A endometriose acomete entre 10 e 15% das mulheres brasileiras de idade reprodutiva. Doença ginecológica benigna, a patologia é caracterizada pelo crescimento do endométrio (tecido que reveste a parte interna do útero renovado a cada ciclo menstrual) em locais fora do útero. O diagnóstico tardio da doença é um problema frequente, pois muitas vezes a endometriose é assintomática ou tem seus sintomas confundidos com outras patologias. Dor pélvica ou abdominal uma ou duas semanas antes da menstruação, dificuldade para engravidar (infertilidade), aumento do fluxo menstrual, dismenorreia (dores no período menstrual) e dores durantes as relações sexuais são alguns dos sintomas da doença. Alterações intestinais ou urinárias durante o período da menstruação também são sintomas frequentes.
De acordo com o ginecologista Jorge Valente, diretor médico do CEPARH (Centro de Pesquisa e Assistência em Reprodução Humana), “por se tratar de uma doença crônica de caráter clínico, o principal tratamento é feito através do bloqueio da menstruação e da ovulação, que pode ser feito de várias maneiras”. Uma das principais indicações para o tratamento é o uso da gestrinona, droga usada na forma de implante anual subdérmico, que bloqueia os níveis de estrogênio, sendo, atualmente, uma das substâncias com maior potencial amenorreico (controle da menstruação). O implante de gestrinona também apresenta os melhores índices no controle da dor da endometriose por atuar no receptor androgênico, o que faz melhorar a disposição e a libido, tornando-se um diferencial comparado a medicações orais existentes no mercado para o tratamento da doença.
Mulheres que nunca tiveram filhos, que começaram a menstruar muito cedo, que têm ciclos menstruais intensos ou que têm casos de endometriose na família (mãe ou irmã) apresentam mais propensão para o desenvolvimento da doença. A cirurgia laparoscópica serve não só para o diagnóstico, mas principalmente para o tratamento da endometriose. No momento do procedimento, todos os focos de endometriose que são evidenciados são imediatamente retirados e cauterizados. Também são liberadas aderências e removidos os cistos ovarianos de endometriose, ajudando de forma efetiva no tratamento da dor e da fertilidade.
“Muitas mulheres sentem dores intensas e acreditam que são cólicas normais do período menstrual, quando, na verdade, elas já têm uma endometriose instalada. Essa conduta pode atrasar o diagnóstico correto e o tratamento imediato, levando a paciente a sofrer durante anos com dores ou desenvolver uma infertilidade irreversível”, explica Jorge Valente. Ele recomenda que ao sentir qualquer dor aguda ou sintoma diferente, a mulher busque logo o especialista. Há mulheres que apresentam a doença em estágio avançado e não sentem nenhuma dor, enquanto outras pacientes possuem pequenos focos de endometriose e sentem cólicas e dores abdominais intensas. Ou seja, a melhor forma de prevenir a doença e seus impactos na vida da mulher é fazer a consulta anual ao ginecologista e os exames de rotina requisitados.
A ultrassonagrafia para pesquisa de endometriose profunda e a ressonância magnética são os exames de maior precisão para o diagnóstico da doença. A ultrassonografia comum – pélvica e transvaginal – tem índice muito alto de falso negativo, e também pode contribuir bastante para o atraso na identificação da doença. Dietas anti-inflamatórias e atividade física regular aliadas ao diagnóstico precoce podem ser úteis no controle do avanço da doença e dos seus sintomas. A visita anual ao ginecologista é fundamental para o diagnóstico precoce e a prevenção de suas complicações.