MAV. A não ser que você seja da área da saúde, é bem provável que você nunca tenha ouvido falar nessa palavra, sigla para malformação arteriovenosa. Condição rara – com menos de 150 mil casos, ao ano, no Brasil – a doença costuma ser encontrada, fortuitamente, em exames de imagem de rotina.
Um dos poucos sintomas específicos da MAV é a dor de cabeça, assim como na maioria das doenças neurológicas. E, justamente pelas diversas possibilidades de diagnóstico, a estudante de enfermagem Thais Silva Medeiros, de 22 anos, passou quase uma década sendo medicada para transtorno de ansiedade e estresse.
“Eu sentia dores de cabeça e tontura desde os 12 anos e, mesmo após fazer ressonância e tomografia, o médico não encontrava nada. Ele dizia que eu tinha problema de ansiedade e estresse e, então, passou medicamentos para controlar isso. Fiquei anos tomando remédios para ansiedade, mas as dores de cabeça não passavam”, conta Thaís, que vive no município de Una, próximo a Ilhéus.
Foi no aniversário da estudante que tudo mudou, conforme lembra ela: “em dezembro de 2017, quando eu estava fazendo 21 anos, eu senti uma dor de cabeça como nunca havia sentido antes, acompanhada de dor na nuca. Sentei no chão, chorei e implorei para me levarem ao hospital, pois sabia que alguma coisa estava errada. A partir desse momento, perdi, temporariamente, a memória e não me lembro de mais nada do que ocorreu”.
Thais foi transferida, naquele mesmo dia, para Ilhéus, onde realizou uma arteriografia e descobriu que havia nascido com malformação arteriovenosa. Com o diagnóstico fechado, ela precisou ser transferida novamente. Dessa vez, para Salvador.
“Cheguei ao Hospital Roberto Santos no dia 25 de dezembro de 2017, onde fiquei internada na UTI [unidade de terapia intensiva] até o dia 4 de janeiro e, posteriormente, na enfermaria, totalizando quase três meses de internação. Tive duas hemorragias na enfermaria, fiquei mal, e só consegui passar pela cirurgia no dia 22 de fevereiro de 2018”, recorda.
Thais é um caso bem-sucedido de paciente com MAV. Se recuperou rapidamente da cirurgia, não sente mais dores de cabeça e, em consulta de revisão, já recebeu a confirmação de que está curada. A jovem, agora, está na reta final do curso de enfermagem e retomou às atividades físicas.
Ela sabe, no entanto, que o mesmo não acontece com todos os pacientes. Durante o tempo em que ficou internada, viu pessoas que tiveram um lado do corpo paralisado e com dificuldade para ler e escrever. Isso porque, a depender da MAV, pode ocorrer déficit neurológico.
“Quando a MAV está em alguma área importante do cérebro, há risco de afetar a fala ou o movimento de algum membro. Cabe ressaltar, entretanto, que a dor de cabeça não, necessariamente, está relacionada à doença. Muitas pessoas com MAV não sentem dor de cabeça”, afirma Leonardo Avellar, chefe da neurocirurgia do Hospital Geral Roberto Santos e médico responsável pela cirurgia de Thais.
As malformações arteriovenosas, de acordo com ele, surgem por um desvio do desenvolvimento normal dos vasos do sistema nervoso. “Uma anomalia faz com que haja uma comunicação direta entre as veias e as artérias”, explica o neurocirurgião.
As malformações arteriovenosas são avaliadas de forma multidisciplinar, ou seja, por um grupo de médicos. Assim, neurocirurgião, radiologista intervencionista e radioterapeuta analisam o caso para decidir, junto com o paciente, o melhor tratamento, levando em conta, também, o grau da MAV.
I Simpósio Multidisciplinar de MAV cerebral da Bahia
Com a proposta de apresentar uma visão contemporânea das especialidades envolvidas no tratamento da malformação arteriovenosa, o Hospital Geral Roberto Santos (HGRS), em Salvador, realizará o I Simpósio Multidisciplinar de MAV cerebral da Bahia.
O evento, que está programado para acontecer no dia 31 de agosto, contará com palestras de profissionais da neurocirurgia, cirurgia endovascular e radioterapia. A programação completa estará disponível, em breve, no endereço http://ensinoepesquisahgrs.blogspot.com. As informações são de assessoria.