Carlos Correia Rocha, conhecido como Ferrary, tem 38 anos e é cantor e compositor há 10 anos. Morador de Cajazeiras, sobrevive atualmente como trabalhador de limpeza urbana. O gari é o nosso homenageado desta edição. Pai de três filhos, mantém sua família com dignidade atuando na profissão. Por meio do incentivo e dom herdado de sua mãe, Ferrary tem mais de 20 composições e sonha em montar uma banda e ter um empresário para ajudá-lo a conquistar um espaço na música baiana.
Dentre tantas composições, uma delas foi parar na voz de Xanddy, da Banda Harmonia do Samba. Com isso, Carlos ganhou um pouco mais de notoriedade entre os músicos da Bahia. Uma de suas características na composição é fazer música com a cara do cantor, assim como a canção ‘Que molejo massa’ (https://youtu.be/swKfF5C6d58) desejada pelo grupo Harmonia e gravada com sua participação. Hoje ganha milhares de acessos através das plataformas digitais e reconhecimento fora do estado.
“Sobre a música que gravei com o Harmonia, as pessoas pensam que Xanddy pagou a Ferrary e ele está com dinheiro, mas nada disso aconteceu. Apenas gravei a música com a banda e não ganhei nada. A música não é do Harmonia nem da União Brasileira de Compositores [UBC] a qual sou associado. A música é de minha autoria”, salienta o cantor. Confira a entrevista com Ferrary e conheça mais sobre sua vida.
Você deu a música ao Harmonia do Samba?
Ferrary – Não dei. Xanddy ouviu a música, se interessou e me convidou para gravar, fiz uma participação. Participou da gravação como forma de pagamento. Tive alguns benefícios, mas não tive benefício financeiro.
E por que não teve benefício financeiro?
Ferrary – Muitas pessoas falavam algumas coisas, que fiquei sem jeito de conversar com eles e pensarem que me lançaram, não tinham essa obrigação, e agora estou cobrando dinheiro. Tenho contrato com o Harmonia, mas não li todo na época. O meu nome aparece na composição. A partir do momento que ele pega seu produto e lança tem direito de ganhar. A música que gravei com eles é a ‘Que molejo massa’, foi minha primeira música e lancei nas plataformas digitais. Já está na faixa do CD novo da banda.
O que te levou a atuar como cantor e compositor?
Ferrary – Essa inspiração é de minha mãe, ela cantava e era compositora e segui os passos dela. Ela fazia música e quando eu retornava do trabalho, na época como vendedor de gás, ela me chamava para terminar a composição porque não havia conseguido. E ficávamos cantando até completar. Tinha 16 anos na época. Nessa idade já ajudava ela. E, quando eu estava compondo, ela me ajudava a terminar a música. Minha mãe gastava o que não tinha pelo meu sonho. Já lutou para gravar um CD para mim. Lembro quando me inscrevi para o Programa do Faustão, e tivemos que pagar várias coisas e não tivemos resultado. Fiz um CD para entregar para a produção, mas não tirei cópia. Ficou perdido. O CD tinha cinco músicas autorais. Minha mãe faleceu há sete anos aproximadamente. Foi minha maior incentivadora.
Quantas composições você já produziu?
Ferrary – Mais de 20 composições. Tenho música para Ivete Sangalo, tenho música para o Harmonia. Faço letras direcionadas aos cantores. No dia que fui cantar para Ivete desisti e cantei ‘Que molejo massa’. E Xanddy gostou e fez uma surpresa. Fui chamado para cantar no carnaval no palco da Skol. E Xanddy me convidou para cantar com ele e subi no trio.
Quando você faz show, se apresenta sozinho, como é o processo?
Ferrary – Tenho um tecladista e ele tem outros compromissos, nem sempre ele pode estar comigo. Sempre me dizem que tenho que ter uma banda e um empresário para me ajudar a galgar um lugar na música. Já me inscrevi no Rodrigo Faro e Faustão no passado, mas não fui chamado.
Se alguém quiser contratar o cantor gari, como faz?
Ferrary – No momento estou sem banda e não estou fazendo show, porque dependo do tecladista. Meu sonho é ter banda. É o meu foco no momento para poder tocar minhas músicas e interpretar a de outros artistas. Gosto de Harmonia, Leo Santana, Psirico, algumas levadas sertanejas e samba. O show fica diversificado, mistura para não ficar em um ritmo só.
Nesse processo de ser cantor e atuar como profissional de limpeza urbana, houve algum choque? Já deixou de trabalhar para poder fazer show?
Ferrary – Não! Mas quando Xanddy me chamou no trio fiz um pedido de autorização para poder ir. Nesse período tem a operação carnaval e não poderia deixar de trabalhar.
E o nome ‘Ferrary’, veio de onde?
Ferrary – Por conta da farda de gari, que é vermelha. Eu gostei, achei que combinou e virou meu nome artístico. E é ‘Ferrary, a máquina do tempo’.
No trabalho como gari, qual o horário e lugar que você atua?
Ferrary – Trabalho em Stella Mares, saio às 4h40 da manhã para iniciar meu trabalho às 6h. Às 11h saio para o almoço e retorno às 12h e saio às 14h20.
E sua família?
Ferrary – Moro na casa da minha esposa, somos casados há cinco anos, no bairro da Liberdade em Salvador. Tenho uma enteada de 12 anos e uma filha de 2 anos e a espera de um menino. Minha esposa está grávida de 8 meses. Ela não trabalha e eu que mantenho a família.
Qual importância do Sindilimp para você que é profissional da limpeza urbana?
Ferrary – O sindicato é atuante. Nunca passei por uma situação que precisasse acionar o sindicato, mas sou filiado porque é uma garantia que tenho dos meus direitos. As poucas vezes que estive aqui fui bem recebido o trato aqui é nota dez.
Música ‘Que molejo massa’