaria de dizer que também sofro do mesmo mal que acometeu a ex-primeira-dama Marisa Letícia: um aneurisma cerebral. Aproveito para prestar minha solidariedade à família pelo passamento. O presídio onde ficamos não tem a menor condição de atendimento se alguém passar mal. São várias as noites que os presos gritam, sem sucesso, por atendimento médico e não são ouvidos pelos poucos agentes que lá ficam à noite”.
Eduardo Cunha foi interrogado por Sérgio Moro e também respondeu a perguntas do Ministério Público Federal e de sua defesa. O advogado do deputado cassado, Marlus Arns, disse que não sabia do aneurisma e que vai analisar o caso para ver se cabe um pedido de prisão domiciliar. Nesta terça-feira, a defesa de Cunha protocolou um pedido de liberdade para o deputado cassado. “A defesa já fez um pedido por escrito. Considerando o fim da instrução processual, nós pedimos que seja revogada a prisão preventiva dele e que, se for o caso, que ele atenda outras situações cautelares. E foi dito na audiência que se o juiz resolver colocá-lo em prisão domiciliar, ele se ofereceu para ficar em Curitiba, já que o processo tramita aqui, ficando aqui até o final do processo”, disse Arns.
Moro, entretanto, negou o pedido e manteve, por enquanto, a prisão de Cunha. “Há uma preocupação com a segurança de qualquer preso. Mas até o momento não houve nenhum incidente, nesses quase três anos, com presos da Lava Jato. Estamos atentos a qualquer situação que aconteça. Vou analisar a questão da liberdade que o senhor colocou. Mas por hora, nessa audiência, vou manter a posição do ministro Teori Zavascki que negou a liberdade para o senhor”, disse o juiz.
Testemunhas
Também durante o depoimento, Cunha afirmou que o presidente Michel Temer se equivocou em uma resposta enviada ao juiz Sérgio Moro, em que ele participa como testemunha arrolada pelo ex-deputado. A uma das 41 perguntas que Cunha fez a Michel Temer, o presidente afirmou que não houve uma reunião no Palácio do Planalto, em 2007, com o então ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, para tratar de nomeações na Petrobras. Mas, no interrogatório, Cunha disse que a repsosta de Temer estava “equivocada”.
“Ele participou, sim, desta reunião e foi ele quem comunicou a todos nós o que tinha acontecido na reunião. Porque não era só o cargo da Petrobras, eram outras várias discussões que existiam entre o PMDB”, disse. O Palácio do Planalto informou que não vai se manifestar sobre as afirmações de Eduardo Cunha que envolvem o presidente.
Lava Jato
Cunha é acusado de receber propina no valor de R$ 5 milhões em um contrato para a compra de um campo de petróleo pela Petrobras em Benin, na África, e de usar contas na Suíça para lavar o dinheiro. O deputado cassado está preso preventivamente desde o dia 19 de outubro. De acordo com o Ministério Público Federal, a prisão preventiva se justifica porque há evidências de que Cunha tem contas no exterior que ainda não foram identificadas, o que poderia colocar em risco as investigações. Os procuradores também alegam que ele tem dupla nacionalidade – brasileira e italiana – e poderia fugir do país.
Contas no exterior
Durante o depoimento, Cunha voltou a negar que tenhas contas no exterior e que tenha mentido em depoimento na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras da Câmara dos Deputados. Em março de 2015, Cunha afirmou que não possuía conta bancária no exterior. “Falei a verdade, conforme a pergunta que me foi feita. Não minto. Não tenho conta no exterior. Se eu dissesse que tinha conta, estaria mentindo. Porque a conta é do trust [tipo de negócio em que terceiros passam a administrar os bens do contratante]. Se alguém tivesse me questionado da forma correta, eu iria responder”, disse.
Em setembro de 2015, o Ministério Público da Suíça informou à Procuradoria-Geral da República (PGR) que foram encontradas contas naquele país em nome do então presidente da Câmara dos Deputados, cargo ocupado por Cunha, e de familiares dele. Após a identificação das contas, os valores foram bloqueados pelas autoridades suíças. De acordo com a denúncia, Cunha teria recebido R$ 5 milhões em propina em um contrato para a compra de um campo de petróleo pela Petrobras em Benin, na África, e de usar contas na Suíça para lavar o dinheiro.
Ele está preso preventivamente desde o dia 19 de outubro. Segundo o MPF, a prisão preventiva se justifica porque há evidências de que Cunha tem contas no exterior que ainda não foram identificadas, o que poderia colocar as investigações em risco. Os procuradores do MPF também alegam que, por possuir dupla nacionalidade – brasileira e italiana -, ele poderia fugir do país. Cunha disse que o fato de ter dupla cidadania não justifica a prisão preventiva e colocou à disposição da Justiça os passaportes brasileiro e italiano. Da Agência Brasil.
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