Uma palestra do jornalista Glenn Greenwald, editor do site The Intercept Brasil, foi interrompida diversas vezes por uma manifestação de pessoas em apoio ao ministro da Justiça, Sergio Moro. Os manifestantes pararam após uma intervenção da polícia, mas logo voltaram com o som alto, laser e rojões. O ato foi convocado nas redes sociais por apoiadores da Lava-Jato contra a presença de Glenn na Flip, pois seu site tem publicado diálogos atribuídos a procuradores da operação e ao ex-juiz Moro.
A partir das 19h, o grupo localizado no mesmo cais do barco da Flipei passou a tocar som alto e soltar fogos de artifício. Na trilha sonora estavam o Hino Nacional, em versão oficial e remix, “Detalhes”, de Roberto Carlos e “Pavão misterioso” – @pavaomisterioso é um perfil no Twitter que afirma ter prints comprometedores de jornalistas do Intercept e de políticos do PSOL – partido do marido de Glenn, o deputado federal David Miranda.
Som ouvido na praça
O som chegava até a tenda principal da Flip, na Praça da Matriz. A última mesa do dia, “Vaza-Barris”, reuniu o intelectual indígena Ailton Krenak, autor de “Ideias para adiar o fim do mundo” (Companhia das Letras) e o dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, do Teatro Oficina. Krenak começou aludindo ao protesto contra a participação do jornalista Glenn Greenwald na programação paralela da Flip, que acontecia perto da Tenda dos Autores.
Após uma intervenção da polícia, o som do protesto foi cortado e Greenwald pode iniciar a palestra às 19h30. O tema eram os desafios do jornalismo em tempos de divisão política e o poder da informação e também os diálogos publicados no site, que tem sido chamados de “Vaza-Jato”. Ao iniciar sua fala, o jornalista teve novamente como trilha sonora involuntária o Hino Nacional. Apesar do policiamento no local, os manifestantes contra Glenn jogam rojões em direção ao público.
O cheiro de pólvora queimada era muito forte. Um dos rojões acertou uma árvore, que pegou fogo. O princípio de incêndio foi logo apagado pela equipe de apoio da Flipei. Durante toda a fala, Glenn enfrentou dificuldades para ser ouvido pelo público que lotava o cais – é um dos eventos com maior participação da Flip, na programação oficial e alternativa. Apesar do barulho que dificulta ouvir o palestrante, o público esteve animado e se manifestou com gritos de “fascistas não passarão” e “Marielle presente”.
Às 20h35, no momento em que criticou o juiz Sérgio Moro, Glenn foi ovacionado. Às 20h45, quando foram permitidas perguntas da plateia, uma moradora de Paraty disse emocionada: “Eles não representam a cidade”. A palestra encerrou-se por volta das 21h20 sob aplausos e gritos de “Juiz ladrão / Moro na prisão”.
Flip diz não ser responsável; PM vê normalidade; prefeitura não se manifesta
O som dos fogos pode ser ouvido da tenda principal da Flip, onde atrapalha a performance da artista portuguesa Grada Kilomba. Procurada pela reportagem, a Flip disse, através sua assessoria, que não irá se manifestar sobre o ocorrido no momento.
“A Flip informa que não é responsável pela programação realizada em espaços parceiros durante a Festa Literária. Essas programações são construídas de forma autônoma e não necessariamente refletem a opinião da Flip. Os organizadores da Festa Literária não se vêem no papel de desautorizar manifestações que por ventura ocorram no seu território, contanto que as mesmas não contenham teor ofensivo ou discriminatório”.
A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ) informou que o efetivo policial foi reforçado para o evento. E que o Batalhão de Choque está presente na cidade. Segundo o Comandante da 3a Companhia da Paraty, Renan Loschiavo, a manifestação aconteceu dentro do proposto pelo grupo, com início às 17h e término às 20h30. “A Polícia Militar acompanhou e, até o momento, não temos registro de nenhuma ocorrência. Não podemos proibir as pessoas de se manifestarem”, afirmou Loschiavo. Jornal da Chapada com as informações de O Globo.
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