Jovens que residem e atuam na Chapada Diamantina tiveram a oportunidade de realizar produções audiovisuais de curta-metragem com o Projeto Transições. Contemplado no Edital Territórios Culturais da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, o projeto tem como um dos objetivos, revelar a diversa realidade da Chapada. O Circuito Transições entrou em sua segunda etapa, de premiação, quando no início de 2019 lançou uma seleção de abrangência territorial. Foi então que os jovens profissionais entre 16 e 29 anos puderam concorrer a quatro prêmios no valor total de R$ 2.500 cada, apresentando propostas de argumentos dentro do conceito proposto.
A ideia do Projeto Transições é apresentar histórias de vidas das comunidades locais de forma artística. Ele é um circuito de produção, premiação e circulação de curtas-metragens que propõe contar histórias de transformação e reinvenção de vidas de pessoas nascidas no território. Para isso, o projeto incentiva o registro documental de realidades diversas, sempre focadas no território e tendo como guia o documentário piloto produzido pela equipe base do projeto e que será exibido na íntegra em 2019, já na etapa de circulação.
O início do Circuito ocorreu no ano passado, quando a equipe base composta pela gestora cultural Renata Reis, a historiadora Luciene Cruz e pelo cineasta Luiz Chaves, percorreu os municípios de Boninal, Itaetê, Seabra e Lençóis para conhecer diferentes realidades locais e como dialogam com o contexto contemporâneo. “Desta viagem, surgiram três personagens fortes – Carol, Mila e Joanita – três mulheres de diferentes gerações que nos oferecem reflexões sobre acesso à universidade, intolerância religiosa e adaptação ao mercado do turismo local”, conta Renata.
Sobre os curtas e os jovens premiados
Uilami Dejan – Lençóis
O jovem lençoense Uilami Dejan conta, através do curta “A luta e o luto quilombola”, conta a história da liderança comunitária Iracema Sacramento e sua história ancestral de luta e permanência na terra da comunidade quilombola da Iúna. Uma história que passa pela luta da terra, do reconhecimento identitário da comunidade, pelas resistências ao racismo e suas estruturas e a ausência de políticas públicas voltadas para as comunidades rurais e quilombolas.
Amanda Guerra – Ibicoara
Amanda Guerra reside na zona rural de Ibicoara, de onde conta a história de Dona Nice, no curta “Estrelas de Maria”. A protagonista aprendeu a tocar e cantar reis com 10 anos de idade, viajando pelos povoados com seus tios. Quando crescida, entendendo que esse era um ambiente exclusivo aos homens, percebeu a injustiça e decidiu, com mais oito mulheres, montar um Terno de Reis feminino e assim foi feito. O curta trará essa resistência ao sistema machista e excludente das culturas populares. Da dificuldade de incentivos financeiros por parte do governo e da invisibilidade por estarem no interior da Bahia.
Larissa Leão – Palmeiras
Larissa Leão traz o curta “Mãos Abundantes”, onde conta a história de Laura e Gilvânia, duas histórias de vida diferentes que se encontram no interior da Bahia. Uma sempre trabalhou e viveu do plantio da roça a outra veio da cidade grande para construir sua identidade de baiana do acarajé e se sustentar. Duas empreendedoras que se encontram nas diferenças e semelhanças que a vida nos coloca e vão contar de forma poética quais são as transições e transformações que sofreram e fizeram nas suas vidas.
Jéssica Sueli – Vila de Igatu – Andaraí
O quarto curta premiado vem da vila de Igatu, município de Andaraí. Em “Chicão – Arteologia do garimpo” Jéssica Sueli conta a história de vida de Chicão, ex-garimpeiro que teve que se reinventar quando o garimpo foi proibido, migrando sua atividade econômica para um bar na comunidade, onde é conhecido como “o único dono de bar que não bebe” e utiliza os conhecimentos em artefatos de porcelana e plantas, aprendidos quando criança.
Circulação
A etapa de circulação do Circuito está prevista para este ano e a data ainda está em negociação com o apoiador do projeto. Os curtas estão em produção e as cidades selecionadas para assistir todo o material produzido são Novo Horizonte, Wagner, Itaetê, Bonito e Marcionílio Souza. “Já temos convites para exibir os curtas em outros lugares e queremos que os temas abordados alcancem o maior público possível, contribuindo para fortalecer o audiovisual como condutor de reflexões em sintonia com a realidade contemporânea e local”, complementa Renata. Jornal da Chapada com informações de Guia Chapada Diamantina.