“A rua não é opção de vida, a rua é falta de opção. A rua, na realidade, é falta de políticas públicas, falta de uma conscientização das nossas gestões, seja municipal, estadual, federal”. A fala é de Maria Lúcia Santos Pereira, coordenadora do Movimento Nacional População de Rua, em Salvador, que faleceu nesta quarta-feira (25). Lúcia era uma das principais articuladoras da luta pelo respeito e por políticas públicas para a população de rua, sendo reconhecida nacionalmente pelo seu trabalho diante de diversos movimentos sociais.
Ainda não se tem a confirmação do que causou a morte de Lúcia, mas amigos próximos dizem que foi devido a uma complicação pós cirurgia. De acordo com informações preliminares, o velório acontece nesta quinta-feira (26), às 16h, no Cemitério Campo Santo, em Salvador. Nas redes sociais, amigos e parentes lamentam o falecimento da líder popular.
“Com grande pesar, recebemos a notícia do falecimento de Maria Lúcia, liderança do Movimento da População de Rua. Uma grande perda, de uma mulher lutadora que dedicou a sua vida por uma causa urgente e necessária para os que buscam construir uma sociedade que respeite os direitos e a dignidade humana. Mas a sua luta não morre, continuará viva através de muita gente”, escreveu a vereadora de Salvador Aladilce Souza (PCdoB). A Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social do Estado da Bahia (SJDHDS) também lamentou o ocorrido em nota.
“Mulher negra, desafiadora e ícone de resistência, Lúcia sempre acreditou na capacidade das pessoas em alcançar seus sonhos e lutou para dar mais dignidade à vida das pessoas em situação de rua. Grande parte das pessoas assistidas pela iniciativa em Salvador e em Feira de Santana também fazem parte do Movimento e possuem afeto e inspiração pela liderança. Sempre disposta a defender os direitos da população de rua, Maria Lúcia colocava as suas opiniões de forma precisa e lutou para contribuir na melhoria dos serviços públicos para aqueles que mais precisam”.
Cidadã soteropolitana, cujo título foi concedido pela Câmara em 2016, requerido pela então vereadora Vânia Galvão (PT), Maria Lúcia foi moradora de rua por muitos anos, dedicando sua vida para diminuir os riscos para as pessoas em situação rua, provendo-lhes cidadania e direitos. Maria Lúcia também recebeu no mesmo ano a medalha Zumbi dos Palmares, pela Câmara, solicitada pelo vereador Silvio Humberto (PSB).
“Ela merece muitos aplausos pela sua luta, mas, mais do que isso, ela merece o reconhecimento e o compromisso de todos nós, que lutamos por justiça social, pela continuidade do seu trabalho”, comentou a vereadora Marta Rodrigues (PT).
Fundadora do Movimento de População de Rua da Bahia, Lúcia lutava para que fosse formado um banco de dados sobre a população de rua pela prefeitura de Salvador a fim de executar políticas públicas para esta parcela da sociedade. Esse banco não existe na prefeitura, o que dificulta dar garantias de direito ao segmento. “Se não existe a contagem, não existem essas pessoas, nem a verba para trabalhar com elas”, dizia Lúcia. Jornal da Chapada com informações de assessoria.