Um esquema denunciado em países como Peru, Colômbia, México, Estados Unidos e Espanha por se tratar de mais uma forma de pirâmide financeira está sendo investigado na Bahia. Ele pode ter vários nomes, como Mandala da Prosperidade, Tear dos Sonhos, Mandala Feminina, Fractal, Células de Abundância, Flor da Prosperidade ou Flor da Abundância, mas o golpe é o mesmo e ocorre pelo menos desde 2001. Segundo as informações, o golpe tem sido aplicado em uma região cercada por muito misticismo e considerada um templo ecológico, o Vale do Capão, distrito de Palmeiras, na Chapada Diamantina. Na versão brasileira, também é usado o discurso feminista, do empoderamento feminino, da luta contra o patriarcado, da desvalorização da mulher no mercado de trabalho e até da economia solidária.
A ideologia da Mandala da Prosperidade parece nobre, contudo é baseada em um esquema criminoso que promete multiplicação de lucros às custas do aliciamento de novos membros, feito de forma mais discreta possível. Somente mulheres podem ingressar no processo. As administradoras afirmam que não há investimento, e sim uma doação, um presente para outra mulher. Para fazer parte da mandala, a futura integrante tem que ser convidada por alguém de dentro dela e precisa dar US$ 1.700 (cerca de R$ 5.540 na atual cotação do dólar). É prometido que após várias etapas, a mulher receberá 8 vezes o valor “doado”. Matematicamente é impossível que todas lucrem em um processo que tem crescimento exponencial e é aplicado em uma população finita.
À reportagem, uma moradora do Capão, que preferiu não se identificar, descreve o perfil das mulheres que administram as mandalas. “A quantidade de pessoas envolvidas é bem grande. É bastante homogêneo. Muitas delas, principalmente as que começaram a mandala, aplicam thetahealing, uma técnica de cura energética. Boa parte também faz parte do daime, é envolvida com misticismo, essas coisas de energia, de elementos. Na verdade, com essa onda feminista, essas mulheres se aproveitaram para fazer coisas com outras. Maracutaia vai longe. Inclusive, uma amiga que trabalha em um banco aqui disse que muitas mulheres estão tomando empréstimo no valor de R$ 5 mil”, conta. Ela revelou que as abordagens são feitas de forma direta.
“Agora, estão abordando qualquer mulher que possa ter dinheiro e se meter no empréstimo. Porque chega uma hora que elas precisam de pessoas para colocar dinheiro. Normalmente, recomendam que sejam pessoas próximas, de confiança, acredito que fazem isso para evitar denúncias, elas acabam ficando desesperadas. As primeiras já ganharam, só que as outras mandalas não estão tendo muita facilidade. Elas estão abordando pessoas na rua, por WhatsApp, por e-mail. Já estão fazendo abordagem sem muito rodeio. Ainda mais que aqui é um lugar pequeno”, diz. A reportagem foi convidada por esta moradora do Vale do Capão para entrar em um grupo criado no Facebook com intuito de apoiar mulheres que tiveram prejuízos ou que foram abordadas para ingressar na Mandala da Prosperidade.
“Me convidaram há pouco tempo. A pessoa usou de uma persuasão impressionante e pelo que senti, ela acredita mesmo no potencial do processo. É uma pessoa que eu não tenho o que falar, sempre foi muito correta e honesta em tudo na vida, por este motivo a proposta me balançou por breves momentos. Acho que realmente ela passou por uma lavagem cerebral profunda e quase me leva junto, me falando de todas as bênçãos que se consegue no processo, que algumas mulheres até saem deixando o dinheiro para trás, porque se sentem tão abençoadas que não precisam mais dele. Me falou que minha amiga que perdeu os R$ 5.000 deve ter deixado de cumprir alguma etapa do processo e que podia voltar. Tenho que confessar que fiquei tentada, porque estava precisando muito de grana e só entraria por conta da grana”, relatou. Jornal da Chapada com informações de BNews.