O delegado Giniton Lages, responsável pela condução das investigações dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, não vai mais estar à frente do caso. A informação foi confirmada nesta quarta (13) pelo governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel. Segundo ele, o delegado irá participar de um programa de intercâmbio com a polícia italiana.
“O delegado Giniton não será exonerado. Trabalhou neste caso, acumulou muita informação e nós já estávamos trabalhando em um programa com a Itália e com os Estados Unidos. Como ele está com muita experiência adquirida e nós estamos com o intercâmbio com a Itália para estudar máfia, para estudar os movimentos criminosos ele vai fazer esta troca de experiência com a polícia italiana”, disse o governador.
Witzel esclareceu que o delegado passará quatro meses na Itália para montar um programa de aperfeiçoamento para os delegados fluminenses e também ajudar na criação de um programa para os policiais italianos que virão ao Rio de Janeiro. “Ele não está sendo afastado de nada. Ele encerrou uma fase. Esta nova fase, uma outra autoridade policial pode continuar”, disse Witzel.
Ele ainda não sabe quem irá assumir as investigações naquilo que classificou ser uma nova fase nas investigações do duplo assassinato. “Eu não interfiro na indicação de autoridades policiais. É uma marca do nosso governo. Só tem de fazer funcionar. O que eu me proponho, em algumas situações a fazer, é discutir uma estratégia de investigação pela experiência que eu tenho como juiz criminal, como foi no caso da Marielle”, revelou o governador.
Ele comentou que não vê problemas na troca de comando em uma investigação que já dura um ano, pois o delegado Giniton compartilhou as informações com outros delegados. “Daqui para a frente é uma análise mais de documentos que estão sendo colhidos em buscas e apreensões. Neste momento, você colocar uma outra pessoa que está mentalmente mais tranquilo para continuar, é natural”, concluiu.
Namoro
Aos jornalistas, Giniton confirmou que a filha do sargento reformado da PM, Ronnie Lessa, que efetuou os disparos, namorou o filho mais novo de Jair Bolsonaro. Lessa e Bolsonaro são vizinhos no condomínio Vivendas Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, onde o acusado foi preso.
Em entrevista, Bolsonaro colocou em dúvida o trabalho feito pela polícia e o ministério público na prisão do sargento reformado Ronnie Lessa e do ex-policial Élcio Vieira de Queiroz. “Espero que realmente a apuração tenha chegado de fato a quem foram os executores, se é que foram eles, e a quem mandou matar”.
Surpresa
Giniton Lages está deixando o caso, depois de cumprir o que ele chamou de primeira etapa da investigação, com provas técnicas contra os suspeitos de atirar e outro de dirigir o Cobalt prata usado na emboscada, o delegado irá tirar seis meses de férias. No fim do ano passado, Giniton já havia demonstrado cansaço, mas não havia sinais de que sairia antes de achar o mandante do crime e nem de descobrir a motivação.
Nos corredores da especializada o comentário é de que o fator decisivo para a sua saída foram as diferenças entre ele e o atual diretor do Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa (DGHPP), Antônio Ricardo Lima Nunes. Giniton, entretanto, foi surpreendido pela notícia, e ficou sabendo através da publicação feita na coluna de Lauro Jardim. Giniton, homem de confiança do ex-chefe de Polícia Civil, delegado Rivaldo Barbosa, foi escolhido por ele para ser o titular da DH. Logo de cara, recebeu a incumbência de elucidar o caso Marielle, três dias após o crime.
As reviravoltas durante a investigação causaram um certo desgaste de Giniton, mas ele seguia firme focado no caso. Até que, com a mudança de governo, Antônio Ricardo assume a direção do DGHPP, criado pelo secretário de Polícia Civil, Marcus Vinicius Braga. O pano de fundo para os desentendimentos entre Giniton e Antonio Ricardo foram justamente as investigações do homicídio da parlamentar e do motorista. Para manter sigilo total, o titular da DH só abria o caso para dois investigadores da sua inteira confiança e as duas promotoras do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
O medo de vazamento era grande. Antônio Ricardo, que não escolhera Giniton para o cargo, mas teve que aceitá-lo porque o secretário de Polícia Civil e o governador Wilson Witzel confiavam no trabalho do delegado, não se sentia à vontade em não participar do passo a passo da investigação. Embora fosse o diretor, o seu acesso aos dados do inquérito, inclusive por computador, era bloqueado. A atmosfera ficou pesada entre os dois. Giniton e Antônio Ricardo não se pronunciaram a respeito. As informações são da Agência Brasil, da Revista Fórum e do jornal O Globo. Texto atualizado às 22h41.
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