O casal Luciano Gonçalves e Mariângela Ribeiro, que tem um sebo no interior do Rio de Janeiro, descobriu este ano que estava sendo processado pelo bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus. A informação é que eles foram acionados judicialmente por conta de uma placa que o casal colocou em frente à sua loja em 2017. Na vitrine do pequeno sebo em uma rua discreta na cidade de Resende, o casal havia colocado um banner que convidava a entrar racistas, machistas e homofóbicos, dizendo que ali era uma casa de cultura e inteligência que poderia ajudá-los. A placa também convidava a entrar pessoas que não consideram a obra de Jair Bolsonaro, Silas Malafaia e Edir Macedo uma vergonha para a humanidade.
“Sempre tivemos uma pegada mais de esquerda. A ideia era ser algo divertido”, conta Luciano. “A gente acha que um sebo é diferente de uma farmácia ou outra loja que simplesmente vende produtos. Nós trabalhamos com ideias. E algumas a gente gostaria de ver multiplicadas mais do que outras”, disse. O banner ficou um longo tempo na frente da loja, e uma foto dele começou a circular na internet. Até que, nas eleições de 2018, quando Bolsonaro venceu a corrida à Presidência, uma foto do banner viralizou, foi compartilhada milhares de vezes e acabou chegando até Edir Macedo.
Seus advogados mandaram uma notificação extrajudicial pedindo para que Mariângela retirasse o banner. O casal resolveu acatar o pedido e retirou a faixa da frente da loja, mesmo acreditando que afixar aquele banner era algo que estava dentro do seu direito à liberdade de expressão. “Nunca tinha tido nenhum tipo de conflito na Justiça. Então, eu fiquei bastante assustada com a notificação, mesmo sendo extrajudicial (ou seja, sendo apenas um ‘pedido’, sem envolvimento da Justiça)”, conta Mariângela.
Mais
O bispo não se deu por satisfeito e entrou com uma ação de danos morais contra Mariângela, que, juridicamente, é a dona do espaço. Na ação, o bispo pede que o sebo faça uma nota se retratando com a mesma visibilidade da placa original e pede indenização de R$ 25 mil. Na ação, Macedo acusa Mariângela de danos morais e de cometer discriminação religiosa.
“Não estamos discriminando ninguém, muito pelo contrário, estamos convidando as pessoas a entrarem”, diz Luciano. “E em nenhum momento citamos a religião no banner”, diz ele, que oferece em seu sebo diversos livros religiosos, incluindo de líderes evangélicos. “Minha crítica é à obra dele, uma opinião que eu tenho todo o direito de ter. Não estou xingando a pessoa dele nem falando mal da religião.”
Resposta
“O tamanho da ofensa não pode ser medido pela importância do ofendido”, disse, em nota, a assessoria de imprensa de Edir Macedo, perguntada sobre o possível dano que uma placa em frente a um sebo no interior do Rio de Janeiro pode causar a um líder religioso tão conhecido.
O texto da Unicom também afirma que a eventual indenização por danos morais será doada a uma entidade filantrópica, “a Associação Brasileira de Assistência e Desenvolvimento Social (ABADS), que presta auxílio a pessoas com deficiência intelectual, desde 1952”. A entidade tem parcerias com o braço social da TV Record, que pertence a Edir Macedo. Jornal da Chapada com informações da BBC Brasil.