Em 25 junho de 1978 o humor dos brasileiros não era lá dos melhores. Afinal, após uma campanha frustrante da nossa Seleção na Copa da Argentina, testemunhamos a geração dos hermanos Kempes e Passarela conquistar o mundo ao bater por 3 x 1 a Holanda em uma partida cheia de emoções. Na Bahia, quatro dias após a final no futebol, entrava em operação o então chamado Polo Petroquímico de Camaçari. Era o primeiro lance de uma campanha vitoriosa, com várias histórias de sucesso, sendo uma delas a dobradinha entre as indústrias do complexo e o Governo do Estado, por intermédio da hoje Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE).
Os bons times geralmente precisam de um tempo para atingir o entrosamento desejado. No caso em questão, foram nada menos que três décadas. Afinal, em campo estava um gigante que emprega 45 mil pessoas direta e indiretamente, além de recolher R$ 1 bilhão de ICMS por ano: números grandiosos, prazos generosos. Testemunha e participante do amadurecimento dessa relação, o superintendente do Cofic (Comitê de Fomento Industrial de Camaçari) Mauro Pereira explica que a parceria entre Polo e Governo sempre foi forte, porém na comemoração dos 30 anos do complexo ela “ganhou uma característica de proximidade mais intensa”.
Ele recorda que em 2009 foi feito um grande esforço de colaboração, com o apoio também da Fieb, que resultou no Guia de Atração de Investimentos do Polo Industrial de Camaçari. Integrante do programa Polo + 30, capitaneado pelo Governo, a publicação apresentava um levantamento detalhado das novas oportunidades de investimento e perspectivas para o complexo industrial, identificadas a partir de necessidades de adensamento e complementação das cadeias produtivas existentes. Questões como “isonomia tributária; infraestrutura e logística; matéria prima e matriz energética; plano diretor para as próximas décadas; formação da mão de obra; inovação e tecnologia; e expansão e diversificação industrial, foram olhados de maneira sistêmica, com vistas à atração de investimentos”, conta Pereira.
De fato, o documento avançou em temas caros ao pensamento que começava a se cristalizar na sociedade na virada do século, como controle e proteção ambiental e capacitação de mão de obra. Primeira mulher a chefiar a SDE, e por isso símbolo da renovação constante que se pretende na relação entre público e privado, a secretária Luiza Maia destaca a importância do Polo Industrial na vida dos baianos e ressalta a confiança mútua que sempre azeitou o diálogo com o governo. “Se hoje a conversa é franca e transparente, isso se deve à boa convivência cultivada durante anos. Nossa missão é pegar o que já é bom e transformar em ótimo. Quem ganhará com isso serão os trabalhadores e a população em geral”, projeta.
Jogo de cintura
Se o profissionalismo foi a tática adotada nessa convivência prolongada entre o poder público e o setor produtivo, houve também um pragmatismo permeante que emprestou a essa relação um certo jogo de cintura, lembra o arquiteto André Joazeiro, com passagem entre 2011 e 2014 pela Sicm (o antigo nome da SDE), onde chegou a ocupar a chefia de gabinete. “Não nos recusamos a tentar resolver nenhuma questão colocada pelo Polo, mesmo aquelas que não estavam originalmente definidas; a ordem no Governo ela levar a sério a palavra parceria”, recorda.
A Sicm atuou também para encaminhar pleitos com outros entes públicos em busca de soluções importantes. Dessa forma, algo que se apresentava no horizonte como uma crise no abastecimento de água para as empresas do Polo foi intermediada pela secretaria e resolvida, bem como uma alteração no trajeto de tubulações de gás industrial que facilitou a vida das indústrias. Foram ações que, no mínimo, mantiveram investimentos e preservaram postos de trabalho, deixando pavimentado o caminho para o crescimento do complexo.
Sintonia
Joazeiro conta que com o tempo o Governo passou a compreender de forma mais profunda as necessidades das indústrias do Polo. As soluções começaram a surgir mais rapidamente, havia cada vez mais sintonia. Na área da proteção ambiental, foi regulamentada a perfuração de poços artesianos evitando a contaminação do lençol freático da região, por um lado, e o desabastecimento, por outro. Não ficou por aí, explica Joazeiro: “Racionalizamos a forma como era feito o licenciamento ambiental e com isso reduzimos em cerca de seis meses o tempo para a implantação de novos empreendimentos, sem abrir mão do rigor na proteção ao meio ambiente”.
Também nesse período, um caso emblemático ocorreu em relação à indústria automobilística Ford. A fábrica de Camaçari passava por dificuldades financeiras e graças a uma intervenção do Governo da Bahia, o Governo Federal concedeu à empresa benefícios fiscais que garantiram o investimento de R$ 4 bilhões (valores históricos) em todas as suas unidades no Brasil. Anos depois, recuperada e em crescimento, a Ford inaugurou, em 2014, também em Camaçari, sua primeira fábrica de motores no país. O superintendente de Promoção de Investimentos da SDE Paulo Guimarães, que participou das discussões técnicas à época, relata que o Governo da Estado “teve o bom senso de atuar em defesa dos interesses da economia da Bahia; sem hesitação, o apoio federal foi pleiteado e logo atendido simplesmente porque era justo e viável”.
Novo marco
O ano de 2013 foi outro marco significativo no casamento entre o Polo Industrial de Camaçari e o Governo do Estado. Nas comemorações dos 35 anos do complexo, um novo trabalho conjunto deu à luz o Plano de Ampliação da Infraestrutura do Polo Industrial de Camaçari, descrevendo grandes intervenções governamentais que garantiriam mais competitividade ao Polo. Importantes obras saíram do papel como a Via Atlântica, entregue em junho de 2017, graças a um investimento de R$32 milhões, complementando outro equipamento viário essencial: a duplicação do sistema BA 093 (Via Parafuso), inaugurada anteriormente.
Também foi quando teve início a implantação do polo acrílico, que começou a operar dois anos depois com a instalação da Basf. Inicialmente, os alemães iriam para Minas Gerais. Foram convencidos, porém, a ficar na Bahia, onde a matéria prima propeno é produzida. Faz parte desse polo a Kimberly-Clark, que tem as fraldas descartáveis entre os produtos que fabrica.
Futuro
É impossível conceber a economia baiana sem o Polo. Sozinho, ele é responsável por 20% do nosso Produto Interno Bruto e 30% das exportações do estado. Para atrair novas empresas, o Governo do Estado, via SDE, conta com um programa de incentivos que tem se mostrado eficaz. Das empresas que estão no âmbito do complexo industrial, mais de 60 são incentivadas, significando um investimento superior a R$ 5,5 bilhões.
As perspectivas são otimistas. É o que pensa Leandro Balena, diretor industrial do Grupo Boticário, empresa que está em Camaçari desde 2014: “A Bahia nos oferece as condições ideais para fazer nossa beleza e distribuí-la com excelência e agilidade para 16 estados brasileiros. Desde que nós decidimos pela construção de uma nova fábrica e um novo centro de distribuição, iniciamos uma conversa com o governo da Bahia e fomos sempre atendidos com muito profissionalismo nas demandas que encaminhamos. Esta sinergia foi muito importante para desenvolvermos nosso negócio e gerar oportunidades para mais de 800 pessoas nas duas unidades operacionais que temos na Bahia”. As informações são da SDE.