A reportagem da revista Veja confirmou que a ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) foi a pessoa que colocou Walter Delgatti Neto, suspeito de hackear celulares de autoridades, em contato com o jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept Brasil, que publicou conversas entre integrantes da força-tarefa da Operação Lava-Jato e o atual ministro da Justiça, Sergio Moro. Delgatti, conhecido como ‘Vermelho’, um dos presos pela Operação Spoofing, também afirmou que não editou as mensagens de membros da Lava Jato antes de repassá-las ao Intercept.
Ele disse acreditar que não é possível fazer a edição das mensagens do Telegram em razão do formato utilizado pelo aplicativo. Procurado pela Veja, Greenwald não quis comentar o depoimento em que Delgatti Neto citou o nome de Manuela – em 2018, ela foi candidata a vice-presidente na chapa encabeçada por Fernando Haddad (PT). O jornalista afirmou que não daria informações que pudessem identificar o intermediário sem que tivesse uma autorização prévia.
O responsável pelo Intercept se limitou a dizer que a pessoa responsável pela intermediação é de esquerda, tem formação em jornalismo e não exerce a profissão. Manuela é formada em jornalismo. Na última quinta (25), Greenwald afirmou para o site da Revista Veja que um intermediário indicou o seu nome ao homem que se apresentou como hacker. Ele reiterou não saber a identidade de sua fonte.
Greenwald também havia dito a Veja que teve acesso aos diálogos no início de maio. Em depoimento, Delgatti confirma que procurou Manuela no domingo em que se celebrou o Dia das Mães deste ano, no dia 12 daquele mês. O primeiro contato com o jornalista, segundo Delgatti, ocorreu neste mesmo dia.
Manuela confirma
Em nota divulgada à imprensa, a ex-deputada confirmou que passou o contato de Glenn Greenwald a alguém que dizia ter “obtido provas de graves atos ilícitos praticados por autoridades brasileiras”. A ex-parlamentar relatou ter sido comunicada pelo Telegram de uma invasão em seu aplicativo, no dia 12 de maio. Depois, alguém entrou em contato, dizendo estar no exterior, e com a intenção de divulgar o material coletado.
Manuela afirmou estar sendo alvo de armadilha montada por seus adversários. “Por isso, apesar de ser jornalista e por estar apta a produzir matérias com sigilo de fonte, repassei ao invasor do meu celular o contato do reconhecido e renomado jornalista investigativo Glenn Greenwald”.
Na nota, Manuela informa que desconhece a identidade do invasor de seu celular. “Estou, por isso, orientando os meus advogados a procederem a imediata entrega das cópias das mensagens que recebi pelo aplicativo Telegram à Polícia Federal”, informou.
Leia a íntegra da nota:
NOTA À IMPRENSA
Tomando ciência, pela imprensa, de alusões feitas ao meu nome na investigação de fatos divulgados pelo “The Intercept Brasil”, e por me encontrar no exterior em atividades programadas desde o início do corrente ano, esclareço que:
1. No dia 12 de maio, fui comunicada pelo aplicativo Telegram de que, naquele mesmo dia, meu dispositivo havia sido invadido no Estado da Virginia, Estados Unidos. Minutos depois, pelo mesmo aplicativo, recebi mensagem de pessoa que, inicialmente, se identificou como alguém inserido na minha lista de contatos para, a seguir, afirmar que não era quem eu supunha que fosse, mas que era alguém que tinha obtido provas de graves atos ilícitos praticados por autoridades brasileiras. Sem se identificar, mas dizendo morar no exterior, afirmou que queria divulgar o material por ele coletado para o bem do país, sem falar ou insinuar que pretendia receber pagamento ou vantagem de qualquer natureza.
2. Pela invasão do meu celular e pelas mensagens enviadas, imaginei que se tratasse de alguma armadilha montada por meus adversários políticos. Por isso, apesar de ser jornalista e por estar apta a produzir matérias com sigilo de fonte, repassei ao invasor do meu celular o contato do reconhecido e renomado jornalista investigativo Glenn Greenwald.
3. Desconheço, portanto, a identidade de quem invadiu meu celular, e desde já, me coloco a inteira disposição para auxiliar no esclarecimento dos fatos em apuração. Estou, por isso, orientando os meus advogados a procederem a imediata entrega das cópias das mensagens que recebi pelo aplicativo Telegram à Polícia Federal, bem como a formalmente informarem, a quem de direito, que estou à disposição para prestar quaisquer esclarecimentos sobre o ocorrido e para apresentar meu aparelho celular à exame pericial. As informações são da Revista Veja.