A terceira temporada da série “13 Reasons Why” estreou recentemente na Netflix dando novos desdobramentos ao debate sobre saúde mental entre jovens e adolescentes. A proposta inicial de promover uma discussão sobre bullying, depressão e suicídio ganhou novas nuances, quando, recentemente, a cena do suicídio da protagonista Hannah foi retirada da primeira temporada. Conforme a plataforma, a decisão foi tomada por aconselhamento de profissionais da área da saúde.
Ampliar o debate sobre suicídio e saúde mental para jovens e adolescentes – que são justamente o público mais afetado pelo problema – é visto como fundamental por especialistas. Quando uma obra de ficção se propõe a essa discussão, os resultados podem trazer benefícios, mas é preciso cuidado na abordagem.
Essa é a opinião do psiquiatra da Holiste, Victor Pablo da Silveira, ao destacar a importância de evitar a romantização do tema, o que pode gerar fenômenos de inspiração como o fenômeno Werther – nome que dá referência ao livro Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Johann Wolfgang von Goethe, e que indica um pico de tentativas de suicídio depois de um caso amplamente divulgado.
“Geralmente a retificação de uma obra de arte para fins epidemiológicos é tardia, pois a constatação de ‘conteúdo sensível’ se dá geralmente após sua publicação. Mas não existe geralmente um conflito entre a segurança sanitária da população e a liberdade criativa. O mais apropriado em casos assim seria seguir protocolo semelhante ao recomendado a imprensa pela OMS quando trata do assunto suicídio”, opina Victor.
Embora o assunto seja delicado, é preciso falar sobre ele. Existem indicativos que o debate social sobre suicídio contribui para a prevenção do problema, como relata o psiquiatra. “A população juvenil entre 15 e 29 anos é a faixa etária mais atingida pelo suicídio. Em países que promoveram campanhas de prevenção os índices de tentativas e atos consumados caíram. No Brasil, a campanha do Setembro Amarelo só deu início em 2013”, observa Victor.
O psiquiatra do Núcleo Infanto-juvenil da Holiste, Mateus Freire, pontua que assistir a uma cena de suicídio em uma obra de ficção não é necessariamente um gatilho para uma pessoa cometer suicídio. No caso da série “13 Reasons Why”, ele avalia que a cena era problemática por mostrar riqueza de detalhes de um ato suicida com alto grau de letalidade. Isso porque, com a difusão de informações pela internet, mídia e redes sociais, muitas crianças e adolescentes podem reproduzir certas ações e condutas sem uma fonte de informação adequada e confiável. Porém, o especialista afirma que o tema precisa ser debatido em sociedade.
“É um assunto que precisa ser discutido, uma vez que sua transformação em tabu, por vezes, é o que faz as pessoas que vivem essa experiência procurar ajuda. Em filmes e séries é muito importante que o suicídio não seja retratado de forma sensacionalista, ou que deixe de ser explorada a relação entre suicídio e problemas de saúde mental, suas causas e consequências”, alerta.
Sinal amarelo
Se é difícil para adultos procurar ajuda quando o assunto é suicídio, adolescentes e crianças enfrentam ainda mais dificuldades para expressar seus sentimentos e compreender que algo pode estar errado.
“Crianças e adolescentes com pensamentos suicidas nem sempre conseguirão falar espontaneamente sobre eles com sua família ou amigos. Percebendo que há algo errado com o jovem, será preciso perguntar diretamente sobre a existência desses pensamentos. A pessoa precisa ser escutada de forma acolhedora e sem julgamentos, e deve-se sempre procurar um profissional especializado quando o assunto suicídio se fizer presente. Falar pode ser o início de um caminho que afaste o jovem de transformar esses pensamentos em ações”, esclarece Mateus.
Comportamentos como mudanças no humor, isolamento, irritação excessiva e queda súbita do aproveitamento escolar, podem ser indicativos de transtornos mentais entre os jovens, segundo Victor Pablo. Pais, familiares e amigos devem ficar atentos também para queda no interesse por atividades que antes lhe davam prazer, alteração do apetite, alteração do padrão de sono anterior e falas com conteúdo mais mórbido ou pessimista.
“Nesses estados o risco pode ser potencializado se os indivíduos possuem um temperamento originalmente impulsivo ou explosivo, ou se estão ocorrendo mudanças de vida, lutos, enfrentamentos de adversidades ou problemas com álcool e substâncias psicoativas”, complementa Victor. As informações são de assessoria.