No mês de junho, o Parque Nacional da Chapada Diamantina (PNCD) começou a confecção de aceiros negros, que é uma técnica de prevenção e combate a incêndios, para proteger locais sensíveis ao fogo, como nascentes, matas ciliares e florestas. A primeira experiência foi realizada nos Gerais do Rio Preto e Vieira, locais com alta incidência de incêndios florestais. Os aceiros são faixas com pouca, ou sem vegetação, cujo objetivo é formar uma barreira natural e impedir a propagação de incêndios, protegendo áreas onde a taxa de mortalidade das plantas é alta e com menor capacidade de recuperação.
“Optamos pelos aceiros negros, que são confeccionados com a utilização de fogo, por apresentar várias vantagens em relação a limpeza feita com foices e enxadas”, destaca Luiz Coslope, gerente do fogo do PNCD. A primeira delas é que nos aceiros negros a rebrota do capim ocorre rapidamente, ficando praticamente imperceptível aos visitantes. Além disso, minimiza os solos expostos e as erosões, que são comuns em aceiros feitos com ferramentas. A utilização do fogo também aumenta muito a capacidade de execução. “Levaria muito mais tempo e esforço para confeccionar um aceiro do tamanho necessário para barrar os incêndios”, explica Coslope.
Estão sendo feitas faixas que possuem, em média, 50 metros de largura e somadas possuem 9 km de comprimento, totalizando uma área de 40 hectares. Até o final do mês de julho, se as condições climáticas forem favoráveis, ainda serão realizados outros aceiros próximos a BR 242. O objetivo é criar uma rede de aceiros interligados para diminuir a ocorrência e a extensão dos incêndios no final da estação seca, facilitando o seu monitoramento e controle.
Condições ideias
A escolha do lugar e da época para a confecção dos aceiros é imprescindível para o seu sucesso e para minimizar o seu impacto. Por isso, foram eleitas áreas de campo limpo, onde a vegetação é resistente ao fogo e as plantas não morrem após a passagem dele. Também estão sendo feitos em dias com alta umidade da vegetação e do ar, baixas temperaturas e pouco vento, o que proporciona um fogo de baixa intensidade, que não mata arbustos e outras plantas mais sensíveis.
Pesquisa, prevenção e combate
De acordo com a chefe do PNCD, Marcela de Marins, nas ações de prevenção e combate é necessário atacar em várias frentes, “nenhuma ação é capaz de dar conta de tudo sozinha”, ressalta. “Por isso, estamos testando mais uma ferramenta para adicioná-la às já utilizadas, como monitoramento nos mirantes, rondas, retirada de gado e muares das áreas queimadas e fiscalização”.
“Os aceiros negros são utilizados com sucesso em várias Unidades de Conservação e tem o amparo de diversas pesquisas científicas. Neste ano, nossa intenção é avaliar se a ferramenta é efetiva no Parque Nacional da Chapada Diamantina”, afirma Marcela. Nesta ação, o PNCD contará com o apoio de pesquisadores da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), que irão levantar dados para subsidiar a gestão na decisão de adotá-los ou não como ação definitiva e qual a periodicidade que poderá ser realizado.
“A pesquisa irá medir a eficiência dos aceiros através de imagens de satélite, onde será verificado se eles conseguiram, efetivamente, inibir a propagação de grandes incêndios. Também serão acompanhados a evolução do ambiente após a queima, como o tempo que a vegetação levará para se regenerar e o impacto do fogo na qualidade do solo, da água e na vida da fauna aquática”, afirma Everton Poelking, professor de engenharia florestal da UFRB.
Conciliação
A decisão de realizar aceiros na região dos Gerais do Vieira e Rio Preto ocorreu em acordo entre a gestão do PNCD e os moradores do Vale do Pati. No primeiro semestre de 2018, o ICMBio embargou todas as áreas incendiadas criminosamente na unidade, proibindo a sua utilização como pasto para permitir a recuperação da vegetação no local – considerada de grande relevância ecológica por abrigar diversas nascentes.
Os aceiros negros permitem conciliar os interesses da Unidade de Conservação e dos moradores, pois, ao mesmo tempo que previnem grandes incêndios, serão utilizados pelos patizeiros como pasto para suas mulas, que são necessárias para manutenção do modo de vida local. Estas áreas vão rebrotar e fornecer capim novo para os animais na época mais seca. As informações são do ICMBio.
Veja imagens da ação na Chapada Diamantina