Na última quarta-feira (10) os deputados federais aprovaram na comissão especial que discute a reforma política na Câmara, o distritão, sistema eleitoral no qual cada estado representa um distrito e os candidatos mais votados de cada distrito são automaticamente eleitos. A proposição ainda será apreciada, junto com outros itens, no plenário e no Senado, mas já é envolta em polêmicas. Apesar de acabar com os ‘puxadores de voto’, já que no sistema atual, o proporcional, os votos obtidos pela legenda acabam elegendo candidatos da coligação, o distritão é questionado por favorecer nomes que já estão em evidência, e com isso, incentivando reeleições, por exemplo.
“O distritão, a meu ver, é uma proposta que pode diminuir drasticamente o papel dos partidos políticos nos processos eleitorais”, disse Paulo Fábio Dantas, cientista político e pesquisador de ciências políticas da Universidade Federal da Bahia (Ufba). Para Dantas, o distritão é uma estratégia da elite política, que vem sofrendo com a Lava Jato. “Ele é subproduto da ‘faxina’ que vem sendo receitada. Mas, embora compreensível, essa estratégia traz mais problemas do que soluções”, disse. Sobre a votação na Câmara dos Deputados, o cientista político afirmou que a proposta não é de fácil aceitação no plenário, tendo em vista que é de interesse dos deputados de grandes partidos, não coincidindo com os de siglas menores.
O professor da Ufba e cientista político, Carlos Zacarias, afirmou que a questão é política. “O que parece que está em jogo é que os parlamentares que apoiaram o golpe [impeachment de Dilma] estão tentando arrumar uma forma de livrarem suas caras diante do eleitor”, criticou. O historiador aponta também o fato de, conforme estabelece a proposta, o novo sistema já valer para as eleições de 2018. “Parece ser casuísmo fazer reforma que vale já para a próxima eleição, porque assim uma parte desses parlamentares vai voltar mesmo com descontentamento da população”.
O poder econômico também acaba influenciando com a vigência do distritão, já que os candidatos mais ricos podem fazer uma campanha mais vultuosa e angariar mais votos. “Pelo que entendi do distritão, é uma das formas de votação que incentiva o ‘mandonismo’ dentro dos partidos. Temos partidos ideológicos, mas são pouquíssimos”, destaca o professor, que atribui ao modelo uma redução da “autonomia” do eleitor. Apesar da forte defesa dentro do Congresso, Zacarias avalia que não necessariamente o distritão deve ser aprovado em plenário. Jornal da Chapada com informações de Bahia Notícias.