A Bahia é um dos estados brasileiros que se destaca no ramo da mineração, com diversos municípios propícios a essa atividade. Em Jacobina, na Chapada Norte, conhecida como a “Cidade do Ouro”, além do minério dourado, mármore, granito, arenito, argila, manganês, ametista e até prata, em menor escala, integram o rol de variedades da região. Em cidades como Campo Formoso, Andorinhas, Pindobaçu, Jaguarari e Caetité é o cromo, o ferro, a esmeralda, o cobre e urânio, respectivamente, que se destacam.
“A mineração existe desde os primórdios da humanidade devido à necessidade de obter fragmentos de rocha para produzir utensílios de caça, defesa do território e construção de abrigos”, explica o atual coordenador do curso técnico da área no Campus Jacobina do Ifba e engenheiro de minas, Jonei Marques. “É possível perceber que a produção de minérios metálicos está presente em quase todos os estados da Federação. Se formos considerar os não metálicos (utilizados em construção civil, agricultura e indústria química), há produção em todos os estados”, pontua Jonei.
No Instituto Federal da Bahia, as formações técnicas integrada e subsequente ao ensino médio de mineração têm um papel de vanguarda no desenvolvimento do setor mineral, explica o coordenador. Os estudantes podem optar pelo trabalho de conclusão de curso (TCC) ou relatório de estágio. “Nossos projetos de pesquisa e extensão dialogam com a comunidade, sobretudo quanto ao cumprimento das normas ambientais, especificamente na redução de rejeitos da mineração”, sinaliza Jonei.
Visitas técnicas, aulas de campo e momentos em laboratórios fazem parte da rotina dos futuros profissionais. No Ifba de Jacobina, há dois laboratórios: tratamento de minérios e geologia, que dispõem de mapas e equipamentos, como bússola; em fase de organização, encontra-se o de lavra de minas. Parcerias com instituições de ensino e empresas, a exemplo da Ferbasa, Yamana Gold, Maracás, Jacoferro e Brastone, também são frequentes.
“Temos relação direta com o Campus Salvador do Ifba, onde está localizado o laboratório de caracterização de rochas e minerais, vinculado ao curso de geologia. Em Jacobina trabalhamos em conjunto com o pessoal do curso de eletromecânica. Ainda temos colaboração de outros institutos e universidades, como as federais da Bahia (UFBA) e do Ceará, o IFRN e a Uneb, tanto no âmbito de análises de pesquisa quanto na utilização de laboratórios para aulas práticas, realização de palestras e minicursos”, elenca a docente Talita Gentil, mestra em geologia.
Tendências
Dados publicados recentemente pela Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM) evidenciam o mineral vanádio, do município de Maracás, como a mais nova tendência de mercado. Segundo Talita, ele integra um grupo de substâncias minerais em alta no comércio por conta do aumento da demanda por carros elétricos em países desenvolvidos.
“A mineração hoje no Brasil é caracterizada como um amparo financeiro e econômico. A atividade representa uma grande fonte de renda e equilibra os índices de crescimento do país em grau bastante significativo. Relaciona-se em maior ou menor grau com os fenômenos sociais, entretanto muito se debate e muitas são as críticas sobre esse tipo de atividade, devido aos impactos ambientais, bem como à exploração indiscriminada que culmina na queda do potencial de produção e acesso a alguns tipos de materiais”, descreve a docente.
A professora ressalta a necessidade de cumprimento dos Pilares da Mineração Ambiental Sustentável, que representa um grupo de ações para exploração de minas e retirada de minérios seguindo um planejamento para incremento da eficiência na concepção dos empreendimentos, em lugar da remediação.
“Mineração e responsabilidade social devem ser desenvolvidas em conjunto. Consolidar uma relação de confiança e de respeito mútuo com as comunidades dos territórios de atuação das empresas, suavizando os impactos negativos causados, é essencial. Ao lado disso, contribuir para o desenvolvimento local por meio da construção de um legado, agindo voluntariamente e em linha com as políticas públicas, é o cenário ideal que, infelizmente, muitos empreendimentos ainda não são adeptos, conforme podemos verificar em várias reportagens apresentadas pela mídia. Apesar de elas apresentarem esse ‘paradigma’ em suas missões, não é o que acontece na realidade”, explica.
Perfil
O/a técnico/a em mineração domina os princípios básicos de atuação múltipla em pesquisa, lavra e tratamento de minerais, articulados às normas técnicas relativas à segurança do trabalho, saúde e ao meio ambiente; elabora, opera, monitora e controla projetos, processos e equipamentos de extração e tratamento, incluindo sondagem, perfuração, amostragem e transporte; auxilia na caracterização de minérios para análises químicas e físicas em laboratório, executando mapeamento de ocorrências e jazidas; monitora a estabilidade de rochas em minas subterrâneas e a céu aberto, elaborando e executando planos de fogo (desmonte de rochas com explosivos), projetos de desmonte, transporte e carregamento; auxilia na elaboração de mapeamento geológico e amostragem em superfície e subsolo, contribuindo com a construção de estradas e extração de água, por exemplo; planeja, executa e gerencia manutenção de instalações e aparelhos do setor mineral, supervisionando os trabalhos de britagem, moagem e concentração de minérios, bem como as operações auxiliares.
Onde atua: órgãos governamentais ligados à atividade de mineração; laboratórios de ensaios físicos e químicos; empresas de mineração e petróleo, consultoria e centros de pesquisa. Duração mínima: 4 anos (integrado) I 1 ano e meio a 2 anos (subsequente). Mateus Cortês, 31, técnico de laboratório de mineração do Campus Jacobina e ex-coordenador do curso, é egresso da instituição na época do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet), no seu estado de origem: Rio Grande do Norte. Ingressante no ensino médio em 2003, ele optou pela carreira técnica em geologia e mineração, mesmo a contragosto do pai, profissional da área, que conhece bem a realidade da profissão: para ele, arriscada e propícia a mudanças constantes para outros estados. “É uma vida um pouco de nômade”, revela Mateus.
Em 2008, com a oportunidade de estagiar em Barra dos Mendes, foi trabalhar no ramo de pesquisa e lavra de diamantes, onde verificava a viabilidade do volume, concentração e qualidade. Também atuou na cidade de Maracás, com geofísica, em empresa atualmente referência mundial na extração de vanádio. Bacharel em educação física e especialista em mineração e meio ambiente, Mateus fez jus à flexibilidade da profissão e foi para o Maranhão trabalhar no ramo do petróleo. “Em 2013, vim para Jacobina. A Yamana Gold foi minha experiência mais rica por ter a oportunidade de trabalhar numa mina subterrânea, com amostragem e mapeamento das galerias, orientando o direcionamento das minas”.
Em seguida, aprovado em concurso do Ifba, contribuiu com a preparação e organização de experimentos no laboratório de mineração, estruturando o espaço recém-inaugurado. Na gestão, enquanto coordenador por quase dois anos, tentou estar mais próximo dos discentes, ouvindo seus anseios e passando as questões aos professores, com o objetivo de tornar as aulas mais práticas, viabilizando, dentre outros, visitas técnicas. Ainda colaborou com a implantação do Conselho de Curso. Atualmente ocupa o cargo de assistente da Direção de Ensino.
Para Eric Pereira, egresso da formação integrada, o Ifba foi um divisor de águas: “O Instituto possibilitou diversas interações com o magnífico mundo da mineração, aguçando ainda mais meu fascínio pelas ciências naturais. Isso tudo somado ao corpo docente com excelentes profissionais e a boa estrutura do campus”, comenta. Estagiário da Yamana Gold no setor de prospecção e exploração, durante um ano, Eric conta que aprendeu funções distintas, como técnicas de amostragem geoquímica, atividades em sondagem perfilagem, geomecânica e banco de dados. “Foi aí que pude aplicar a teoria na prática e desenvolver meu lado profissional na empresa. Além disso, tive contado direto com os trabalhos desempenhados pelos geólogos, por isso o motivo de estar cursando geologia na UFBA atualmente. Conclusão: o Ifba abre portas!”.
Regulamentação
Você sabia que, em março deste ano, foi criado o Conselho Federal dos Técnicos Industriais (Lei nº 13.639/2018)? “Acredito que será importante para os técnicos terem um conselho que os represente, evitando certa discriminação e corporativismo do Sistema Confea/Crea. Os técnicos serão fiscalizados e assessorados por um conselho que será constituído por técnicos industriais. O mais importante é que esta legislação seja respeitada e os profissionais da área possam trabalhar sem perdas de seus direitos legais”, sinaliza a docente Talita. Fique por dentro em www.cft.org.br/tecnicos-industriais. As informações são de assessoria.