No Ponto de Entrevista desta semana, a conversa foi com o prefeito de Lençóis, Marcos Airton Alves Araújo, o popular Marcão (PRB). Marcão cumpre seu segundo mandato, ele foi prefeito no período de 2009 a 2012. E, apesar de ter sido o mais bem votado na eleição municipal de 2016, Marcão só foi empossado no cargo depois de seis meses de espera por conta de equívocos judiciais. Assumindo um município sucateado, em momento conturbado, o gestor vem se dedicando à arrumação da máquina administrativa, visando colocar Lençóis no rumo do desenvolvimento, resgatando projetos da outra gestão, já que o município foi penalizado por conta de administrações retrógradas, de pouca visão administrativa.
Com a metodologia dos prefeitos do futuro, Marcão enfrenta dificuldades para impor uma administração moderna e planejada para elevar a cidade ao patamar de grande destino turístico mundial. Os problemas são muitos em um município pequeno, cujo a renda não cobre as despesas da população nativa. Esses problemas dobram em locais como Lençóis, que tem alta população flutuante, resultante do vai e vem ocasionado pelo turismo ecológico e histórico, esse último, impulsionado agora neste mandato de Marcão.
Nesse bate-papo com o Jornal da Chapada, realizado em Itaberaba, durante a eleição do presidente do Conselho Regional de Saúde, o prefeito de Lençóis fala de sua administração, do turismo e da política, visando a reeleição no pleito de outubro e 2020. Leia e confira a entrevista abaixo.
Jornal da Chapada – Prefeito Marcão, recentemente as chuvas causaram destruição em Lençóis, o que foi feito para reconstruir os locais atingidos?
Marcos Airton – A gente primeiro tem que agradecer a Deus por não ter causado nenhuma vítima fatal, mas várias pessoas ficaram desalojadas. Estamos fazendo a nossa parte. Sabemos que a Defesa Civil em nível estadual e federal lida com deficiências por falta de orçamento. E, por conta disso, temos que fazer o que nos compete administrativamente e chamar por Deus. Em abril recuperamos algumas ruas, e agora essa tromba d’água acaba com tudo que foi feito. Mas estamos tentando recuperar tudo que foi danificado.
JC – O senhor pode listar algumas das obras em andamento hoje em Lençóis?
Marcão – Antes quero dizer que temos atuado em todas as áreas. Na saúde, por exemplo, destacamos o trabalho da secretária Caroline Cavalcante que mantém uma casa de apoio aos nossos pacientes em Salvador. Colocamos a disposição da saúde cinco carros novos, adquirimos duas vans para os pacientes do Tratamento Fora do Domicílio [o TFD]. Estamos melhorando a saúde, inclusive com nossa adesão ao Consórcio Municipal que vai administrar a Policlínica – que será implantada pelo Governo do Estado em Itaberaba. Claro que ainda há muito a se fazer, já que saúde pública em municípios com as demandas de Lençóis nunca será 100%, mas estamos fazendo a nossa parte.
Na educação, estamos aplicando o dinheiro dos precatórios do Fundeb e estamos recuperando 11 escolas, fizemos poços artesianos em todas as unidades escolares, faremos poços em todos os povoados também. E têm algumas obras da gestão anterior, de pavimentação, que estamos concluindo com a Caixa Econômica Federal. Vamos inaugurar na segunda quinzena de agosto o Ginásio de Esportes do povoado de Riachão, que hoje é um cartão postal do município. Além disso, estamos recuperando todas as estradas da zona rural, ou seja, mesmo com as dificuldades políticas estamos conseguindo avançar. E agora criamos um canal para que os cidadãos possam saber tudo sobre essas obras e também possam fazer todas as perguntas que quiserem. É o programa Fala Prefeito, onde toda segunda-feira eu falo ao vivo no Facebook.
JC – Quem são os representantes políticos de Lençóis na Assembleia Legislativa da Bahia e no Congresso Nacional?
Marcão – Nossa administração conta com o apoio do deputado federal Zé Neto (PT), que é muito forte, contamos com a defesa de Dal (PT) e do deputado estadual Tiago Correia (PSDB) na Assembleia Legislativa da Bahia e temos o apoio do deputado federal Adolfo Viana (PSDB). Aí as pessoas perguntam: ‘Por quê, Marcão, apoiar políticos de direita e de esquerda? Fica parecendo uma biruta de aeroporto’. Vou aproveitar para informar. É porque se não fosse o apoio dessas pessoas, hoje eu não seria o prefeito de Lençóis, não se trata de preferência pela direita ou pela esquerda, e sim, gratidão àqueles que nos apoiaram quando quiseram tomar o mandato que o povo nos deu nas urnas. Não é porque é do PT ou do PSDB, eu vejo a pessoa, não o partido. Eu apoio Zé Neto pelo que ele fez. Apoio Adolfo Viana pelo que ele fez. Dal pelo que ele fez. Isso, repito, se chama gratidão.
JC – Sabemos que uma administração municipal hoje precisa de apoio político para avançar, já que muitas não têm recursos para fazer grandes obras com recursos próprios. Qual a situação política de Lençóis hoje?
Marcão – Graças a Deus os nossos deputados, que foram eleitos desde o primeiro ano de mandato, colocaram algumas emendas. E em nível estadual realmente é um processo diferente, já que nossos deputados foram eleitos agora e suas emendas são para o próximo ano. Então eles têm essa dificuldade em nos ajudar. Para reconstruir Lençóis temos procurado fazer o que preconiza a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), ou seja, gerando receitas próprias por meios das cobranças de quase R$2 milhões de dívida ativa com a União e a gente tá indo para cima desses devedores para poder tentar recuperar o que a prefeitura perde de Imposto Territorial Urbano (IPTU) de loteamento irregulares.
Estamos também atualizando o Código Tributário do Município, que está defasado há 14 anos, pela taxa Selic [Sistema Especial de Liquidação e Custódia – taxa básica de juros da economia]. Já mandamos um novo Código aperfeiçoado para a Câmara Municipal de Vereadores, mas infelizmente está lá há dois anos e não foi aprovado. Criamos também a implantação da Taxa de Turismo, que não tem sido abraçada pelos empresários, que não querem fazer a cobrança do turista no check-in e no check-out. Para corrigir esse impasse, vamos conseguir uma emenda no ano que vem para fazer um Pórtico na Entrada da Cidade para fazer a abordagem e a cobrança dessa taxa diretamente do turista.
JC – Falando em Câmara, como está o seu relacionamento com a Câmara de Vereadores?
Marcão – Depois que Gilmar, o popular ‘Galo’, tomou posse, nossa administração tem avançado bastante. Ele prometeu ajudar o município de Lençóis, independentemente de ser adversário político. E assim tem procedido, por exemplo, todos os projetos nossos que lá estão empatados ele está desempatando em favor da comunidade de Lençóis, não do prefeito. O que demonstra sua responsabilidade como legislador e defensor do povo. Inclusive, ele assegurou que iria colocar para votação, agora no segundo semestre, o Código Tributário.
O que já está mais que na hora, para corrigirmos a defasagem que é muito grande. Que será do povo se o próprio município não conseguir gerar seus recursos próprios? Só nos resta aguardarmos o resultado, pois se dependermos só da boa vontade de governador e do presidente fica difícil. Ou seja, nossa esperança de melhoras está na cobrança da Taxa de Turismo e na atualização do Código Tributário. Com eles o município pode arrecadar entre R$200 mil e R$300 mil por mês. Recursos que serão usados para servir ao povo.
JC – Marcão, o Jornal da Chapada não pode encontrar um prefeito e deixar de lhe fazer essa pergunta: O senhor vai para a reeleição em 2020?
Marcão – Com certeza. Não tem nada que nos impeça de concorrer à reeleição. A gente sabe que a reeleição não é fácil, porque a gente não tem postura de político. Eu sou gestor, me considero como um gerente de cidades e a gente sabe que para tomar decisões em uma comunidade, a gente arranha muitas pessoas egoístas, que só pensam no clientelismo. Infelizmente não vamos nos abster de tomar certas decisões para poder ficar pleiteando o voto.
Entretanto, vejo que nossa postura administrativa vem aos poucos mudando a cabeça do povo que hoje já admite que Lençóis está no caminho certo, ou seja, já temos uma cidade bem diferente. Limpa, toda podada, disciplinada, melhoramos a segurança pública com o pelotão da polícia em Tanquinho. Então, acabou aquela esculhambação, a quantidade de assassinato que estava acontecendo lá por falta de segurança pública. Graças a Deus os munícipes hoje têm tranquilidade.
A gente está avançando também com esporte. A gente apoia as modalidades de ciclismo, corrida rústica, e temos também feito campeonato de futebol de salão e agora nossa seleção está inclusa na Copa Chapada Forte. Esses eventos esportivos, além de incentivar a prática do esporte eleva o nome do nosso município. Para você ter uma ideia, da carência do povo nessa área, Lençóis passou cinco anos sem nenhuma atividade esportiva no município.
JC – E o governo do estado? O governador Rui Costa fez alguma coisa por Lençóis?
Marcão – Nada substancial, mas tem nos ajudado. Quero do governador agora a resolução imediata do problema do Aeroporto Horácio de Matos. Vocês têm acompanhado os problemas que a falta de uma Carta de Aproximação tem causado ao trade turístico de toda Chapada Diamantina. Só esse mês dois aviões não aterrissaram em Lençóis por falta de visibilidade na pista. E a competência para resolver esse problema é exclusiva do Governo do Estado.
Se tivéssemos recursos nós mesmos resolveríamos. Mas Lençóis é uma cidade com arrecadação de 0.8. Sua receita não dá para nada. É mais fácil você administrar uma cidade 0.6 com 9 mil habitantes do que uma cidade como Lençóis, 0.8, com 12 mil habitantes e a população flutuante de quase 30 mil. Lençóis é uma cidade complexa em que o mundo está ali dentro. Eu acho que o governo deveria ter uma visão maior em relação a Lençóis, uma cidade que tem hoje 106 hotéis e construindo mais. 210 casas de aluguel, mais de 5 mil leitos.
No nosso calendário existem festas grandes como o São João, Réveillon, Bom Jesus dos Passos, Festival de Inverno, enfim, eventos que atraem pessoas do mundo todo. A gente precisa fazer uma promoção de eventos em Lençóis e o município sozinho não tem condições de fazer e não tem capacidade orçamentária para isso, inclusive o governo federal precisa dar mais visibilidade a Lençóis. Nesse pacote que o governo federal lançou a Chapada Diamantina ficou de fora.
Eu estava indo ao evento do ministro do Turismo em Capitólio, Minas Gerais, mas adoeci e mandei o representante Hamilton Néri, diretor da ADH Brasil e consultor da organização turística em Lençóis. Néri com sua experiência na área percebeu que a cidade de Capitólio, onde aconteceu o evento, é uma cidade que o turismo despontou há três anos e não tem a infraestrutura que tem Lençóis. Tem cinco hotéis, três táxis, não tem nem banco e mesmo assim, fizeram um evento para mais de mil pessoas. Eu acho isso uma realidade totalmente estranha ao que nós temos aqui na Chapada Diamantina para oferecer ao turista tanto interna como externamente.
JC – Prefeito, qual sua percepção, desde que assumiu o segundo mandato, com relação a importância do turismo no município de Lençóis e da Chapada Diamantina?
Marcão – O turismo para o município de Lençóis tem uma importância estratégica. É uma importância econômica. O turismo hoje representa mais de 90% da economia do município. Portanto, nós precisamos, enquanto cidade, ter todo um trabalho, uma preocupação, para melhor atender o turista. Porque ele é a razão de ser da existência de todo o destino turístico.
Minha administração tem uma preocupação muito séria e correta para olhar o turismo de forma estratégica, pois o município vive exclusivamente deste setor. Portanto, temos que estar preparados como um todo, uma integração de governo, empresas do trade turístico e da comunidade para que juntos e unidos tenhamos um turismo mais atraente, de melhor visibilidade e mais divulgado, não só na Bahia, como no Brasil e no mundo. É um esforço muito grande que a administração municipal está fazendo. Inclusive, não podemos deixar de citar que o trabalho da secretaria de Turismo Roberta Ferraz tem tido um grande desempenho.
JC – O que tem sido feito na sua administração de forma pontual, ou imediata, que dê evidência que o turismo é estratégico?
Marcão – A primeira providência na nossa administração foi perceber que precisávamos de ajuda com um olhar de uma instituição que tivesse uma metodologia que possibilitasse integração e aí nós localizamos a Agência de Desenvolvimento Humano, a ADH Brasil, cuja gestão está a cargo de Hamilton Néri, que conheci no salão do Turismo em 2010 por conta do projeto do ciclo histórico do café, quando estava apresentando o show ‘Senzala, Dança e Café’, que é uma síntese das manifestações culturais de uma região no país.
Achei muito bonito, me aproximei, me ‘inteirei’. Depois fui tomando conhecimento, percebi que a ADH Brasil tem uma história. Fez projeto em Búzios, Rio de Janeiro, consolidando e ajudando na presença de mais brasileiros em Búzios. Tem projeto no Rio Grande do Norte, Brasília. Portanto, na medida que ia me envolvendo fui percebendo que a ADH Brasil e Hamilton Néri atendiam a nossa necessidade. Até porque, nos foi apresentada a metodologia da ADH Brasil, que envolve quatro fases.
Primeiro uma pesquisa de percepção turística, uma segunda com seminários que dialoga com a comunidade e trade turístico. Tem os encontros setoriais, que são processos de capacitação empresarial e gerencial, que estão sendo implementados. Já foram 15 reuniões realizadas de um total de mais de 20. Estamos na fase três, portanto. Essa é a contribuição. A ADH Brasil tem esse papel de articular, de mobilizar, de ajudar na comunicação do turismo do município para o Brasil e para o mundo. E estamos satisfeitos com o resultado que estamos colhendo neste primeiro ano de trabalho.
A gente está com o ano de conclusão e, agora, 27 de julho, foi a comemoração de um ano do primeiro seminário de políticas públicas de Lençóis. Na época trouxemos o secretário de turismo do estado José Alves, trouxemos o Senac São Paulo, com Jorge Duarte, que é um especialista em regionalização do turismo, o Sebrae da Bahia, que tem feito abordagem do associativismo. Foi um belo evento, de 10 horas de duração que marcou uma virada, um repensar o turismo de Lençóis.
A gente está caminhando nesse sentido. A gente tem toda uma abordagem para trabalhar comportamentos. Lençóis é uma cidade muito dividida e essa questão comportamental é primordial. É preciso a compreensão que turismo é estratégico e se faz com todos juntos. E estamos obtendo isso da consultoria e, consequentemente, da minha gestão.
JC – Falando em renda per capita, notei que o senhor andou criticando os recursos recebidos por Lençóis destinados à alimentação escolar. Fale um pouco sobre isso.
Marcão – Na verdade, quando o governo federal mostra aquele valor astronômico de merenda escolar, qualquer brasileiro vê aquele valor em bilhões, e o analfabeto político faz a comparação logo com o salário mínimo, que é o salário que ele sobrevive. Mas essa realidade é totalmente distorcida, porque a maior parte da verba quem complementa é o município, com recursos próprios. Graças a Deus a gente não tem esse problema em Lençóis. A merenda escolar é de primeira qualidade. A gente manda comprar os melhores itens, inclusive somos atendidos pela cooperativa em Irecê e agricultura familiar, porque a gente avança estimulando cada vez mais o pequeno produtor.
JC – O que Lençóis pode esperar da sua gestão para o próximo ano?
Marcão – Eu só peço para as pessoas paciência e confiança. Porque nenhuma gestão tem condições de arrumar o município, principalmente o nosso, que vem degradado de muitos anos. Iniciamos nesse mandato uma gestão administrativa, estamos arrumando a casa, precisamos dar mais tempo para mostrar os resultados. No outro mandato foi assim, iniciamos um modelo administrativo, aí perdemos a reeleição, e voltou um modelo político e administrativo que destruiu tudo que iniciamos.
Na nossa última gestão deixamos 11 carros e hoje já compramos 18 veículos, recuperamos a frota, inclusive a do PAC2. São pá carregadeira, retroescavadeira, patrol e caçambas. Hoje o município está começando a caminhar. Não podemos retroagir para o modelo retrógrado e clientelista de administrar. O povo precisa de gerente, de investimentos no coletivo e não nos apadrinhados políticos. Não vou dizer que a gente vai conseguir fazer tudo, principalmente nessa situação econômica pela qual o país vem atravessando.
Mas aos poucos a gente vai chegando e o que precisamos é de confiança. Precisamos também, conscientizar o povo de Lençóis a investir em capacitação, as pessoas precisam fazer pelo menos um curso do Senac, que tem na cidade e está ocioso. As pessoas, às vezes, querem que as coisas caiam do céu, mas esse período de esperar as coisas caírem do céu acabou. Se as pessoas não tiverem especialização elas não terão mais espaço na prefeitura para poder conseguir emprego. Sem falar, que a prefeitura não pode gerar duas mil vagas para dar empregos para todos.
Jornal da Chapada