Os partidos de esquerda abrigam hoje menos de um terço dos atuais deputados federais. O principal deles, o PT, deixou de governar o país há mais de três anos. Seu principal líder, Luiz Inácio Lula da Silva, está encarcerado em uma cela da Polícia Federal de Curitiba há mais de 500 dias. Na iconografia dos 513 gabinetes da Câmara, porém, a imagem da oposição a Jair Bolsonaro (PSL) não parece tão decadente. No mundo dos cartazes e adesivos que passaram a decorar a porta de entrada de boa parte das salas dos parlamentares, o cenário é até de goleada.
O ‘Lula livre’, movimento que defende soltura do ex-presidente, está grudado na porta de 40 gabinetes. São fotos e representações gráficas do petista com o slogan padrão e variações, como “Lula, preso político” e “Lula, inocente”. O PT é a maior bancada da Casa, com 54 cadeiras, apenas uma a mais que o PSL de Bolsonaro, que tem 53. Apesar do equilíbrio, apenas cinco gabinetes peselistas têm, em suas fachadas, fotos ou menções ao presidente. No mundo dos simbolismos, há aí um possível estudo de caso. Até o ano passado, o último de seus 28 anos como deputado federal, Bolsonaro era um dos principais adeptos do costume de abarrotar as fachadas de vidro do gabinete com cartazes e mensagens políticas.
As portas de vidro de seu gabinete eram tomadas por eles —a maioria deles com mensagens que se tornaram motes em sua campanha, entre elas uma que ironizava a busca pelos desaparecidos da Guerrilha do Araguaia (“Quem procura osso é cachorro”). Um dos que fugiram à regra e seguiram —mesmo que discretamente —o estilo do presidente é Hélio Negão (PSL-RJ). Ele colou uma das imagens de campanha do mandatário na entrada de seu gabinete.
Outra é Carla Zambelli (PSL-SP), que ocupa o gabinete que era de Bolsonaro e instalou, na entrada, a imitação de uma placa de via pública: “Gabinete Jair Bolsonaro: 28 anos nessa Casa oprimindo a esquerda.” Nenhum dos gabinetes de parlamentares que oficialmente representam o governo traziam, pelo menos até o final do mês passado, imagens do presidente na fachada. O de Joice Hasselmann (PSL-SP), líder do governo no Congresso, tinha apenas um pequeno adesivo de apoio à Lava Jato e um cartaz favorável à reforma da Previdência. No de Major Vitor Hugo (PSL-GO), líder do governo na Câmara, não havia nada. Leia mais na Folha de S.Paulo.