O ano de 2019 tem início com uma estatística preocupante – nos primeiros 11 dias de janeiro, 33 mulheres foram vítimas de tentativas de feminicídio, e 16 delas não sobreviveram. Em Salvador, dois casos chamaram a atenção da população. No dia 15, um homem foi preso, suspeito de atropelar a mulher e a filha do casal, de 8 anos, no bairro do Uruguai, em Salvador, crime que teria sido motivado por ciúmes. Já na noite desta quarta-feira, uma mulher de 42 anos foi assassinada a tiros pelo ex-companheiro, que cometeu suicídio em seguida. O aumento dos casos de violência contra a mulher leva ao questionamento sobre o que acontece em uma relação que desencadeia uma tragédia.
Existem quadros de transtornos mentais que podem levar a relações patológicas, destacam especialistas. Segundo a psiquiatra da Holiste, Fabiana Nery, uma das motivações frequentemente apontadas para estes crimes – o ciúme – pode sim ser um quadro patológico. “Ciúme não é essencialmente patológico: é um sentimento universal e normal, desencadeado pela ameaça à estabilidade de um relacionamento pelo qual se preza. Entretanto, em um quadro de ciúme patológico existe um grande desejo de controlar o comportamento e sentimentos do ser amado. Ocorrem sentimentos exagerados e muitas vezes infundados de desconfiança”, aponta Fabiana.
Ela destaca que, no ciúme patológico observa-se o desejo de controle absoluto sobre os comportamentos do/a companheiro/a, associado a diversos sentimentos perturbadores, desproporcionais e absurdos. Esses sentimentos envolvem um medo desproporcional de perder o ente amado, e uma desconfiança excessiva e infundada, gerando significativo prejuízo no relacionamento do casal. Nesses casos, as dúvidas se transformam em certezas e a pessoa é compelida à verificação compulsória de suas desconfianças.
A psiquiatra da Holiste Livia Castelo branco salienta que, nos relacionamentos abusivos, na maioria das vezes, a pessoa agredida não percebe que está vivenciando uma relação perigosa e de que existe ali um quadro de dependência emocional envolvido. “Muitas vezes essas pessoas são funcionais – trabalham, vivem em sociedade normalmente -, mas desenvolvem um quadro de ciúme patológico que se torna um delírio, e então em agressividade, podendo chegar ao assassinato. Também ocorre casos em que a pessoa tem um transtorno de personalidade em que não se tem remorso, então ela faz a outra sofrer e não sente culpa, pode sentir até mesmo prazer nisso”, pontua.
Aumento
As mortes de mulheres em decorrência da violência doméstica ou por discriminação ao gênero têm sido cada vez mais frequentes, apontam as estatísticas. Entre 2016 e 2018, o número de processos abertos baseados nessa tipificação aumentou 51% no país. As informações são de assessoria.
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