A deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) esteve rapidamente no Encontro Internacional Parlamentar, atividade dentro da programação do Fórum Social Mundial 2018, que acontece em Salvador até este sábado (17), e lamentou o assassinato da vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco (Psol), na última quarta-feira (14). Durante entrevista ao Jornal da Chapada, a parlamentar tratou de diversos assuntos, inclusive sobre a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que também esteve no encontro na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), e destacou que a intervenção que deve acontecer no Rio é social e não militar.
Sobre a morte de Franco, Benedita disse que é “constrangedor” e que todos estão “sentidos”. “Estamos convivendo com a violência a cada dia e ela [Marielle] era uma lutadora dos direitos humanos. Recentemente ela era relatora e a gente recebe uma notícia dessa e fica um pouco sem ação. Entendemos que ela vinha fazendo um trabalho de muita dignidade, uma liderança comunitária muito representativa e que deixa para gente um grande exemplo”, frisa. A parlamentar petista diz ainda que Franco morre exatamente na hora que estava indo para mais um trabalho de militância.
“Ontem [quarta] havia vários encontros das mulheres negras, das pessoas que não conseguiram estar no Fórum Social e nós organizamos alguns fóruns no estado e ela estava dando a cobertura nesse fórum, e foi barbaramente executada. A gente não tem dúvidas de que ela foi executada. Ela vinha denunciando toda a criminalidade cometida por agentes policiais, por milicianos, então foi isso, realmente, o que aconteceu. Nós esperamos que isso seja apurado e investigado de imediato. Nós que estamos aqui no Fórum Social Mundial estamos indo para o Rio, porque não tem a mínima condição da gente ficar aqui”.
A deputada salientou que um grupo de parlamentares já estavam retornando para o Rio de Janeiro para acompanhar o caso de perto. “Nós estamos antecipando nossa volta, pois faço parte da comissão da Câmara de Deputados. Estamos indo também para o Rio, porque nós que somos da comissão estamos pedindo que haja uma antecipação de uma audiência com o interventor na terça feira. Queremos que investigue e ache, verdadeiramente, o culpado. E se são eles que estão com essa responsabilidade de estar coordenado queremos que seja investigado”.
Polêmica com Rui Costa
Questionada sobre os recentes depoimentos do governador Rui Costa (PT) – que disse que agora era a hora de virar a página do impeachment e chegou a dizer até que o PT pode apoiar outro candidato que não seja do partido, se referindo à questão da possível prisão de Lula, Benedita respeitou a opinião do chefe do Executivo baiano, mas voltou a defender o nome do ex-presidente para o pleito deste ano. “Olha, todos nós petistas temos o total direito de nos manifestar naquilo que nós achamos que deva ser para o PT, mas a decisão é tomada pela direção partidária e essa discussão não está em debate. Para nós, o Lula é o nosso candidato em qualquer circunstância”.
A deputada petista disse que o partido vai até o final com Lula. “Esse é o candidato do qual o partido, sua direção, a executiva, o diretório nacional e a base, os filiados, têm debatido. A gente ainda não está trabalhando com a possibilidade dele não ser candidato. Por isso não temos plano B. E, por isso, estamos realmente dentro de um processo democrático. Os partidos também já lançaram seus respectivos candidatos, então não tem por que. O Partido dos Trabalhadores tem uma história, tem um acúmulo e um desafio pela frente e esse desafio inclui o Lula”, completa.
Condenação de Lula
Sobre a questão do processo que condenou o ex-presidente Lula há mais de 12 anos de prisão, a deputada disse que o PT vai lutar para manter o petista como candidato e aguarda que a “justiça seja feita”. Benedita disse que a “perseguição conta Lula é consequência do golpe contra Dilma, que se traduz a cada momento e em cada uma de suas etapas. E essa é uma. Temos certeza de que como você pode dar celeridade a um processo e faz isso sem seguir os trâmites, passando por cima de todos os outros e até hoje não se condena por provas, se condena por convicção”.
“Evidente que a busca pelo habeas corpus é um direito que se dá a qualquer um, até a quem acabou de matar, e se entrar com um habeas corpus vai ter que ser julgado. Então é isso que queremos, que o Supremo coloque para ser visto a questão do habeas corpus e não queríamos que fosse condenado sem ter o tramitado julgado. É isso que estamos batalhando. E sabemos que com relação, principalmente, a república de Curitiba, o Sérgio Moro está sendo seletivo, de outros partidos para que veja”, salienta.
Benedita diz que Moro entra em contradição em relação à legitimidade da propriedade do triplex atribuído a Lula. “Ele [Moro] mesmo entra numa contradição tremenda, pois diz que o triplex é do Lula por isso está sendo condenado e ele mesmo manda colocar o triplex em leilão e quem vai ter que assinar? Acontecendo o leilão quem vai receber o dinheiro, quem é que vai assinar? Certamente não é Luís Inácio Lula da Silva, essa é a questão. Por isso seguimos dizendo que eleição sem Lula é mais um golpe. Na democracia, na soberania e depreciação à nossa Suprema Corte. É preciso que a gente esgote todos os dispositivos constitucionais existentes, acreditamos que o Supremo não vai rasgar a constituição brasileira. Esperamos então que eles possam realmente julgar esse habeas corpus”.
Intervenção social
Sobre como conter a onda de violência no estado como o Rio de Janeiro, que vive uma intervenção militar, e com um governo federal que cada vez mais tira direitos das pessoas mais pobres, Benedita disse que é preciso que o estado democrático de direito funcione. “Nós queremos que eles retirem a intervenção militar e façam uma intervenção social de imediato nesses lugares. E que essa intervenção social seja também colocada um grande debate de Segurança Pública. Não o governo federal criar um novo ministério, e mandar força militar para o Rio de Janeiro”.
A deputada petista continua: “Num estado onde tem desemprego, onde as escolas não estão funcionando, onde os hospitais não estão funcionando. Evidente que nesse momento queremos, sim, uma intervenção forte, mas que se chama intervenção social. E que os militares possam verdadeiramente combater a questão das drogas, como está dando é uma forma falida, precisamos ter inteligência para o combate a droga e para a questão do armamento. Precisamos entender que é por ali que passam drogas e armas, e não pelas comunidades”, finaliza.
Vitor Fernandes para o Jornal da Chapada
Vídeo completo da passagem de Lula pela Alba